segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DIVAGAÇÔES SOBRE AS RECORDAÇÕES DE ÉVORA.




Uma amiga de Évora contactou-me, e, fez-me recordar  que passei uma parte da minha vida nesta cidade, embora, pequena, em tempo, mas grande em acontecimentos. Estavamos no  PREC.

Foi uma experiência extraordinária inimaginável, era o zé povinho, meu irmão, não sei se com ou sem instruções do PCP, ou de outrem a fazer a sua história. Andei e ando sempre ao lado dos oceanos dos partidos, embora os visite, quando sou convidado. De mim conheço e reconheço sobretudo o povo heróico que faz a sua história e a do país em cada segundo que passa.

Também recordo que quando foi um meu camarada para governador civil de Évora, disseram-me que tinha sido aventado o meu nome, mas os militares acharam que era novo demais. Todavia foi pena, teria sido um governador civil até ao limite das competências, e a resposta ao 25 de Novembro 75 teria sido provavelmente outra, assim, tudo também foi menos complicado para mim e quiçá para o povo do Alentejo.

Mas não duvido que teria sido uma experiência muito interessante, e algo de diferente teria acontecido, se não no conteúdo da função, pelo menos, a sua execução teria sido diversa, mas assim, talvez tenha sido melhor para todos, sobretudo para as famílias antigas, os terratentes, que regressaram e retomaram o poder pós 25 de Novembro, todavia  de um modo mais limitado, apesar de ter sido sobre cadáveres.

 Assim, se vê que mesmo no PREC havia medo do sonho de liberdade e realização de um jovem capitão, que encarnava o sentir do povo e, que, então, numa eleição democrática directa ganharia o voto do povo, e, por maioria de razão, no contexto da legitimidade revolucionária deveria ter exercido um cargo, como o de Governador Civil, não por uma questão de vaidade, mas de Revolução.

Pobre PREC!

 Pobre País que desconfia sempre dos jovens e adora as ideias reumatizadas,e, por isto, é o que se vê. O país  sempre a andar de costas para o Futuro, e, não me venham com a treta que o desanimo é meu, porque  acredito que o povo arrebentará sempre com as amarras que o seguram aos fundos lamacentos dos presentes.

O povo descobre sempre e conquista o terreiro da liberdade, só que o tem perdido vezes demais, e é pena e dramático.Talvez se confiarmos o  Futuro a Jovens honrados,  o amanhã possa ser diferente, melhor e mais justo.

andrade da silva



2 comentários:

andrade da silva disse...

Claro e decisivamente para a questão que levantei e quero revelar, pouco interessa se teria sido um bom ou mau governador civil, isso, está fora de questão não fui, ponto, mas que seria diferente não tenho dúvidas.

Mas o que me importa referir é que no PREC, como no 25 de Abril 74, as decisões das cúpulas foram quase sempre do estilo conservador, o mais velho é o escolhido para o cargo, o mais antigo para o comando, como foi no 25 de Abril 74 em que a força que saiu de Vendas Novas foi comandada por um capitão que sempre foi suspeito de ser do regime, e continuou sob suspeita de todos e da coordenadora do MFA, acabando por ser afastado de Vendas Novas, por ter atitudes contra-revolucionárias e de sabotagem da disciplina no quartel.

Obviamente que tenho pena de não ter desempenhado um cargo civil não por vaidade, esta, não me aquece, nem me arrefece, sempre a tratei como uma impostora, agora, creio que teria usado o cargo até ao limite, e no 25 de Novembro teria tido outra possibilidade de responder ao pedido que me foi feito para naquela data defender o 25 de Abril com um punhado de gente disposta ao sacrifício, mas que naquelas circunstâncias seria inútil, sobretudo, depois do PCP ter dado sinais claros que não interviria no teatro de operações.

Concluindo o conservadorismo parece ter sido sempre o factor dominante, quando a decisão tinha um carácter revolucionário, como foi, então, a necessidade de nomear elementos do MFA, para cargos civis ou militares, e, esta, é que é a QUESTÂO NUCLEAR, na minha opinião, reveladora do conservadorismo dos pseudo revolucionários que dominaram um processo que só foi revolucionário por rebeldia do povo e de outros, alguns, poucos.
asilva

Marília Gonçalves disse...

Aqui fica para ti Capitão

JURO NUNCA ME RENDER

Pela minha terra clara e o povo que nela habita e fala a língua que eu falo, juro nunca me render.
Pelo menino que fui e o sossego que desejo para o velho que serei, juro nunca me render.
Pelas árvores fecundas que nos dão frutos gostosos e as aves que nelas cantam, juro nunca me render.
Pelas montanhas e rios e mares que os rios buscam, com o seu murmúrio fundo, juro nunca me render.
Pelo sol e pela chuva e pelo vento disperso e pela plácida lua, juro nunca me render.
Pelas flores delicadas e as borboletas irmãs que nos livros espalmei, juro nunca me render.
Pelo riso que me alegra, com a sua nitidez de guizos e de alvorada, juro nunca me render.
Pela verdade que afirmo, dos que a verdade demandam até à contradição, juro nunca me render.
Pela exaltação que estua nos protestos que não escondo e a justiça que os provoca, juro nunca me render.
Pelas lágrimas dos pobres e o pão escasso que comem e o vinho rude que bebem, juro nunca me render.
Pelas prisões em que estive e os gritos que lá esmaguei contra as mãos enclavinhadas, juro nunca me render.
Por meus pais e meus avós e os avós dos avós deles, com o seu suor antigo, juro nunca me render.
Pelas balas que vararam tantos peitos de homens justos, por amarem muito a vida, juro nunca me render
Pelos amigos queridos e os companheiros de ideias, que são amigos também, juro nunca me render.
Pela mulher a quem amo, pelo amor que me tem, pelos filhos que são dos dois, juro nunca me render.
E até pelos inimigos, que odeiam a liberdade, e por isso não são livres, juro nunca me render.

Armindo Rodrigues