Portugal foi até ao séc XXI uma construção abnegada de heróis, de povo anónimo, de soldados, tanoeiros, marias da fonte, navegadores, poetas que morreram de fome, gente do povo sem eira, nem beira, mas que amavam Portugal e construíam Obra visível, implantada no terreno.
Os portugueses metiam-se em Caravelas e iam por aí abaixo, tinham um desígnio: com muito esforço estabelecer Portugal por essas terras.
Eu próprio sou produto desta gesta, primeiro para existir, como madeirense, encontraram, acharam ou descobriram a Madeira, depois, para ser filho de quem sou, houve um militar de Loivo que se deslocou à Madeira e encantou-se pela Maria da Conceição, minha mãe, de cujo amor nasci eu e as minhas irmãs. Levamos cerca de 17 a 20 anos até estarmos construídos, logo, muito ardor e trabalho.
Comerciamos, fizemos guerras, plantamos novas espécie de árvores, abrimos caminhos, construimos igrejas e outros monumentos, colonizamos, prendemos heróis africanos - o Gugunhana- matamos outros heróis africanos e asiáticos, mas também de Timor a Angola, passando pela Índia e por Moçambique, fizemos escolas, hospitais , barragens, empresas e vias de comunicação, numa palavra, fizemos vasta obra.
Pensava eu que isto era o orgulho da Pátria, a honra de sermos portugueses, mas hoje quando oiço dizer que morremos como individuos longe da Pátria, porque perdemos um jogo de 90 minutos, sem feridos e sem mortes e só com um cartão vermelho, como se esta tragédia, voltasse a ser um novo Alcácer Quibir, que no meu curso de promoção a major, um meu camarada declarou,como o fim de Portugal, fico atónito e sinto-me marciano.
Se já achava um exagero a afirmação do meu camarada, agora, com este novo Alcácer, morro de estupidez, fastio, ou melhor, colapso cardíaco e mental.
O país, Portugal, como até ao século XXI, precisa é de obras, desenvolvimento, fábricas, empregos, cultura, saúde, ginástica e também futebol.
Nada mais fácil para entreter uma criança que uma bola de futebol. A criança vai atrás da bola, o pai dá uns chutos, a mãe, fica ao lado, e é pena, e eis que, assim, se arranjou facilmente um espaço de convívio e desenvolvimento físico, bom para o corpo e para espirito.Viva a Bola.
Fazer do futebol a razão primeira e última das nossas vidas colectiva e individual, só pode acabar numa depressão bipolar: hipomania nas vitórias, depressão endógena nas derrotas. Tudo por falta da real visão das coisas: um jogo de futebol é um belo entretimento: jogue o Benfica com o Porto, jogue a selecção de Portugal com a do Brasil, Espanha ou Alemanha e nada, absolutamente nada, justifica que não seja assim.
Obviamente, que louvo que se vivam as emoções do jogo. Saudar e alegrar-se com as vitórias, mas não esperar destas o que elas não podem dar, nova força aos portugueses para reerguerem Portugal. Portugal só pode renascer com todos os portugueses a trabalharem para o desenvolvimento, a justiça e o progresso.
Fazer do futebol o que ele não é, nem nunca poderá ser, é um mero fazer de conta, um desviar de atenções e um provincianismo que parece que, nem na Coreia do Norte, o querido líder - ditador - pratica.
Reconstruir Portugal é uma tarefa bem mais imperativa, e não passa pelos futebóis, estes, os da selecção e pior o dos políticos.
andrade da silva
2 comentários:
AMIGOS
Tudo pelo Futuro, um Mundo para as Crianças
que a "bola" seja um jogo entre outros, entre crianças, ou desenvolvendo o convívio entre gerações, seria... exactamente o que não é!
Um repugnante e mesquinho jogo de interesses, onde se compram e vendem jogadores ( pessoas) como se de mercadoria se tratasse.
Os preços atingidos nesta vergonhosa troca de mercadorias, é um insulto a quem s vê privado de trabalho e de tudo o que é essencial! Afinal para porcaria aparece sempre dinheiro...
por isso o meu Viva a derrota de Portugal neste campeonato, enquanto o desporto for o que é!
ENQUANTO SE FECHAM E TENTAM FECHAR ESCOLAS E HOSPITAIS
estou sinceramente farta desse amor pátrio que apenas se manifesta num hectare de terreno onde uma pobre bola serve de pretexto aos mais sujos conluios!
mas aqui fica um outro lado da Bola
e que neste espírito todo o desporto se desenvolva
Marília Gonçalves
Os Putos
Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo
Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.
Ary dos Santos
Marilia
Concordo, falamos de escravos vendidos a peso e diamantes.
Oh o Ary e aquelas chutos, e aquelas bolas e aqueles brinquedos criativos... Os tempos, os tempos...
abraço
asilva
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