A semana que passou ficou marcada pela
publicação do acórdão do Tribunal Constitucional, declarando a
inconstitucionalidade do corte de subsídios de férias e Natal a trabalhadores
do sector público e pensionistas. Dada a extrema importância que o mesmo se
reveste, bem como as consequências que o mesmo terá na sociedade portuguesa nos
meses (senão anos) vindouros o texto desta semana abordará esta questão num
angulo diferente daqueles que têm circulado nos media e no ciberespaço.
Cronologia de um Golpe
Desde muito jovem não acredito em coincidências e agora que o nó se vai
apertando em torno dos Portugueses, e a Pátria enfrenta a sua hora mais sombria
em muitas décadas, importa fazer uma breve resenha do que aconteceu à luz
daquilo a que alguns chamarão teoria da conspiração (isto é, por enquanto não
pode ser provado documentalmente, mas as provas são por demais evidentes):
1 1- Terceiro trimestre do ano passado:
O actual Executivo anuncia uma
contribuição extraordinária (novo imposto encapotado) a pagar em sede de IRS,
correspondente a 50% do subsídio de Natal a ser liquidado quando do pagamento
do referido subsidio. Esta medida impopular é fortemente contestada mas levada
avante. Medida que foi determinante para as contas de 2011 e rendeu aos cofres
do Esta pouco mais de 1.000 milhões de euros: cerca de 840 por via da retenção
na fonte extraordinária em 2011 e quase 200 milhões de euros a serem cobrados
este ano depois de todos os contribuintes entregarem as suas declarações de
imposto. Desemprego e descontentamento social aumentam.
2 2- Outubro, Novembro e Dezembro:
O país fica politicamente ao rubro, com
múltiplas manifestações e greves de todos os quadrantes contra as politicas de
austeridade impostas pelo governo e pela aprovação na Assembleia da República
do Orçamento Geral do Estado 2012 - claramente inconstitucional (mesmo aos
olhos de um leigo) na questão do confisco dos subsídios de Férias e Natal para
os servidores do Estado e pensionistas - e com a sua posterior promulgação por sua Exa. o Presidente da República. Desemprego e descontentamento social aumentam.
3 3- Janeiro de 2012:
Em sede de (des)concertação sindicatos (excepto os afectos à CGPT
que abandonou as negociações), patronato e o Executivo chegam a acordo sobre
novo acordo laboral, altamente penalizador para os trabalhadores do sector dito
privado, mas que é aceite na premissa que estes últimos teriam saído
favorecidos no OGE 2012, dado que não estariam sujeitos à suspensão dos
subsídios de Férias e de Natal como aconteceria aqueles que trabalham no sector
público.
Desemprego e descontentamento social aumentam.
4.4- Fevereiro de 2012:
Milhares de cidadãos através de
associações como a AOFA e de organizações sindicais recorrem ao Tribunal Constitucional
para que este se pronuncie sobre o OGE/2012 e a sua inconstitucionalidade.
Greves, desemprego e descontentamento
social aumentam novamente.
5 5- Março de 2012:
A Grécia quase entra em bancarrota e é
salva com um segundo resgate financeiro aprovado in extremis.
Por cá o desemprego continua a aumentar
e são efectuadas novas greves.
6 6- Abril de 2012:
Desemprego, mesmo em estatísticas
oficiais, atinge valor recorde em Portugal. Receitas fiscais mostram-se muito
aquém do esperado e continua a aumentar o défice nas contas públicas. Órgãos do
Estado começam a dar sinais de ruptura em face dos cortes impostos pela
política de austeridade do actual Executivo. Aumenta a contestação social logo
contraposta pela arrogância das principais figuras do regime que passam a
acusar todos aqueles que se opõem de procurar mediatismo imediato
aproveitando-se da débil situação do país.
7 7- Maio de 2012:
Manifestações do primeiro de Maio
abafadas/desviadas por uma espetacular campanha de promoção de 50% de desconto
efectuada por uma cadeia de distribuição alimentar com a anuência do governo.
Apesar de se tratar de um esquema de dumping, proibido na legislação nacional e
internacional, é rapidamente esquecida e perdoada. O desemprego continua a
aumentar exponencialmente e começa-se a verificar um aumento da mortalidade
(suicídios e outros motivados pelas politicas de austeridade) que não é vertida
e processada estatisticamente de uma forma correcta e imparcial. Surgem rumores
de uma eventual promiscuidade entre partidos políticos e candidatos a Juízes do
Tribunal constitucional. Surgem também evidências de ligações entre grupos
empresariais sombrios e a comunidade de informações que ganham contornos de uma
autêntica tentativa de golpe de Estado silencioso. Todas as situações passam
impunes embora sobejamente conhecidas por todos os portugueses. A situação
politica/económica a nível da União Europeia ameaça a ruptura com o resultado
das eleições Helénicas, com a crescente dificuldade financeira de Espanha,
Itália, Chipre e Eslovénia. O eixo Berlim-Paris enfraquece com a derrota
eleitoral de Sarkosy.
