quinta-feira, 25 de junho de 2015

02 - O ESTADO DA NAÇÃO * A reflexão indispensável




Só as chamadas forças naturais têm poder para condicionar-nos. E algumas destas poderemos evitá-las ou enfrentá-las com maior ou menor êxito, assim haja engenho para amenizar os seus efeitos danosos; perante outras, teremos de suportá-las e tentar aprender como minorar os seus efeitos quase sempre devastadores.

Reconhecido o poder das forças da natureza, as demais forças ditas humanas ou sociais dependem do Homem. Como sabemos, o Homem tanto constrói uma cidade no deserto como desertifica uma região pujante de vida. 

Interesses particulares ou de grupo levam o Homem a dar razão a quem já o qualificou de lobo do Homem. Aliás, qualquer manual de História evidencia a dolorosa caminhada da Humanidade, no qual avultam as misérias e rareiam momentos de grandeza.

Ora estas tantas misérias e tão raras grandezas tanto ocorrem nos países como em cidades, vilas ou aldeias.

Aos povos incumbe criar condições (ou adequar experiências existentes, contemporâneas ou anteriores) conducentes à obtenção de resultados benéficos à sua condição e ao seu viver quotidiano. Afinal, o objectivo do Homem é viver em dignidade. Só que esse objectivo mais e mais se assemelha ao horizonte --- sempre à nossa frente, nunca ao nosso alcance.

Qualquer cidadão, inclusive o mais incauto, percebeu há muito que os povos são governados deficientemente, quer porque valores inaceitáveis tal determinam, quer porque os governantes revelam uma impreparação mais ou menos visível para os cargos que desempenham. Como dizia um velho amigo, já desaparecido: «Ser bom rapaz é um bom princípio, mas não passa disso e não chega.»

Há nas pessoas um azedume constante. Ouvimos queixas e lamentações, ouvimos criticas e acusações. Claro que haverá sempre insatisfação. Evidentemente que esta situação revela uma consciência crítica deficiente. E o motivo do que digo radica nesta outra situação: ninguém se considera co-responsável por tudo quanto critica. Ora num Estado de Direito os cidadãos são os primeiros responsáveis pelos governantes que têm. O acto de votar é determinante e responsabiliza seriamente o eleitor. Votar é escolher; logo, quem vota escolhe e se escolhe mal fica mal servido, naturalmente. 

Vivemos há quarenta anos em democracia. Não é mais aceitável a desculpa da impreparação ou do desconhecimento.

Hoje, temos o Presidente da República que a maioria escolheu; temos o Parlamento que a maioria escolheu; temos o Governo que a maioria escolheu; temos o Poder Local que a maioria escolheu. Tal qual!

Se temos tudo quanto a maioria escolheu, é uma falácia querermos ficar de fora. Assumamos o erro da péssima escolha em que incorremos há quarenta anos; e continuemos a caminhada para o abismo ou assumamos a ruptura definitiva com quem tão mal desempenha os cargos que entregámos com os nossos votos.

Há quarenta e um anos, vitoriámos os militares que nos libertaram da opressão; desde há quarenta anos, vimos votando maioritariamente em quem nos trouxe até aqui. Afinal, estávamos errados quando vitoriámos os militares ou estamos errados desde que vimos votando?

Será que ainda não percebemos que o 25 de Abril de 1974 (e com este dia inesquecível a Revolução dos Cravos) foi desfigurado em 25 de Novembro de 1975?

Será que ainda não percebemos que não vivemos Abril mas sim Novembro há quase quarenta anos?


José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 25 de Junho de 2015.





1 comentário:

andrade da silva disse...

Caro Carvalho

Co-responsabilidade teremos, mas quando fazemos o que podemos,para que a moralidade,ajustiça,a solidariedade imperem e quase todos tapam os ouvidos, não sei bem como identificar essa responsabilidade.

Cristo pregou o Amor e foi crucificado por isso,será ele também co-responsável pela violência que o sacrificou?

abraço
asilva