terça-feira, 3 de maio de 2011

à Humanidade



à Humanidade

As janelas transformaram
a paisagem donde vim
agitaram-se voaram
nas viagens que há em mim.

Frutificaram os rios
seiva estranha mineral
a desenhar os navios
na cidade de cristal.

Sobre a mesa adormecida
há sonhos por descrever
colheita tinta perdida
desejo de perceber.

Avanço devagarinho
na vidraça incandescente
o chão é rude maninho...

Um só traço é atropelo
de palavras a arder
neste contraste de gelo
que deixa aos poucos de ser.

Longínquo som me procura
vai aonde outros sons vão.
Mas meu grito é de ternura
misto de amor e de pão.

O meu grito universal!
Peço justiça somente.
Humanidade afinal
és filha de toda a gente.

Marília Gonçalves

3 comentários:

andrade da silva disse...

Como dizia Dostoievski só a beleza nos pode salvar, e quando esta já não o puder, estamos mesmo irremediavelmente perdidos.

Mas a beleza, o belo, a poesia e o mais belo poema, a generosidade, o amor, pouco, grão perdido num continente do seu contrário, lá vão fazendo o que podem.

Com muito amor pelos que aspiram e merecem ser amados um grande abraço.

asilva

Marília Gonçalves disse...

COMPANHEIRO, hoje poesia guerrilheira, embora eu tenha uma sede total de poemas que exaltem as belezas naturais e a sensibilidade, não é com esse tipo de poesia, que adoro, que vão florescer os campos!
é preciso o tom certo no momento certo, e isso está a ser o mais complicado, porque chegámos a um ponto extremo e ainda ontem a dar volta ao miolo, coitado, mais que ralado, com quanto se passa, perguntei-me: mas os responsáveis da crise, uma crise provocada, vão ter uma resposta, mais dia, menos dia, muito pouco amena, ou mesmo violenta, e não pensam quando olham os olhos das crianças deles, que lhes estão a preparar um Mundo de ódio e de revoltas, podem olhar uma criança que os olha confiante, sem vergonha do mal que até para os seus preparam? ou são muito estúpidos ou totalmente desprovidos de sentimentos humanos
ao menos, pelos filhos deles, pelos netos, não agravem uma situação, que vai, porque a História o manta criar confrontos de pesadas consequências.
Estamos a falar com povo trabalhador, porque com os mandantes, não serve de nada, lembram os bonecos da banda desenhada com cifrões no lugar dos olhos e apenas isso veem!
Estão a meter-nos na estrumeira até à boca, minha gente! estamos à espera de quê, de engolir a porcaria até sufocar?
Ou nos pomos de pé já, enquanto temos força para isso, ou depois com as entranhas atafulhadas da imundície que nos despejam em cima, será tarde demais! De pé e agora!
vamos minha gente de pé! de imediato!
abraço-te povo de Portugal
Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Mas Marília mas de que é que ando aqui há tanto tempo a falar.
abraço
asilva