quarta-feira, 28 de abril de 2010

GRANDES MALES, REMÉDIOS ESTRAGADOS.


Nestes 36º ano do 25 de Abril é preciso dizer que muitos milhões de portugueses foram atingidos por cinzas de chumbo que lhes taparam os olhares: uns deixaram de ver quase tudo o que acontece, e, outros cristalizaram-se em posições dogmáticas que esquecem que os grandes males atingem aqueles que são realmente povo desfavorecido, de quem já Eça de Queiroz falava, no século XIX, independentemente do partido, em que votam ou não.

Os descamisados, os sem abrigo, milhões de abstencionistas são povo, povo meu irmão, amo-os e queria vê-los de regresso à cidadania. Não os acuso, sofrem e são vítimas destes grandes males.

Muitos portugueses estão surdos à voz do amor e da razão, muitos não ouvem absolutamente nada mais, para além do seu egoísmo e das suas auto-convicções, alimentadas por mentalistas dogmáticos e velhos nas suas mezinhas e nas suas ideias.

A revolução das atitudes exige verdade e luta pela dignidade de todos, sobretudo daqueles que favorecem os seus exploradores. Comportamento que só podem ter por um falso sentimento de segurança que aqueles lhes garantem , contra a insegurança percepcionada em alguns discursos que pela sua desrealização, demagogia e oportunismo afastam, todos quantos da grande abastança desconfiam. Todos têm uma noção bem realista do país que somos.

Não nos será possível criar um paraíso consumista de ricos improdutivos. As benesses do orçamento de estado e os vencimentos imorais de milhões de euros só serão para muito poucos. Vergonha nacional que, apesar, discursos piedosos e pastosos, tanto aqui, como na Suazilândia ou no Afeganistão, são tolerados pelos poderes, porque esses lugares esperam os titulares, em exercício.

Sem verem por entre as nuvens de cinzas, sem ouvirem outras vozes que não a dos donos das almas, os portugueses, consentem que quase tudo aconteça, sem grandes problemas, até um dia de grande e grave impaciência.

Na Madeira a muita água apagou os erros graves do jardinismo, e nem sequer leva a que as pessoas se choquem com as exageradas e fictícias encenações entre o jardinismo e o Socratismo.

Apoiar os Madeirenses é um imperativo ético, alinhar na propaganda do jardinismo é um erro. Se é de louvar a limpeza da cidade do Funchal, não pode ser aceite que os dramas das pessoas fiquem para trás.

Quando o governo regional diz que espera que as pessoas afectadas resolvam os seus problemas com as seguradoras, está adiar para o fim dos tempos as soluções. Os conflitos com as seguradoras nunca têm fim à vista.

É também por toda esta falta de coluna vertebral que aceitamos que um administrador ganhe milhares de euros dia, quando por falta de segurança nos equipamentos dessa empresa – a EDP – morreu por estes dias um adolescente electrocutado em Maceira, e 1500 pessoas, numa freguesia de Oeste, ficaram sem luz, durante o Natal.

Ainda é este estado de alma que afecta toda a Europa que permite que estejamos a ser governados, os países e as instituições, por pessoas pastosas que falam , falam do acessório, e não fazem frente aos especuladores que querem derrubar os países, para executarem o plano da chinização europeia e mundial, no sentido de a todos submeter a uma ditadura Universal dos Banqueiros. Ditadura com o objectivo de nos conduzir a uma sociedade dicotómica de indivíduos muito ricos e uma faixa enorme de andrajosos que para sobreviverem têm de aceitar a supressão de direitos e salários de mera subsistência.

Penso que não é preciso um novo 25 de Abril - o que seria, como, com quem etc esse novo 25 de Abril? - mas é preciso sim, mobilizar todo o povo para as novas tarefas, sem excluir ninguém, nenhuma mulher ou homem do povo e os seus aliados. É preciso combater os inimigos do povo, mas também os que sendo dogmáticos não o amam.

