segunda-feira, 7 de março de 2011

BANALIDADES: 3 PATOS, UM GATO E UMA IDOSA

A última foto da minha mãe
À mulher e à minha mãe, que tanto amava os animais: gatos e cães.

Mas o que haverá em comum entre os três patos, o gato e a idosa ? Para além da banalidade, vejo amor e em duas histórias, a dos patos e da velhota, julgo que depois de algum sobressalto as coisas acabaram bem, no caso do gato a sua história é de felicidade, também intermitente que para continuar precisa de mais sol. A felicidade é sempre um acidente breve e bom. Estas histórias também têm este elo comum, o da felicidade, como acidente.

Para além disto a idosa, uma senhora com 79 anos, toca-me o coração, ao fazer-me lembrar a minha mãe, e, por isto, dedico este breve conto de banalidades às minhas querida amigas e à mulher.

OS 3 PATOS

Há umas semanas, num dos riachos de um jardim, na margem oposta a que me encontrava, um homem e uma criança, muito se esforçavam, desajeitadamente, para empurrarem os 3 patos pela encosta abaixo do seu lado, de modo a que aqueles patos se juntassem aos outros. Fiquei a ver a manobra, e ia comentando com quem estava comigo a falta de jeito daquelas pessoas e do pouco sentido do que estavam a fazer. Quando assim falava passou por mim um homem que trazia uma gaiola e, então, lá nos explicou que tinha despejado ali aqueles 3 patos, e que a outra pessoa, seu filho, ou genro, procurava, então, empurrá-los para junto dos outros patos do jardim.

Fiquei preocupado. Pensei que aqueles patos domésticos não iam sobreviver, não iam encontrar de comer, e nesse dia dirigi-me ao super mais perto,para comprar milho em grão, disse para que efeito. Logo me tranquilizaram dizendo que muitas pessoas alimentavam os patos. Regressei ao jardim lá estavam os três juntos e isolados. Dei-lhes de comer. Voltei ao jardim nos dias seguintes e eles continuavam os 3 juntos. Pensei que se sobrevivessem as 72 horas seguintes ao abandono que sobreviveriam, como dois eram cinzentos e diferentes dos outros e um tem um defeito na cauda comecei a segui-los.

Sobreviveram às 72 horas e às 3 ou 4 semanas que levam de habitação no novo território, deslocam-se à vontade, embora um se tenha separado, era também mais parecido com os habitantes mais antigos do jardim. No domingo passado, apresentei-os a outras pessoas amigas, disse como se pode identificá-los. Falei do defeito na cauda de um, dizia que era para direita, e o meu amigo corrigiu, dizendo que era para a esquerda, como de facto é, isto mesmo de defeitos é sempre para a esquerda. Falei com os patos, parece-me que me disseram que estavam bem, e acho que me consideram amigo, não fogem. A história destes patos continua a ser de felicidade. O seu novo território é muito espaçoso e lindo.

O Gato

O meu patusco, também velhote, que anda como eu cheio de frio neste inverno que nunca mais acaba, mas se há dias me surpreendi com as árvores em flor e no domingo pus todo o Mundo a olhar para aquelas árvores, o gato surpreendeu-se com um dos dias de sol e, logo, feliz, como a felicidade, correu para a marquise para apanhar os seus raios. Deitou-se sobre um pequeno tapete e feliz como uma divindade ali dormiu umas quantas horas. Saboreei a sua felicidade, e fico feliz por ele. Foi uma felicidade que há-de vir quando esta chuva for embora, até lá vive este intervalo de sombra, de que o aquecedor a óleo, à noite, o liberta um pouco, e ei-lo a dormir o sono dos justos.

A Idosa

Num destes Domingos estou num centro de saúde, aparece uma idosa toda angustiada e frágil que se tinha queimado numa mão. A empregada quer fazer-lhe a ficha, mas a idosa quer dizer tudo ao mesmo tempo. Como também estou no balcão lá com recurso aos meus saberes técnicos procuro acalmar a velhota, mas em boa verdade já via-a como se fosse a minha pobre mãe. Ela ia recuperando a calma. Mostrou-me a queimadura, mas só via um género de cera a cobrir a suposta queimadura. Todavia o seu centro não era aquele, era outro, o de Sete Rios, perto do qual ela morava, mas disseram-lhe que estava fechado por ser domingo.


