segunda-feira, 4 de julho de 2011

JULGAMENTO DO CASO DA FILHA REBELDE: SERENIDADE E PROFUNDIDADE.








No julgamento da obra de ficção sobre as relações do último director da PIDE, Silva Pais, e a sua filha, a matéria da queixa ultrapassa em muito, a questão primária das suas sobrinhas julgarem que a memória do seu tio foi ofendida, direito que a democracia lhes reconhece e, muito bem.


Para que fosse assim, também andei em bolanhas, dores e sacrifícios vários para fazer, não como acto desvairado, o 25 de Abril, mas sim, como acto pensado desejado, no meu caso desde 1972 ( tinha 23 anos de idade, não podia ter outra idade, não nasci no princípio do século passado, nasci quando nasci, ponto), isto é, se o Movimento de Capitães de 1973 não tivesse nascido, ou tivesse falhado, logo atrás já vinham outros jovens, mais jovens ainda, sublinhe-se, preocupados e valorosos, o que, a vaidade dos que se consideram donos de Abril e a piolheira Nacional contra um documento histórico, uma carta datada, assinada e enviada a outrem, NADA ligam, a não ser uma única referência, a do Dr. Macaísta Malheiros, a dizer que aquela carta era importante, e nada mais... Este país...

Parte deste país é, segundo a minha opinião, como fica descrito, todavia espero que seja outra a parte que luta no julgamento da filha rebelde que tem de ter como objectivo primeiro a absolvição dos criadores, o que, só por ABSURDO não aconteceria. Nunca neste tribunal se poderia provar o acto soes dos criadores quererem ofender a memória de Silva Pais, seria grosseiro.

Como se provou a intenção é diferente, alam nas relações filha -pai, o pai Director de duas PDES: uma sinistra, a das prisões e torturas e a outra igualmente sinistra, mas muito mais rica intelectualmente, a das informações e seu tratamento, para o estudo dos cenários de ameaça ao regime.



Esta 2ºPIDE eventualmente até poderia interessar mais a Silva Pais do que a das torturas aos comunistas. Devo dizer mesmo que se é repugnante para um militar andar a dar cobertura a torturas, pode ser técnicamente apaixonante o tratamento das informações e o desenho de cenários, e nisto, segundo alguns investigadores a PIDE não era tosca, era eficaz.

A obra por aquilo que foi revelado em tribunal e todos sentimos humaniza Silva Pais que continua, como pai, a ser muito mais compreensivo para com a filha aderente à revolução cubana que a sua mulher, mãe da filha revolucionária.



Também os factos que acusação levanta, como já deu para entender são concepções do foro privado da família, de que se fez prova em tribunal que não aceitam um dado retrato histórico, do foro público, sobre Silva Pais de que, como director, da PIDE seria responsável por tudo o que esta policia fez ou deixou de fazer, e, obviamente, que é, até porque conhecia as notícias que corriam e numa organização estruturada e hierarquizada, numa ditadura, chefiada por um militar, escolhido por Salazar, nunca seria permitido aos policias andarem em roda solta, e muito menos no caso de Humberto Delgado, cuja detenção e assassinato foi uma grande operação policial e política, com uma preparação e logística complexas, como foi amplamente referido nas audiências.

Considera a família ainda que o facto de Silva Pais considerar muito o General Spínola e na peça, o mesmo Silva Pais, considerar aquele general um traidor, dá da personagem uma imagem de falta de carácter, mas não é assim. Para além da ficção, esta dicotomia,quanto ao general Spínola e outros, como o General Calos Fabião, é completamente possível para um PIDE que foi militar, como para muitos militares e outros africanistas, que endeusaram o grande general e cabo de guerra da guerra colonial, o desconsideraram depois de o verem com aquela "rapaziada", como nos classificaram, do 25 de Abril.



A acusação ainda refere-se a outros assuntos metafóricos, com pouco interesse para a esfera pública.

