domingo, 14 de outubro de 2012

BILHETE POSTAL DE SENTIMENTOS E AMOR .

(A minha MÃE)

(O meu PAI)





AMIGAS E AMIGOS


No dia em que a minha mãe faria 93 anos de idade, se estivesse entre nós, vos digo:
A nossa mãe e o nosso pai são dois em um, uma unidade - pais.


A minha mãe e o meu foram para mim essa unidade, mas o meu pai partiu muito cedo, tinha eu 15 anos ( custa-me a escrever, as lágrimas perturbam-me a visão) ele era um grande homem, recto e honesto, mas quem nos conduziu nestas tormentas e que tormentas, após a sua morte , foi a minha mãe.

O fascismo foi terrível para a minha família, o meu pai era capitão, e em 1963, quando morreu, o estado fascista dava depois da sua morte a cada filho 100 escudos menos um escudo de imposto de selo, nós éramos 3, a casa custava de renda 350 escudos, antes vivíamos numa de 600 ou 700, ora, isto, obrigou a que a minha mãe fosse trabalhar, e foi.

Continuei e estudar e arranjei a m..da de um part time, mesmo assim a muito custo. Depois ingressei na Academia militar e o meu actual cunhado ajudou muito a minha família, mais ninguém nos ajudou, até fomos espoliados em bens materiais do meu pai, pela dita família.

Vencemos!

Todavia, quando os “grandes democratas” do 25 de Novembro implantaram a Democracia deles, a da perseguição à gente generosa do 25 de Abril, fui preso , em 76,  por 2 anos, tinha 26 de idade,  e aquela mãe veio da Madeira, e foi viver para a casa da Modesta no Couço, e, por isto, encontrou o  meu camarada Matos Serra,  nas viagens de ida e volta, quando me ia visitar à  prisão.

Na prisão muitos dos meus camaradas não me abandonaram e muitas dezenas de Alentejanos do Couço, Vendas Novas ( o Inocente), Montemor e Escoural ( o Pias) e amigos de Almada ( a Quinita) e também a incansável amiga D. Helena, uma muito querida amiga do MDP/CDE que esteve sempre presente, bem como o capitão Ferreira de Sousa e a sua mulher, (a Lay) os meus advogados, ( Xencora Camotin e Goucha Soares) Vasco Gonçalves, Carlos Fabião, Otelo ( devo-lhe isso), os capitães de Abril Lameirinhas , Miranda e Pinto Soares nunca os esquecerei, como também não esquecerei os que em me chamaram de herói em 75 e depois… foi um vento que lhes deu.

De tudo isto, resulta o meu compromisso com o povo plebeu de que faço parte, contra todo o bando que matou, prendeu, roubou e julgam-se democratas, e que ainda têm uma palavra  de bem e para bem do povo.

Malditos!

NUNCA A VOSSA HORA CHEGARÁ, porque neste reino só tem havido alternância: A LIBERDADE; A DIGNIDADE E O DESENVOLVIMENTO estão ausentes das preocupações presentes e de muitos propósitos para o Futuro.

Caírei, mas jamais me voltarão a enganar – conheço-vos filhos das trevas.

Mãe

Tu também não te deixavas vergar, vivestes até aos 91, mas serás eterna, enquanto vivermos e te recordarmos. Um beijo.

Abraços e beijos para todos e aos vossos pais e mães de acordo com os costumes.

Um abraço muito Especial para ti caro camarada Matos Serra e para a Maria Antónia.

Do vosso


joão



1 comentário:

Marília Gonçalves disse...

ah Capitão, quando vais ao fundo de ti, o mundo abre-se à tua frente e fica uma paisagem clara e transparente com que nos enches a alma e o coração
Não chores Capitão, ou se choras que não seja de de desgosto,mas de orgulho, as tuas lutas de menino, as dos teus, de tua mãe, são motivos de riso e de vitória!porque, amigo, sempre que a Honra ganha, é dia e anos de festa e alegria, porque manter-se no caminho apesar de todas as amarguras e traições, te aponta onde se encontram os sentimentos verdadeiros e os valores inalteráveis
Venceste Capitão, venceu tua heroica mãe e essa Victoria fica para sempre inscrita em passos que o tempo nunca apaga! Que honra para mim, ser tua amiga, sendo quem és depois de quanto passaste
o meu grande abraço

Marília