Mas de facto assim não é, os centros de saúde parece que estão todos ou quase todos abertos ao Domingo. Como era para fazer um curativo depois de dizer à idosa que a acompanhava ao outro centro, vi uma senhora de bata branca, só olhei para a bata, não sei e era médica ou enfermeira, mas pedi-lhe, suplicadamente, como fiz no hospital de Belém meia hora antes do meu camarada Silva Pinto morrer, que lhe fizessem alguma coisa, mas a resposta foi a mesmo: não é deste centro, não se pode fazer nada, mesmo tratando-se de uma queimadura, além de que ela devia saber que o outro centro estava aberto e fazem urgências, diziam as burocratas.

Toda esta burocracia me dói, até porque a velhota era tão frágil e nervosa, embora fosse desembaraçada e vestisse de um modo castiço. Lá lhe fiz companhia até ao centro de saúde de Sete Rios, falando lá ela se descentrou da dor. Depois de a entregar aos cuidados do Centro Saúde deixei-a, pois o seu caso somente requeria que lhe tratassem da queimadura feita com um pouco de azeite, quando estava a fritar algo.

Estou em crer que esta história também acabou bem. Fico a pensar em todas as velhotas e velhotes que vivem sozinhos e, são muitos, e não posso deixar de ver o sofrimento da minha mãe em cada idoso com Alzheimer ou em estado de coma. Penso neles que estão ali, mas já mais mortos que vivos e no sofrimento e grande coragem dos seus familiares, no caso da minha família da minha irmã Fátima e do meu cunhado residentes na Madeira.

A vida tem cor, dor, felicidade e banalidades. Falei
,
hoje, destas e dos insondáveis mistérios da vida.


andrade da silva

14 comentários:

Marília Gonçalves disse...

A minha Homenagem a todas as Mulheres de qualquer idade, jovens ou não, sempre Mulheres, como o foi sua mãe como o foi a minha e como vamos sendo cada dia, num esforço renovado, entre sabermos quem somos e fazer com que o Homem nos aceite como sabemos ser
No fundo até é isso que reclamamos: o Direito de sermos nós mesmas, em todos os domínios,cessem de exigir de nós, basta o que damos por vocação da nossa afectividade, não nos peçam também para renunciarmos a ser
e aprendam a aceitar o que espontaneamente damos, não como recompensa do vosso mérito, mas como impulso generoso, que nos caracteriza! seremos tudo o que é bom, se o vosso espelho não nos deformar, mas parvas não seremos nunca mais, hoje cavalheiros, vão ter que aprender que direitos e deveres são para todos os cidadãos, quer sejam homens ou mulheres... todos nascemos com esse potencial do sonho que apenas pede concretização, pelas asas de nossos sonhos humanos e femininos nos batemos, vocês homens não precisam desta luta, porque esses direitos de ser sempre os tiveram
mas precisamos todos, homens e mulheres dum espírito unitário e cívico, para enfrentar outras lutas e outras conquistas
que chegue depressa esse dia partilhado
abraço a quem luta contra todas as formas de injustiça
Abraço a cada Mulher e o meu grito de CORAGEM!
Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

e a todas as meninas de hoje desejo que o exemplo de suas mães e o encorajamento desse homem fantástico que é o pai, as torna mulheres futuras combativas mas sem amargura.
e aqui deixo poema feito à Katia, minha neta, a quem desejo também que o esforço e o trabalho exemplar e a disciplina com que dança desde os quatro anos, sejam mais uma vez recompensados nos dois exames de dança que a esperam amanhã 9 de Março, no Conservatório, a Katia que quando dança põe salas a chorar de emoção
o blogue dela de dança é aaqui
http://ladansedesarbres.blogspot.com beijinho amigo a todas as meninas e meninos
Marilia

Marília Gonçalves disse...

