quinta-feira, 21 de outubro de 2010

AH Capitão! Por nosso Abril!


A GUERRA DE ÁFRICA: DOR E SILÊNCIO

João Serra, Inês Marília, amigas e amigos Leitores

Dediquei os meus dois últimos anos, acompanhado de uma grande equipa de mulheres e homens extraordinários, militares e civis, jovens, ainda, ao estudo da Deficiência no seio dos cidadãos portugueses por causa da guerra colonial.

Vou apresentar os resultados desse estudo no dia 3 de Novembro, no Instituto Superior de Tecnologias Avançada, com o título: FERIDAS DE GERRA: (IN)JUSTÇA SILENCIADA.

É um trabalho científico inédito e esmagador, na sua verdade objectiva, sem qualquer coloração política. Fala da realidade dos factos na sua crueza, não aborda os dramas individuais e colectivo, mas deles deixa os sintomas.

A guerra colonial envolveu cerca de um milhão de homens que tinham uma mãe e um pai, e irmãos, que depois se casaram, tiveram filhos e netos, isto é, a guerra tocou directa ou indirectamente quase todos os portugueses, e, ainda, chega com dor à casa de 15 a 25 mil famílias ou mais, onde, há gente com feridas da guerra e que estarão entre nós, alguns, os mais resistentes, até 2035.

Depois de 2035 os veteranos desta Guerra, longa guerra de mais de 14 anos, só finalizada pelo 25 de Abril 74, estarão frios e em “descansar armas e à-vontade” para todo o sempre, no seu último Quartel, onde, já jazem muitos.

Durante a guerra foram cerca de 6000 mortes do contingente nacional e outros milhares de militares africanos das Forças Armadas Portuguesas, a que se juntam muitos outros milhares de africanos da população e dos combatentes das Forças de Libertação. Choramos as mortes e as desgraças de todos em uníssono.

É urgente fazer a Justiça que ainda é possível e imperativa a todos, e, sobretudo, prevenir o FUTURO, ao que de, um modo essencial, moral e patriótico se destina este estudo.

Também participei nesta guerra e contra ela me pronunciei, aos 24 anos de idade, em Novembro 1972, a partir da Damba, em Angola.

Em 1973 participo activamente no movimento de capitães, e no 25 de Abril 1974 com 25 anos, tomo parte modesta, mas determinada no Movimento das Forças Armadas, desde logo, às 23 e 55 minutos do dia 24 de Abril 74, aos primeiros acordes da canção “Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, chefio a equipa que assaltou o gabinete do comandante para o deter e tomar a unidade, acção feita ao segundo, sem nenhuma hesitação, apesar de um dos meus camaradas, o, supostamente, mais operacional, não se ter apresentado na hora e no local certo.

Pequeno grande feito que os gordos e donos da história mentirosa do 25 de Novembro 75 têm ocultado, e até mesmo pariram com a colaboração de uma alentejano vergonhoso de Vendas Novas, uma história falsa sobre os acontecimentos desta data, que pela sua mentira ensombram a honrosa história da Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas

Abraço-vos

andrade da silva

5 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Capitão, meu Coronel
se cada cidadão honesto fizesse um pedacinho por si e pelos familiares,
Portugal avançava e o povo progredia
Mas como fazer entrar essa ideia de tão pequeno esforço em cada trabalhador, cada jovem, cada pai, cada mãe? Que palavras usar para que percebam que lutar por Portugal não é uma abstracção, mas a luta por si próprio e pelos que amam!
nos cá vamos, formigarras trabalhando a cantar nossa labuta!
Unidade minha gente unidade e persistência e pela honra que herdei dos meus vos garanto, que vossa vida mudaria! a deixar fazer de nós o que os mandadores querem, sem oferecermos resistência, é bom de ver que só miséria e desespero nos espera!
e tudo depende da nossa vontade e da nossa intervenção para que os abusos cessem e o Futuro se estenda radioso à nossa frente!
é o momento! ainda estamos a tempo de transformar as nossas vidas!
Vamos Fôlego e discernimento!
Pensar, reflectir e agir:
Adiante!
convosco
Marília

andrade da silva disse...

cara Marilia

Na minha opinião, que defendo há anos, seria preciso que muitas Marílias, muitos zés se libertassem de várias cangas e falassem às pessoas dos problemas concretos e como podem ser resolvidos de modo diferente e melhor do que tem sido feito .A falta disto que afastam 5 milhões de portugueses da politica, e isto só pode acontecer porque aqueles 5 milhões consideram todos iguais: uns porque querem roubar; outros porque querem comunizar o país à laia da URSS de 1917, ou da Coreia do Norte, da China ou mesmo de Cuba 2011; ou são uma rapaziada burguesa que discute os problemas dos pobres comendo caviar, ora sem se fazer a cabal demonstração que isto não é assim, nada mudará. Se é preciso mudar as práticas, também é preciso falar, se houver verbo para o país e não só para militantes.
Abraço
asilva

Fernando Barbosa Ribeiro disse...

"Camarada e meu amigo, soldadinho ou capitão: este povo está contigo, a malta dá-te razão!" - finalmente consigo regressar, se bem que sem "estabilidade" por diversos motivos, à leitura deste blog, e identifico neste texto específico o meu pai que foi alferes em Luanda. Dos relatos dele adquiri a mentalidade de anti-guerra (conceito divergente de anti-revolução), e pude tentar imaginar o que não seria passar-se pela Guerra Colonial... e muito fica por dizer, senão este meu sincero comentário seria extensíssimo.