Por tudo isto, penso que este julgamento é um teste de stresse à justiça democrática que pode e deve fazer doutrina sobre a natureza diversa e, por vezes, antagónica da percepção familiar e da pública, histórica,de uma dada personagem, e que a esfera privada não pode querer silenciar a pública, por mais que isso lhe doa, e que a ficção não é a verdade histórica, consequentemente, o criador,o artista tem amplos graus de liberdade, para recriar as figuras históricas dando-lhes uma configuração humana, adequada ao meio de comunicação escolhido para transmitirem a mensagem, naturalmente diversa, conforme for biografia ou teatro.



Se, assim não fosse nenhuma figura histórica poderia ser retratada, como, por exemplo, o general Patton que por mais narcisista que fosse, não poderia ser tanto, quanto o filme do mesmo nome revela. De facto esta sua caracteristica é levada ao extremo em nome da eficácia e até da beleza plástica da obra, e como foi dito,não compete a este tribunal julgar a figura histórica de Silva Pais e da PIDE, e de outro modo não deve ser.

Todavia para além disto fica muita matéria para a cidadania desde logo:




FOI SÓ A PIDE QUE MATOU, OU ESTAVA INTERESSADA NO DESAPARECIMENTO FÍSICO DE HUMBERTO DELGADO, FIGURA TAMBÉM NÃO MUITO GRATA Á TOTALIDADE DA OPOSIÇÃO A SALAZAR?




PORQUE NÃO SE JULGOU A PIDE, E SE PERMITIU TANTO DESAPARECIMENTO DE DOCUMENTAÇÃO?




O QUE TÊM A DIZER OS MEMBROS DA COMISSÃO DE EXTINÇÃO DA PIDE QUE LÁ VÃO FALANDO QUE SABEM DE HORRORES, À IMAGEM DO DEPUTADO PACHECO PEREIRA, ACERCA DO QUE LEU NO CASO DA FACE OCULTA?




COMO SE PODERÁ FAZER A HISTÓRIA COMPLETA - COM VERDADE NUA E PURA - SOBRE O SALAZARISMO E A PIDE, SABENDO QUE ESTA ERA A ÚNICA ORGANIZAÇÃO PODEROSA QUE, DE UM MODO TOTAL, APOIAVA SALAZAR, EM TODAS AS DEMAIS - FORÇAS ARMADAS, IGREJA, UNIÃO NACIONAL, MUNDO EMPRESARIAL, UNIVERSIDADES - HAVIA DISSIDÊNCIAS E DELAS TODAS, ATÉ DO OPUS DEI, A PIDE E SALAZAR , OU SALAZAR E A PIDE DESCONFIAVAM?

COMO HIPÓTESE:




PONHO A QUESTÃO, SE SALAZAR A PARTIR DE DADO MOMENTO NÃO FICOU PRISIONEIRO DO MONSTRO QUE CRIOU - A PIDE - QUE LHE FORNECIA INFORMAÇÕES SOBRE O SEUS MINISTROS, COMO PEDRO BRANDÃO DEMONSTRA EM "SALAZAR E A CONSPIRAÇÃO DO OPUS DEI", OBRA RECENTE A LER COM ATENÇÃO E PERSPICÁCIA'















            andrade da silva



            PS: depois de muita trabalheira a paginação deste texto saiu como está.

3 comentários:

Marília Gonçalves disse...

que acrescentar a tal trabalho?
o abraço nao compensa tanto esforço, mas aqui fica, Marilia

andrade da silva disse...

Marilia

Grande trabalheira, mas as àguas correm a grande velocidade debaixo das pontes, não contemplam os sinais e, por vezes, morrem em charcos, mas que fazer?
São pasto de mosquitos e não de primaveras. É o destino que muitos têm como pesadelo, julgsndo sonho, tal como os judeus que subiam as rampas dos altos fornos, olhavam os céus e pensavam que iam a caminho de casa.

A história de um ou outro modo é uma repetição monstra da estupidez fanatica do passado. UMa imbelicidade letal.
obrigado
abraço

Marília Gonçalves disse...

tanto crime no decorrer da humana (desumana) história! e uns repetem crimes de que foram vítimas e cujo horror conhecem
em nome de quê? de riquezas de Poder de fanatismo!
Para vidas, de todos tão breves!
como se algo pagasse a alegria fraterna da Paz!?

abraço amigo

Marília