à Katia

La Danse Clasique
c'est l'esprit qui s'envole
dans le corps de la Musique


Marília Gonçalves

Anónimo disse...

On ne naît pas femme, on le devient...

Simone de Beauvoir

andrade da silva disse...

Marília

O exemplo da minha mãe é muito, muito, muito simples, pura e simplesmente amava o meu pai, sem reservas, sem retornos.

Simplesmente mulher, mas generosa, demasiadamente generosa, para com o meu pai e protectora dos seus filhos, mas ai daquela ou daquele que fora deste nicho a atormentasse, tornava-se logo em leoa, cheia de coragem e valentia.

A minha mãe foi simplesmente mulher, o que é tudo: Cosmos, Água, Terra, Fogo, AR, isto é – VIDA DE LUMINOSIDADE, AMOR E ENTREGA.
Simplesmente MULHER.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Poema a Maria


À mãe de meu pai, minha lembrada avó



Quanto muro quanta casa que paredes

lavaste com teus olhos fontes rios

quanto chão regaste com as sedes

que te levam mundo fora, além navios


quantas urnas de sal perdido sol

caiaste com teu leite

quanto silêncio se fez no rouxinol

do flamenco aceso no teu peito?


Que trilhos, que caminhos percorreste

no obscuro tempo verdes anos

que em alva cabeleira converteste


e não lhe chamem erros, desenganos

porque hora a hora mulher em ti crescente

livre do sono dos ancestrais decanos.


Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Porque na atrocidade da guerra a Mulher é sempre a que paga o maior tributo, é tempo de Unidade

Mulheres em Frente pela Paz e pela Dignidade de cada ser humano



Marília Gonçalves

Mais si la force est synonyme de courage moral, alors la femme est infiniment supérieure à l'homme. GANDHI (Tous les hommes sont frères) ...



Poema da Mulher



Era noite enluarada

Desciam brancos os montes

Quando nessa madrugada

Desenhando os horizontes

Um pedra ali postada

Pelo tempo da memória

Ia pela voz das fontes

Dar início à nossa história.

II

Dormia esse sono impuro

Que tanto pensar agita

Quando iluminando o escuro

Uma luz branca me fita.

Era sudário de sonhos

Como lençol de luar

Temeroso nevoeiro

Nas rendas do alto mar.



Gélida alvura na noite

envolve prende o meu ser

ou êxtase ou sorvedoiro

rasga o silêncio do ver.



Névoas montes nevoeiro

treva em flor água sombria

véus de mouras lírios brandos

noivas de apenas um dia

estavam cantando o seu pranto

Ali rente à penedia.



Que vozes de tal requebro

Esclareciam meu sentir

Que essa alvura tomou forma

nas mães da história a sair.

Foram sentando pelos montes

Como flores de amendoeira

Tinham o timbre nocturno

Perfume de laranjeira.



De suas frontes pendiam

Atavios de tal esplendor

Que quem tais astros urdia

era mago ou era a dor.



Vinham do fundo dos tempos

Atravessado a idade

No rosto sulco de vento

Da perdida mocidade

E no matutino olhar

Um fio d’água de saudade







Além me sentei também

herdeira de seu dizer

presente eu mais uma mãe

pra melhor as perceber.



Ali naquela pedra toda musgo

Uma esguia mulher a trança alta

Trazia no sorriso a anoitecer

A fala que de súbito a exalta:



É dia de colheitas, noite embora

Ao longe de milénios semeámos

Ninguém se enternece pelos escombros

Dos sonhos que velámos.



É dia de falar de mão estendida

Essa mão que nunca ninguém viu

E que trazia nela a flor da vida



É dia de largar no vendaval

A história de milénios que calámos

Nossa dádiva bela e natural

Dos filhos que na terra semeámos



O sol acompanhava nossas vidas

Num hino universal à chuva

E das sementes conseguidas

Fizemos pão fizemos uva.



