domingo, 21 de junho de 2015

05 - POEMÁRIO * Na esteira de Holderlin




1

Quando eu canto a beleza da ternura

dum maternal sorriso...

Quando eu canto o perfume da manhã

nas pétalas da flor...

Quando eu canto a suave melodia

do arroio cristalino...

Quando eu canto

o sol que se deslumbra nos meus olhos...

Quando eu canto a chorar

a prisão já perdida dos teus braços...

em mim superlativo a inocência.



2

Quando eu recuso

as trapaças melífluas dos cambistas...

Quando eu contesto

as negaças fatais dos vendilhões...

Quando eu empunho

a força da razão contra a razão da força...

Quando eu não cedo

às oferendas áureas da traição...

Quando eu prefiro

tombar à ignomínia de negar-me...

eu assumo o mais perigoso bem,

o do verbo dizendo-me quem sou.



3

Rasguei muitas estradas

e em todas procurei o rumo certo...

Aos ombros carreguei

os fados por aspérrimas ladeiras...

Olhando o céu,

só astros vi no longe inacessível...

Nos ecos que supus

chegavam-me os clamores doutros eus...

e ouvindo os outros

eu percebi que não estava só...



4

A verdade de nós

é que nem tudo passa nesta vida...

A verdade de nós

é que da morte irrompe sempre a vida...

A verdade de nós é a raiz

do alento novo em cada primavera...

A verdade de nós

é que na vida efémera que somos

o grito dos poetas permanece.



5

Na angústia do passar

o verbo reverdece todas as manhãs

no esplendor da Poesia.

*

José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 21 de Junho de 2015.






1 comentário:

andrade da silva disse...

caro Companheiro o homem inteiro assim se define:

"Quando eu prefiro

tombar à ignomínia de negar-me...

eu assumo o mais perigoso bem,

o do verbo dizendo-me quem sou".


Abraço
joao