segunda-feira, 26 de julho de 2010

Homem, Abre os Olhos


Homem, Abre os Olhos e Verás

Homem,
abre os olhos e verás
em cada outro homem um irmão.

Homem,
as paixões que te consomem
não são boas nem más.
São a tua condição.

A paz,
porém, só a terás
quando o pão que os outros comem,
homem,
for igual ao teu pão.

Armindo Rodrigues

4 comentários:

Anónimo disse...

IBERDADE

Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.

É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues

Marília Gonçalves disse...

Armindo Rodrigues - evocação de um Poeta quase esquecido

http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=96&doc=8216&mid=2

Anónimo disse...

OS HUMILHADOS

(Sobre uma pintura de Rogério Ribeiro)



Os humilhados
vêm do centro de uma dor insuportável.

Pedem que o pintor lhes dê um rosto
um perfil de estátua grega
ou apenas que transforme as rugas ancestrais
em bandeiras
ou lençóis
de uma noite de noivado.

Os humilhados
trazem nos dedos
memórias de todos os ofícios.

Sabem a que cheira o jornal acabado de imprimir.
Dobram ferro.
Apanham azeitonas.
Arrancam constelações
do seio quente da terra.

Os humilhados
vêm dos becos mais fundos dos bairros cinzentos.

Atravessam as ruas da pintura
ou melhor
da liberdade.

Pedem a bênção da cor.

Querem ser belos.
Deuses.
Querem ser um furacão.

Dizem: nós somos o furacão.
Tocamos o metal e fazemos uma flauta.
O nosso cântico ressoa na penumbra
mesmo quando a pátria nos esquece.

Dizem: nós somos os danados da terra.
Trazemos o corpo inclinado ao desenho breve
e comovido
das papoilas.


DE "Marinheiro de outras luas", a publicar

zé fanha.

a d´almeida nunes disse...

Já depois de ter transcrito este tão simbólico como actual poema no meu blogue, vim dar com este "post".

Estamos sintonizados, o que, aliás, nos tempos que correm, como nos tempos em que este poema foi escrito, não será de espantar!

Um poeta esquecidíssimo, sem dúvida.

António Nunes