domingo, 12 de dezembro de 2010

UMA VOZ ...UM CORAÇÃO DE ABRIL! Marília




SINTO SEMPRE DO ALENTEJO: O SOL E O AMOR.



Nota: estava a responder ao comentário da Ester ao meu post sobre a morte da minha mãe, quando dei por mim, tinha-me referido a bem mais que o seu comentário. Tinha feito um novo texto, com nova informação que para publicar terei de recorrer à sempre pronta colaboração de Marília.

Sempre estiveram a meu lado, como companheiros inseparáveis, o Sol e o Amor do Alentejo, minha 2ª terra Natal, como disse da varanda do Quartel-general ao povo de Évora, quando nos idos de Setembro/ Outubro de 1975, o sr. Brigadeiro Pezarat Correia, do Alentejo me queria expulsar, como se o Alentejo fosse uma quinta dele e dos seus prezados “amigos” do PSD, proprietários de Terras, que, segundo o próprio, queriam fazer a Reforma Agrária Verdadeira.
Mas essa Reforma Agrária, já a tinham feito no fascismo e fizeram depois do 25 de Novembro e hoje continuam - vender as terras ao estrangeiro e cultivarem algumas boas, e depois deixaram a maioria incultas, recebendo milhares de euros a título de indemnização da União Europeia.
Todavia, logo o povo ( Comunistas, socialistas e gente sem partido) cercou o Quartel -General e liderados pelo Pias do Escoural, homem sem medo da morte que cedo morreu, anularam a ordem do general Pezarat, e para não invadirem o quartel foi-me, pedido, por todo o Estado Maior do Quartel-general que fosse à varanda falar ao povo.
Entendia que eram eles que deviam falar, mas para evitar confrontos vim á varanda, e para além de dizer que o Alentejo era a minha segunda terra de nascimento, afirmei, como o Jornal Século o refere na sua primeira página, que o Alentejo era a minha 1ª terra para a Revolução, e que se por esta tivesse de morrer, no Alentejo teria de ser.
Mas, assim não foi ( amo com paixão a vida), porque no 25 de Novembro 75, com o meu directo conhecimento só estavam dispostos a sacrificar-se pela revolução o Pinto de Sá (pai) de Montemor-o-Novo e umas centenas de alentejanos armados, sem nenhum aval do PCP.
Naturalmente que, naquela altura, sem o PCP, o Alentejo não se levantaria, mas com o PCP os fachos de Lisboa e do Porto iam tremer mais um pouco, para além do que tremeram em Belém, segundo me referiu Costa Martins ( que necessariamente tem isso escrito em algum sítio, e que deve ser de total e completo conhecimento de Costa Neves, que por ele me foi referenciado como seu grande amigo e confidente ), e que só deixaram de tremer, quando Rosa Coutinho e Martins Guerreiro levaram o pau da bandeira branca aos fuzileiros Navais, e o Dinis de Almeida desmobilizou os obuses 8.8 auto propulsionados, ( obuses estes que uns anos antes o meu curso de Artilharia, com o tenente-coronel Fogaça, tínhamos ido desenterrar ao depósito de Material de Guerra de Beirolas), e também porque desmobilizado o dispositivo da tal esquerda, a coluna de Salgueiro Maia passou a ser inquestionavelmente uma unidade do 25 de Novembro.
A coluna de salgueiro Maia até esta altura não seria uma unidade do 25 de Novembro, segundo o Dinis de Almeida, Salgueiro ter-lhe-á dito que nunca abriria fogo contra os seus camaradas do MFA, portanto, a coluna que comandava era de paz e de interposição, o que, em termos de correlação de forças militares obrigaria a complexas negociações, não fora o abandono do comando destas forças pelo CopCon e o seu comandante general Otelo.
Mas se outro tivesse sido o caminho seguido no 25 de Novembro 75 do que foi, teríamos sido invadidos pela Nato, seria instalada uma ditadura comunista, como ainda defende o Dr. Mário Soares, ou seria a guerra civil?
Pessoalmente julgo que nada disso teria acontecido, e uma vez mais a coluna de Salgueiro Maia teria desempenhado um papel decisivo na abertura de negociações sérias, para se dar um rumo, por um lado, de estado de direito ao PREC e, por outro, de maior força à cidadania e melhor execução da extraordinária constituição que a Constituinte produziu, e que, desde logo, começou a ser desrespeitada.
Creio que poderíamos estar numa democracia de melhor qualidade com melhor justiça, melhor politica fiscal, menor dependência alimentar, com trabalhadores com melhores competências, melhor modernização e industrialização, mas nunca fora desta crise mundial que prepara o caminho para a tomada do poder económico e financeiro e, logo, político pela China nas próximas décadas. Probabilidade grave de que venho a falar há 2 anos (agora bastantes já falam) o que abordarei acerca de virtudes e obsessões de Ernâni Lopes (um mito), em próximo texto.

andrade da silva

3 comentários:

andrade da silva disse...

Marilia

obrigado pela sinalização de Voz e coração de abril,o que, muito me honra, e ainda mais por ser um acto sentido e honesto.
abraço
asilva

andrade da silva disse...

O PIAS

Uma palavra sobre aquele homem simples do Escoural, o Pias.

O Pias morreu ao que diz a família, a mulher, de um modo relativamente estranho, certo é que morreu muito cedo.

Mas O Pias era um homem com uma força de touro e uma coragem de Viriato, era antes do 25 de Abril 74, guardador de porcos, depois por ser um líder popular, um líder alfa, ascendeu à direcção da cooperativa do Escoural, não teria as melhores competências para a função, mas era um homem sem medo, que descruzava com as suas próprias mãos e com o peito às balas feito, as armas cruzadas dos soldados.

Não o esquecerei, ainda encontrei a sua mulher e filhos em almoços anuais que se fazia com alguns sobreviventes desta altura :o Negraxa e o Ti Pedro do Escoural, o Inocêncio, porém a falta de dinheiro interrompeu estes encontros que pela última vez se realizou em Cortiçadas do Lavre.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

o gelo e a pseudo democracia

e no que gostava que pensássemos em conjunto, é que essa situação aflitiva de se encontrar sem lar e numa época de gelo, pode na sociedade, tal como está hoje, por culpa dos governantes e dos poderosos que se apoiam mutuamente, recair sobre qualquer um de nós! Basta que o patronato, decida a redução do número de efectivos numa empresa, e aqueles que até então tinham no calor confortável da casa, o recanto onde descansavam de um dia de labor e quantas vezes de stress, vão encontrar-se sem meios de pagar renda de casa, luz, água, etc... e a espiral infernal começa! e como nem todos têm famílias que os abriguem o que lhes resta? a rua!

continua aqui
http://nossaspoesiaslibertarias.blogspot.com/

Marília Gonçalves