É urgente falar verdade, não pode ter eco na alma do povo a bazófia dos heróis de pacotilha que tendo asfixiado a cidadania que nasceu com o 25 de Abril, porque às ordens da CIA, Kissinger& Carlucci era preciso combater a conquista do poder, em Portugal, pelo PCP, querem, agora, ser arautos de nova aurora. Desconfio dessa gentalha, querem é estar sempre na crista da onda, para quantas as vezes que for necessário traírem o Povo, e defenderem os seus interesses.

Neste Portugal com a existência de colunas vertebrais tão dobráveis, é um muito mau sinal, para milhões de portugueses, a aliança entre PS e PSD, mas também é negativo que o bloco de esquerda, quer porque é mais voluntarista, quer porque goza da simpatia da Comunicação social, nomeadamente do Público e da TVI, e, sobretudo da TVI24, apareça, como o grande protagonista das soluções à esquerda. Não o é, e o povo português, assim, o percepciona, e, este
excesso de narcisismo, pode impedir as convergências de esforços necessárias, para evitar o desastre.

As lutas populares e sociais serão muito importantes, mas se não tiverem por suporte um projecto politico de dignificação da politica e da restauração de uma democracia politica, económica e social avançada, serão actos de resistência fundamentais, mas como todas as lutas anteriormente travadas, servirão para isso mesmo, travar os ímpetos de escravização dos poderosos, mas não lhes tirará as alavancas do poder, que continuarão a comandar, para realizarem os seus desígnios: A CHINIZAÇÂO DO MUNDO, SOB A BATUTA DOS BANQUEIROS E DO CAPITAL FINANCEIRO.

andrade da silva

PS:

A
quem estiver disponível

Continuo a viver a dura experiência que outros viveram e sobreviveram, e tornaram-se grandes pessoas na sua sensibilidade e na defesa de causas justas, como é o caso de uma grande Senhora, a Maria José Gama.

É muito difícil ver a nossa mãe, o nosso pai, outra pessoa condenados a uma vida meramente vegetativa, sem qualquer interacção com o mundo. Deste ponto de vista a vida não é nada de bom, nem justa. Porque penaliza com mais uma doença, quem já tinha uma doença degenerativa e irreversível, Alzheimer, porquê ?....

Também vivo a dificuldade das diásporas. Viver numa continuidade espacial, do Algarve ao Minho, permite a uma pessoa deslocar-se e apoiar outrem, sem movimentar todo o centro da sua vida, de um lado para o outro. Nas descontinuidades territoriais e nas longas distâncias já não é assim , toda a vida se desloca com o individuo.

6 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Caro Companheiro, Amigos, Leitores

A distância tem este poder estranho de nos aproximar (quando não anestesiados)
de realidades concretas. Afastados do desenrolar idêntico de cada dia, a verdade surge impetuosa e clara. Porque talvez longe de outras vozes, ouvimos erguer-se do silêncio a poderosa voz da nossa consciência.
A realidade portuguesa é trágica, porque Portugal nunca deixou de ser o parente pobre duma Europa poderosa e também corrupta.Num mundo que aponta por valor supremo, não o ser-humano, mas a conta bancária!
Agudizam-se todo o tipo de contradições! A globalização alcança assim seus objectivos, dominando vontades, através dum obscurantismo informativo. As noticias silenciam realidades ou deformam-nas.
Quem do povo de Portugal, além duma classe média que também ela descai socialmente, tem acesso à leitura de jornais estrangeiros, que permitam a comparação e observar as contradições entre a mesma notícia, mas saída de fontes diferentes.
Quem d'entre o povo desfavorecido, tem computador e acesso à Internet de forma a procurar informações, estatísticas, e tentar assim clarificar o que quem nos informa (talvez sob pressão) mantém num segredo que protege conveniências dos financeiros, do patronato, da banca nacional e internacional?
Assim o povo de olhos vendados tem dificuldade em separar o trigo do joio!
São precisas de urgência sessões de esclarecimento até à mais pequena aldeia
é urgente que todas as pessoas que amam Portugal e o povo a que pertencem se mobilizem, intervenham com discursos claros, sem frases feitas nem chavões, para que o povo possa em posse de dados concretos analisar a realidade e organizar-se adequadamente de forma a poder intervir na vida política, social e económica de modo a transformar positivamente o curso dos acontecimentos.
Que em cada aldeia, cada lugarejo, cada cidade, se oiçam vozes honestas, que defendem Portugal e os interesses de quem trabalha, de maneira clara, límpida e completa!
Para que o Futuro volte rapidamente a Abril e a todos os direitos essenciais a uma vida sadia, alegre, autêntica e fraterna!
De pé todos unidos, todos os que querem o bem e a prosperidade do País
que os viu nascer, que lhes deu a língua que falam, para que as verdades sejam ditas.
abraço
Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Caro Companheiro Andrade da Silva

