terça-feira, 4 de novembro de 2014

10 - JORNAL DE PAREDE * Da humana condição





É quando a morte chega à Feira das Vaidades
que ganha nitidez a nossa condição.


É quando o sal amarga e queima as veleidades
que a morte nos reduz à nossa dimensão.


É quando a luz do sol, cegando o vaga-lume,
esmaga a pequenez da néscia presunção.


É quando por grasnar chilreio se presume
que uma qualquer lamúria intenta ser canção.


É quando a Lua-cheia incita à tentação
que a noite se revela enleio enamorado.


É quando não há mais varinhas de condão
que o charlatão se quer o príncipe encantado.


É quando já ninguém consegue acreditar
que o verso em armas faz da vida o seu altar.





José-Augusto de Carvalho
Viana * Évora * Portugal
(In «Da humana condição», 2008)