Mas nossa sementeira era de vida

Arámos o chão com nossas mãos

mas de cada broto em nova vida

nem sempre vimos irmãos

como filhas da horda guerrilheiras

tudo demos de nós sem o medir

e fomos Catarinas e ceifeiras

e parimos Mandelas e Ghandis.



Enquanto nosso sangue se espargia

no ódio à traição do nosso ventre

cada criança que nascia

nascia no direito a ser diferente.











Mas tudo foi pretexto para guerra

Um pedaço de rio que o chão nos dá

Por um metro de terra

O sangue que era amor se esvairá

Sempre por mais avareza e ambição

O humano olhar perde a essência

E derramando o sangue dum irmão

o que ontem foi menino é inclemência.



A mãe não distingue seu menino

Nesse ser déspota e cruel

outrora ria como passarinho

a voz clara e doce como mel.



A voz infante que dizia Mãe

Hoje não sabe face a uma mulher

Aquele vulto é também para alguém

A pura fonte que lhe deu o ser.



Mata lacera violenta sem razão

Ante o olhar de horror de criancinhas

Em cada olhar que morre perde-se um irmão

E nasce mais fereza e mais chacina



As mães correm o monte em alvoroço

Mulheres da cor do sol que tempo deu

Esgatanhando os ares lembram o moço

Que viram partir vivo e que morreu.



Mas é chegado o dia da colheita:

Colher o pensamento e a Unidade

Eia mulher! Em Pé!

por cada afronta feita

Que cada mãe saiba ser Mulher!





Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

À minha Mãe sempre menina



O mar na areia soava



quando a menina o olhou...



não sei o som que entoava



quando a menina cantou.





O mar na areia rolava



quando a menina cantou



não sei que canção soava



no silêncio que a escutou.





O mar na areia espumava



quando a menina calou.



Não sei que som se ocultava



na voz do mar que rolou.





O mar na areia quebrava



menino sonho voou...



Sei que nunca mais voltava



à asa que se afundou.



Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

À Querida memória de minha Avó materna



No teu quarto minha avó

havia um mundo secreto:

perfume de pão-de-ló,

rendas de bilros no tecto,

na mesa de cabeceira

o candeeiro redondo

duma luz opalescente...

nunca soube se essa luz

era luar que descia

de teu olhar sorridente.

Tinhas os olhos azuis...

isso de estrelas de luas

perdia-se facilmente

na escuridão que há nas ruas

para vir suavemente

habitar ao pé de ti...

e eu, sorria contente

do sonho que aí vivi.

Ah, o mundo da infância

nos cuidados da avó

deslizava brandamente.



Também no teu quarto havia

armários e gavetas

e a caixa de costura

cantos de prata esculpida

que teu irmão carpinteiro

inventara para ti.



Na magia do teu quarto

acordavam meus sentidos

havia um cheiro encerado

nos móveis adormecidos.



O meu sentir esfuziante

bem desperto e acordado

descobria tua essência

no gesto de cada instante:

havia uma transparência

uma mágica ternura

trazendo à nossa presença

o que parecia lonjura.



Tudo era compreensão

no espaço do meu sonhar...

sobre minha, tua mão

era canção d’embalar.



Desapareciam os medos

iluminava-se a sombra.



Adormecia em teus dedos

minh’alma branca de pomba.


Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

REBRINHAS,

http://www.rebra.org/escritora/escritora_ptbr.php?id=1381

ENVIO A BELA HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER DA EQUIPE DO VARAL
(ver anexo CEM ROSAS)



Caros autores, caros leitores!

Mulher não é fácil de descrever. Não o sexo feminino em si. Mas basta um chamado para se falar dela e elas chegam, mansas, bravas, cheias de histórias, de fatos, de sonhos. Chegam contando a vida que levaram, a que queriam ter, aquela que sabem que nunca terão e mesmo a que acaba de acontecer.

Mulher é um caso. Está pintada, desenhada, escrita. Ninguém está longe dela. Há com certeza uma ao seu lado, seja em casa ou no trabalho. Há uma dentro de você.