agradecia que explicitasse a sua frase da última parte do seu post: A quem estiver disponível

disponível para quê? disponibilidade para um amigo arranja-se sempre, seja em que condições for, mas para quê precisamente?
Para que lhe possa responder é preciso que me diga em que precisa de ajuda... não tenho nenhuma especialização no caso que o aflige.Mas se é alguma coisa ao meu alcance pode contar comigo. Estou sempre presente para os amigos.
Se quer que lhe fale da dor que senti em circunstâncias semelhantes, o que tenho são poemas meus que estão no meu blogue, um feito quando meu pai morreu, longe do solo Pátrio que tanto amava e outro à minha querida avozinha de quem tenho tantas saudades!
Mas não sei se é o que pretende!
Durante bastante tempo depois de perder meu pai, tinha a sensação de vê-lo nas pessoas que de longe se iam aproximando. Dediquei a meu pai todas as subidas aos palcos nos tempos que se seguiram e até quando comia alguma coisa de que ele gostava mais tudo daria para dividir com ele o que estava a comer.
Lei da vida ou não, o facto é que são momentos muito dolorosos, que somente o tempo vai ensinando a gerir.Mas a saudade e a falta, o vazio que quem amamos deixa nunca se extingue
um grande abraço meu amigo e muita coragem
Marília Gonçalves

aqui encontra os poemas assim como referências inevitáveis ao 25 de Abril de 1974

http://nossaspoesiaslibertarias.blogspot.com/

Marília Gonçalves disse...

Para os filhos e filhas de eis presos políticos
à Amiga Isabel Pestana


Se soubesses o que é

para a criança

ver o pai

ao pé dum carcereiro

a saber que o pai

apenas ali está por amor

que tem ao mundo inteiro!

Se soubesses o que é para a criança

ver o pai ao pé dum carcereiro...


Marília Gonçalves

Jerónimo Sardinha disse...

Caro Andrade da Silva,

Sempre disponível, para ti, para os ideais, para as lutas que tenham consistência, para a frente unida contra o que ocorre neste país e com este povo.
Discordo de ti num ponto, mas isso também o sabes.
Não vamos lá sem um 26 de Abril, sendo que desta vez, dos cravos só teremos o vermelho e não haverá tropa. Já não é de confiança, nem está disponível. Sabes do que falo.

Depois das notícias de ontem, da aliança de hoje, esperada desde a subida do "novo menino guerreiro" ao trono e das notícias de confirmação da hecatombe social, do fim da tarde, penso que estão afastadas outras hipóteses e se começa a abrir o tempo e o espaço para uma forte convulsão social.
Poderei estar enganado, mas os ventos que sopram da Europa, mormente de Espanha, parecem-me trazer esse presságio.

O Drama porque passas, compreendo-o.
Já o vivi. Duplamente, como te está a ocorrer agora.
Nada se pode fazer para minorar tal dor nem tal sensação.
Só a certeza de que os teus Amigos, impotentes para o facto, continuam a gostar de ti e a apoiar-te, esperando que a tormenta passe e seja breve.

Quanto às dores sociais, a elas voltaremos.

Aquieta o teu espírito, serena a tua impotência e aguarda tranquilamente o curso ininterrupto da natureza. Não diminui a dor, mas a compreensão ajuda a minorar o sofrimento latente.

Grande e Solidário Abraço,
Jerónimo Sardinha

GiaSantos disse...

