ESTOU VIVO ESCREVO SOL
Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde
De António Ramos Rosa
(conheci uma menininha que há vinte anos atrás, antes de ir para a escola de manhã, a mãe tinha que lhe ler um poema de António Ramos Rosa
como pode uma criança de dez nos sentir e apreender tanta beleza?)
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde
De António Ramos Rosa
(conheci uma menininha que há vinte anos atrás, antes de ir para a escola de manhã, a mãe tinha que lhe ler um poema de António Ramos Rosa
como pode uma criança de dez nos sentir e apreender tanta beleza?)
******************************************************************************
=====================================================================
Consciência
No ritual do riso
despe-se o olhar de sombra
acumulado e triste
paraíso? não existe!
apenas este esforço, esta vontade
de transformar o mundo
o mundo que nós somos
tão profundo
que o passo conseguido
é do passado e é vencido.
Mas esta teimosia irreverente
esta consciência aguda de ser gente
vai-nos soltar a voz até ao grito!
Ah glória a todos nós
por tanto gesto aflito.
por este tropeçar e prosseguir.
por este querer andar
mesmo a cair
e levantar o mundo de amanhã.
Glória a todos nós à humanidade
que leva ao peito a ferida d' ansiedade
e grita ainda que a espera não é vã.
Glória a ti pois. A ti!
`Ó homem que te elevas
monstro parindo as suas próprias trevas
e nelas chora e ri
Marília Gonçalves
(in à Procura do Traço)
Sem comentários:
Enviar um comentário