Mulher já foi cantada inúmeras vezes em letras de músicas, em assovios pela rua, em declarações inflamadas. Mulher é música, letra de música, sinfonia.

Mulher cria, dá cria, inova, se renova, desova, estorva. Mulher não para. Mulher é o próprio movimento. Um vento que bate e nunca deixa coisa alguma no lugar.

Mulheres fortes, mulheres fantásticas, são estas que você vai ler aqui e todas as que vai encontrar pelas ruas, por sua existência. Mulheres aqui também saudadas por homens que conhecem o seu valor.

E é a elas que desejamos não somente um excelente dia, mas um excelente ano, uma vida de excelência!

A Equipe do Varal

(Participe de nossa próxima edição especial NOSSO PLANETA TERRA enviando textos, fotos, desenhos, para varaldobrasil@bluewin.ch)

Jacqueline Aisenman

Editora da Revista VARAL DO BRASIL

www.varaldobrasil.com

Grupo de Escritores Lagunenses Carrossel das Letras

REBRA – Rede Brasileira de Escritoras

UBE – União Brasileira de Escritores

Membro da Associação Poetas Del Mundo Europa - Solidariedade e Paz

Embaixadora do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz – Genebra – Suíça

Observação:

Estamos enviando a você esta mensagem com o intuito de informá-lo do que temos feito na Revista e site VARAL DO BRASIL. São informações sobre literatura e arte em geral. Se não desejar mais receber, por favor envie uma mensagem com o assunto: Exclua-me. Agradecemos sua gentileza.

Please delete my e-mail address when forwarding.
Por favor, apague meu e-mail ao repassar as mensagens.



P Antes de imprimir pense em sua responsabilidade e compromisso com o MEIO AMBIENTE

Marília Gonçalves disse...

Companheiro, o que me diz de sua mae, não me surpreende, nem pelo que sempre tem dito de sua mãe,do que foi a sua vida e coragem, mas também, pela foto, hoje aqui diante de nosso olhar, e por olhar deixe que lhe diga a força do olhar de sua mãe, via-se a atenção e a inteligência, um olhar capaz de atravessar as trevas e incendiar o caminho! Uma Mulher: uma verdadeira Mulher!
não admira pois que duma Senhora assim, tenha nascido um Capitão de Abril
o meu abraço Companheiro e os meus parabéns, porque pessoas como sua mãe nunca morrem, apenas partem em viagem, mas regressam sempre ao coração de quem a conheceu e amou
sua amiga
Marília

Marília Gonçalves disse...

Provemos aos mortos que não os traímos

devolvendo aos vivos a terra dos vivos.



Sidónio Muralha



Que voz é esta que o silêncio habita

que nos sufoca, nos prende a vontade

que vozes soam na nossa alma aflita

entre o segundo e a eternidade?



À beira do abismo impenetrável

quando se cala o brilho dum olhar

cambaleantes sobre o insondável

nós olhamos, olhamos, sem conseguir pensar.



Em nosso semblante a transparência finda

a cor da parca imunda penetra-nos a face

ou é o silêncio que nos habita ainda...



E nenhum grito há que nos liberte

nem palavras nem prantos nem sorrisos

ante a verdade gélida e inerte.

Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Grita

a escuridão

que trazes dentro de ti

grita

os cálidos dias que não voltam

os pássaros emudecidos que não cantam

as fontes entorpecidas que não correm

as manhãs adormecidas que não nascem

as noites que habitam o teu espanto

os silêncios que te calam a dor

Grita! Grita! Grita:

por esse so que em ti se está a pôr....

Grita o grito mudo dos dias que não correm

e escuta o eco do silêncio:

os pardais cantam indiferentes

ao teu sofrimento sem luar...

as fontes gorgeiam sóis a saltitar

as noites tropeçam nas estrelas

o eco não captou a tua dor!?

Na estagnação do insuportável

tudo continua à tua volta





Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Marilia

Obrigado pelas suas palavras carinhosas par a minha mãe. Ela continua viva entre nós.

abraço
asilva