Caro Amigo, desculpe a ousadia mas é o termo que mais prezo, que o amor que vos une ajude a amenizar a doença da vossa mãe, essencial para a provação por que estão passando.
Estou disponível para tudo o que seja em prol do povo e dos ideais que levam a festejar o 25 de Abril, como lhe disse no Face:
Desde que me conheço sempre fui da oposição, provavelmente é algo que me está no sangue como no de qualquer alentejano que não seja herdeiro de latifundiário, conquanto os latifundiários de hoje sejam maioritariamente os filhos dos feitores de então.
Relembro com saudade a luta por melhores condições de trabalho no tempo da “outra senhora”, trabalhava então na central de correios no Terreiro do Paço, também as corridas à frente da polícia como no aniversário da morte de Ribeiro Santos em manifestação realizada no Rossio em Lisboa, quando em Março de 1973 mais uma vez tivemos que correr ao toque de caixa dos nossos policiais “protectores” só por ter ousado ir ao coliseu para ouvir, o Zeca, o Adriano e tantos outros que atreviam-se a cantar o que lhes ia na alma.
Seria inconsciente? Tinha a inconsciência da minha geração, da juventude que sonhava com a libertação dos povos que estava farta de ver partir para a guerra os seus irmãos, familiares e amigos.
Se naquela altura não respeitava minimamente os nossos opressores e esbirros, hoje respeito todas as opiniões, entendo quem tem tachos chorudos esteja determinado em mantê-los, mas isso não quer dizer que os defenda, não foi isso que tanta juventude imolada sonhou.
O que mais me fere é a mentalidade dos que gerem os partidos políticos deste belo País, e não abro nenhuma excepção por muito que isso fira a sensibilidade de alguns, no governo, nas autarquias e empresas públicas quem não esteja filiado no partido dominante está feito, pode concorrer à vontade aos lugares disponíveis, mas apenas para os seus parceiros, a competência e a formação não tem qualquer valor o que importa é mesmo o cartão do partido.
No tempo da outra senhora costumava-se dizer que tínhamos que arranjar cunha maior que a base de D. Afonso em Viseu, mas hoje qualquer cacique local coloca a família toda onde quer, se não existe vaga cria-se uma e o resto do Zé Povinho que se dane.
Não foi nisto que acreditamos quando de deu o 25 de Abril e quando livremente festejamos 1º de Maio em 1974 em Portugal.
GIA (Luzia)

andrade da silva disse...

Caro Jerónimo

Não creio que haja quem mais deseje a realização completa do 25 de Abril, tinha 23 anos quando entrei nessa aventura, 25 no 25 de Abril, 26/27 quando em 1976/77 fui preso por dois anos. 26 anos quando quiseram que com alentejanos armados de caçadeiras defendesse o 25 de Abril em 26/ 27 Novembro 75, fui contactado para isso por Pinto de Sá de montemor, já o disse e continua a passar despercebido, mas já me tinham dito antes que o PCP considerava que o 25 de Novembro era uma derrota da esquerda militar e que nada faria.

Vivi a revolução e dela fiz parte no alentejo, estive no centro do vulcão, mobilizei povo do PCP e do PS para lutas vitoriosas, tive uma cooperativa com o meu nome, fui mandado para a Madeira em 76 para ser morto pela Flama, logo para mim não existe a retórica, mas por tudo isto sei que o que é mais dificil é continuar abril, falarei disso logo que possa.

Caras Amigas e amigos

A disponibilidade de que falo, e conheço bem a vossa,refere-se aos dos eventuais leitores, outros que não vocês minhas caras e caros amigos para se possível compreenderem o que é estar a viver paredes meias com alguém que é um vivo-morto, e olharem em seu redor e verem, quanto drama existe, nomeadamente num hospital perto das nossas casas com os idosos com enfermidades várias abandonados pelas suas familias.

Quanto a mim sei que posso contar com a vossa diponibilidade, mas era à global para todos a que me estava a referir.

Obviamente que este blogue nada pode, poucos o lêem e poucos têm qualquer tempo para fazerem o que deve ser feito, por isto e por muito mais caro Jeronimo as coisas e a história são muito, muito complexas, logo temos de fazer o que deve ser feito agora, o resto virá quando houver as condições objectivas e subjectivas, como aliás tão claramente e neste caso, com tanto acerto e continuada actualidade Marx falava.