quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ainda bem que não há mais!!!!



Sorvedoiro-Buraco-Negro?





Os cinco cavacos

Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.

O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de desenvolvimento deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de económico que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.

O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.

O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.

O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.

Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.

E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.

Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.

Daniel Oliveira /Expresso


6 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Portugal



Meu país de sol e cor

tens olhos de mar por dentro

país que sabe a amor

em tintas de sofrimento.

País onde vento sem aviso

nas janelas assobia.



País em que foi preciso

a noite parir o dia!



Meu país do ocidente

a Europa te segura...

jardim que és o continente

da saudade e da ternura.



País que foste canteiro

de flores de bem sobre o mal!

Ó país meu marinheiro

das águas de Portugal.


Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Marilia

Vou comentar este post, com um outro, com a mimha opinião sobre a estragégia para as presidenciais, que diverge das até agora efectivadas com algumas excepções: Ramalho Eanes, Lurdes Pintassilgo e, de certo modo, Salgado Zenha.
abraço
asilva

andrade da silva disse...

Coloco um comentário de humor inteligente a um outro que postei na visão on-line:

DESASTRE ▼

fspulga ( visão on-line, comentário a um outro meu)

Não se preocupe, pois para contrastar com o último Presidente da República (ainda em exercício) vamos finalmente ter um candidato com grandes possibilidades de ser eleito, e que não tem nada a ver com o anterior, e que pelo contrário percebe muito de finanças e de economia, e que caso tivesse sido eleito há 5 anos nada destas coisas teriam acontecido. Nem teria havido a fraude do BPN, pois este Novo Presidente que aí vem não tem amigos no BPN, nem na SLN, ( porque esses ou estão presos ou fugiram) logo não se irá repetir o problema, e vai logo demitir o Governo, coisa que o Outro presidente não podia fazer, pois não tinha razões para isso porque não percebia nada de economia nem de finanças, e os alertas que mandou foram resultantes de terem entrado no computador dele sem ele saber e parecer um mail do Fernando Lima, que tinha sido demitido, mas que ainda lá estava.

Este Novo Presidente pelo contrário já trabalhou no Banco de Portugal, já foi Ministro das Finanças, Primeiro-Ministro, Professor de economia, Presidente da República e ainda por cima até é da Fonte de Boliqueime, o que não tem nada a ver, pois o Outro Presidente nasceu no Poço de Boliqueime. As diferenças decerto se farão sentir imediatamente. Aliás o Outro Presidente foi a todas as missas do PAPA, e este Novo Presidente decerto promulgaria imediatamente o casamento das pessoas do mesmo sexo, sem pestanejar, logo não será tão católico
. Por isso meus caros não se preocupem que vai ser um Novo Portugal

Marília Gonçalves disse...

AH AH AH AH
SE NÃO FOSSE PARA CHORAR é ANEDOTA
Meu Portugal de Amor com que me Espanto

Marília

Marília Gonçalves disse...

SONETO


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO




SONETO (QUASE INÉDITO) ESCRITO EM 1969, TÃO ACTUAL EM 1969, COMO HOJE...

BASTARIA ACTUALIZAR A MOEDA E MAIS ALGUMA COISA NOS EXAGEROS...

Marília Gonçalves disse...

olá

a ironia pode atingir aqueles que se "aborrecem" com o quadro negro e o fogem! pode trazer à política os que pelo pessimismo a temem e dela fogem
O importante é pôr o povo a reflectir
este é um modo diferente de o conseguir, porque faz sorrir
e rir faz bem!
Marília Gonçalves