8 8- Junho de 2012:
A instabilidade varre a União Europeia e
fala-se do fim da União Monetária e da própria UE. Pressionados e abandonados
por todos o povo Grego capitula nas Urnas e submete-se ao carrasco da Troika. A
UE respira de alívio por uns dias até os “mercados” virarem as baterias para
Espanha e Itália, que numa jogada desesperada a 28 de Junho encostam a UE
(Berlim) à parede e conseguem momentaneamente um resgate financeiro sem a
assinatura de um memorando de entendimento e sem ter que implementar medidas de
austeridade. Em troca deste alivio dos mercados os representantes dos países
presentes aceitam ratificar o Tratado Orçamental e aceitar a centralização da
supervisões bancárias no BCE. Na prática aceitam a perda uma parte substancial
das Soberanias nacionais em troca de uma solução temporária e ineficaz para
acalmar os “mercados financeiros” e abrem a porta a federalização da União
Europeia.
A
nível nacional a situação continua-se a degradar exponencialmente, o desemprego
aumenta e com ele a contestação popular. O défice nas contas públicas continua
a aumentar, o executivo começa a admitir que não terá receitas suficientes para
o diminuir ao nível acordado com a Troika. No dia 29 de Junho é anunciada a
nomeação dos novos juízes para o Tribunal Constitucional, matéria já esquecida
na opinião pública.
9 9- Primeira semana de Julho de 2012
A nível da UE vários países voltam atrás
no compromisso assumido na Cimeira realizada a 28 e 29 de Julho. A Finlândia
afirma-se disposta a abandonar a UE caso a sua permanência implique avalizar os
resgastes financeiros de Itália e Espanha ou reestruturar novamente a dívida
Grega. O Chipre contrai um novo empréstimo junto de Moscovo, que lhe salva da
insolvência imediata enquanto aguarda um plano de resgate financeiro por parte
da Troika.
A nível interno no dia cinco de Julho
(quatro dias após a nomeação dos novos elementos) o Tribunal Constitucional
publica um acórdão que declara a inconstitucionalidade do corte de subsídios de
férias e Natal a trabalhadores do sector público e pensionistas.
No entanto, este acórdão vai mais além e determina que esta decisão não tem
efeitos para este ano. Ou seja, é ILEGAL mas neste ano o governo não tem que repor
a legalidade. Mais, todo o acórdão tem como base a equidade fiscal entre
cidadãos abrindo uma brecha monumental, aproveitada por Passos Coelho, para
alargar este confisco ao resto da população e conseguir a receita necessária
(detectada a sua falta em Junho) para cumprir as metas impostas pela Troika.
O que está em causa, e sempre esteve, além da equidade fiscal é a
inconstitucionalidade do OGE/2012 por violação do disposto no Artigo 59º alínea
d) da Constituição da República Portuguesa que estipula:
ARTIGO 59º
(DIREITOS DO TRABALHADOR)
....
d) Ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho, ao
descanso semanal e a férias periódicas pagas.
Caros amigos, chegados a este ponto é legítimo perguntar em que tipo de
regime vivemos?
A Constituição da República não é
respeitada (agora até com o aval do Tribunal Constitucional), o património
nacional e sectores estratégicos essenciais para a sobrevivência da Pátria e
dos Portugueses são alienados ao desbarato juntamente com o que resta da Nossa
Soberania. As medidas de austeridade (para alguns) impostas pelo Executivo
ameaçam a sobrevivência do Estado e literalmente a vida dos nossos concidadãos.
A situação nacional vai-se agravar ainda mais e não tardará que surjam muitos
mais actos desesperados.
Mas enquanto a Pátria agoniza e
definha mortalmente e com ela cada vez mais Portugueses, muitos daqueles
que juraram solenemente defende-la, a custo da própria vida se necessário,
viram a cabeça e assobiam recusando honrar o seu compromisso e a sua palavra de
Honra.
Não podemos continuar a ignorar as evidências, a refugiar-nos em argumentos
legais para não agirmos... É chegada a hora de dizer BASTA!!! É chegada a hora de refundar Portugal!!!
Nuno Melo
06 de Julho de 2012.
2 comentários:
Concordo contigo Nuno,mas considero que a acção em curso de facto é bem mais severa que um golpe. Geralmente nestes, um grupo de Nacionais procura tomar o poder,para o exercer em beneficio do seu grupo interno.
Todavia no presente e de um modo angustiado a minha convicção - que não radica nas convicções de nenhum partido - é que estamos a ser governados, na governança e nas oposições por regedores ou comissários de outras potencias - assim por um género de andeirismo mais global e rançoso - que pura e simplesmente querem DESTRUIR PORTUGAL.
Esta constatação é de uma ansiedade tamanha,porque me parece que o POVO condenado não reage, como o meu amigo Nuno julga, há desesperos, mas não há nenhuma consciência coletctiva para a mudança, só aparecem velhos aguadeiros e remendadores que querem que algo pareça que muda, para tudo continuar na mesma, e, obviamente, que não se sabe ao certo qual o comportamento das Forças Armadas,Policiais e os Tribunais se os desesperos, desesperarem e, sobretudo, criarem a consciência colectiva para a mudança com nova LIDERANÇA Nacional.
Como parece resultar muito claro, os lideres em exercício não estão nem à altura desta hora ( nem sequer ainda explicaram à Nação o que afinal foi e é esta crise) e muito menos dos destinos de Portugal e da Europa.
Com eles e os aguadeiros de antanho vamos viver vegetando nos próximos 10, 20, 30 anos,como tenho referido e vou voltar ao assunto.
abraço
Asilva
http://videos.sapo.pt/kzZH4Ua8qCjuDPNQkL9a
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