segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DEUS



AS DUAS FACES DE DEUS


" Às filhas e filhos de um Deus Menor"


O Deus dos crentes existe , e é assaz bondoso para eles.

Há um Deus fantástico, para os que não crêem , mas vendem-no, como se acreditassem, e ficam ricos, e, depois, proclamam a glória de Deus dizendo, em uníssono : Deus Omnisciente, omnipotente e omnipresente. Senhor de Israel!

Ainda há os filhos azuis de Deus que têm com ele uma ligação directa em linha verde, e que rogam ao seu Deus coisas estranhas, como: mata aquele e Deus mata o designado inimigo; destroi aquela cidade, e Deus manda um terramoto; dá-me aquele carro topo de gama e Deus manda-lhes pelo natal uma grande espada ( grande carro na gíria madeirense). Dizem-se filhos dilectos de Deus, todo Poderoso.

Mas também há um Deus para os desalmados e deserdados, que nada pedem a Deus, mas recebem várias oferendas: a escravatura, a fome, a doença e a guerra .

Deus existe no firmamento: bondoso para os que têm muito dinheiro para comprarem as bulas e o céu, e cheiram a incenso beato, e, este mesmo Deus, é duro, insensível, inumano para os desgraçados de quem, já, nem os republicanos-monárquicos, os aristocratas e outros tais "gramam" ( termo rasca pra dizer desprezam, sentem nojo).

Os plebeus, a raia miúda, cheiram a algas marinhas (o cheiro pestilento de Machado dos Santos, Salgueiro Maia, João Domingos Serra e outros tais).


andrade da silva

6 comentários:

Marília Gonçalves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marília Gonçalves disse...

Morre o rico, dobram sinos;

Morre o pobre, não há dobres...

Que Deus é esse dos padres,

Que não faz caso dos pobres?


Aleixo

andrade da silva disse...

pois pois sao vários os testemunhos não é marilia.
abraço
asilva

GiaSantos disse...

Da iniciação, ainda menina, restou a frase "amai-vos como eu vos amei", como tudo seria tão fácil!
Contra o obscurantismo resta-nos:

Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
gargalhadas de escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
estrelas cobre o carmatelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos

Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas simuladas

criar
criar amor com os olhos secos.

"Agostinho Neto"

Marília Gonçalves disse...

A sereia que leu Marx e Freud

Sosígenes Costa




O PAVÃO VERMELHO

Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.

(1937-1959)




CHUVA DE OURO



As begônias estão chovendo ouro,

suspendidas dos galhos da oiticica.

O chão, de pólen, vai ficando louro

e o bosque inteiro redourado fica.


Dir-se-á que se dilui todo um tesouro.

Nunca a floresta amanheceu tão rica.

As begônias estão chovendo ouro,

penduradas nos galhos da oiticica.


Bando de abelhas através do pólen

zinindo num brilhante fervedouro,

as curvas asas transparentes bolem.

E, enquanto giram num bailado belo,

as begônias estão chovendo ouro.

Formosa apoteose do amarelo!


(1928)



DUAS FESTAS NO MAR



Uma sereia encontrou
um livro de Freud no mar.
Ficou sabendo de coisas
que o rei do mar nem sonhava.

Quando a sereia leu Freud
sobre uma estrela do mar,
tirou o pano de prata
que usava para esconder
a sua cauda de peixe.

E o mar então deu uma festa.

E no outro dia a sereia

achou um livro de Marx

dentro de um búzio do mar.

Quando a sereia leu Marx

ficou sabendo de coisas

que o rei do mar nem sonhava

nem a rainha do mar.

Tirou então a coroa

que usava para dizer

que não era igual aos peixinhos.
Quebrou na pedra a coroa.

E houve outra festa no mar.

(1934) Sosígenes Costa

andrade da silva disse...

Amigas

Os sinos poderão voltar a dobrar.
asilva