Os portugueses perderam o sentido de luta e de patriotismo, aceitaram (e aceitam) as palas colocadas por aqueles que branqueiam o fascismo (e num segundo plano, a Guerra Colonial), resignam-se àquilo que é a vontade dos senhores feudais. Já agora, aproveito a dizer, a propósito da resposta dada à amiga Marília Gonçalves, que sobre Cuba existem dados não-cubanos (portanto, sem influências dessa parte) que referem ser praticamente inexistente (para não dizer que não existe como esses dados e relatórios indicam) pobreza, e que o analfabetismo encontra-se num patamar igualmente feliz - apesar do grande defeito que é a falta de democracia latu sensu, possuem coisas que invejamos diariamente. Na própria URSS, cito a Dra. Odete Santos: "sim, havia diversas e graves restrições à liberdade (acrescento eu: e à democracia latu sensu) na URSS... mas também vejamos: fora da URSS, havia miséria, desemprego, sem-abrigos, fome... que seria pior?" (minha opinião pessoal sobre este comentário da Dra. Odete Santos: bem verdade, mas eu por mim não gostaria de perder, por exemplo, a liberdade de expressão... ou seja, não concordo nem discordo pois o conflito é enorme). Mas devo salientar, por alguma confusão que verifico: houve traições graves ao Socialismo Soviético, a começar pelo Stalinismo; em Portugal, pelo menos no que se refere ao PCP, tal é reprovado, apesar da devida compreensão que cabe fazer-se àquele país à época (análise sociológica principalmente). A defesa do Marxismo-Leninismo (que era só teoricamente na URSS pós-morte de Lenin) é a base fundamental - para haver Socialismo, nada implica a máxima "todos pobres", mas sim a máxima "todos iguais". E ao ponto de que, apesar de não se verificar nada em votos, na República Federal Russa já se chora, novamente, Lenin. Já se deseja o regresso deste - mas ninguém veio chorar (a não ser por medo quando o seu corpo embalsamado foi erguido) Stalin (a não ser os seus conterrâneos, da terra-natal). Sobre a China, existem 2 partidos comunistas distintos: um comunista e um "comunista-de-nome". O que prevalece é o "comunista-de-nome". Na Coreia do Norte... sem grandes comentários - não nos referimos muito ao seu "comunismo". De Ceauscescu, idem. Mas existem correntes diversas - inclusive a do Dr. Álvaro Cunhal foi autónoma, apesar das diversas semelhanças com as restantes.
Findo o desvio, regresso a Portugal actual: o sentido de luta está oculto... perdido. Mesmo assim, saúde-se a participação nas iniciativas intersindicais, estando próxima a de 24 de Novembro. Mas porquê este oculto? Penso que reside, principalmente, na inconsciência e na falta de Cultura... provocados pelo branqueamento das "ovelhas negras". A título de exemplo, já ouvi blasfémias quanto bastem sobre o processo da descolonização e sobre a Junta de Salvação Nacional, além de quase todos terem "perdoado" a «maioria silenciosa» e a vontade de Sá Carneiro em "voltar a pegar em armas" (sic). Fora outros diversos factores, como o constante silenciamento e manipulação das opiniões da Esquerda e do show-off entre o Bloco Central (já parece mais pertinente chamar-lhe assim em público novamente) - um autêntico ping-pong do "ora bato-te eu, ora bates-me tu; ora dou eu a mão a torcer, ora dás tu" dos três da vida airada PS-neoliberalista, PSD/PPD e CDS-PP. E o povo a engolir e a reelegê-los ou a abster-se...

Um enorme e fraterno abraço amigo.
Fernando Barbosa Ribeiro

andrade da silva disse...

caro Fernando
tu és um ilustre e jovem tratadista, abraço por teres aparecido o teu texto exige reflexão e estudo.

podes enviar-me texto, que depois envio a Marilia que o posta. Como sabes nisto de blogues é preciso uma certa sintese.

Quanto a Luanda só por lá passei o mru lugr foi no chamado mato, também era alferes, dá um abraço ao teu pai do seu antigo amarada alferes.

abraço
joão

Fernando Barbosa Ribeiro disse...

Será entregue, sem falta! O alferes Ribeiro (como era chamado... conhecido por ter feito frente a um grande que todos temiam - conseguiu que esse grandessíssimo fosse expulso com um julgamento no Tribunal Militar... não me lembro bem que posição teria, mas sei que era superior do meu pai) ficará contente. Tal é o trauma que ainda se recorda do número... enorme... pelo qual o chamavam (quando não era simplesmente por alferes Ribeiro...)

Já agora, só por mera curiosidade, sugiro uma rapidíssima visita a: oabismodeportugal.blogspot.com
(não quero, com isto, fazer publicidades)
Dentro em breve deverá haver texto... mas a disponibilidade escaceia cada vez mais, porque já estava para o ter já escrito desde terça-feira (e hoje é sábado...). Vida de trabalhador-estudante...

Um enorme e fraterno abraço amigo.
Fernando Barbosa Ribeiro