quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

DIÁLOGO: ABRIL E DESCOLONIZAÇÃO - PENSARES E SENTIRES.

 
Nota:  Casa em Lourenço Marques,  desenhada por um arquitecto português..
 
Há dias assim, ia falar dos capões mundiais, senhores da Guerra : Obama;Putin. Merkel e o Sr. da China, acabei por partillar o e-mail do poeta Alentejano Carvalho, hoje, iria falar da praia dos imaculados corruptos, mas depois do diálogo com a minha mãe, que, através, do meu camarada Luis Campos deu de certeza lugar para que as nossas mães tivessem um assunto para quebrarem a monotia e chateza da eternidade, para o que bem basta falarem de nós, neste contexto, também surgiu o diálogo com a minha irmã que revelou que a minha mãe num dado dia teve medo, e, ainda, o diálogo com Maria José Gama, que tendo editado a obra " A Memoria è Vital " da editora Arandis,lx 2014, decidi partilhar a nossa conversação que faz parte dos comentários editados, e revela pensares e sentires, na minha opinião, muito nobres, o que, em tempos quiçá novos são realidades transcendentais. Ei-lo:
 
João Andrade da Silva:
 
Um grande abraço à mãe, avó e Heroína Maria José Gama.
Vencer a descolonização com coragem, compreendendo o que tão injusto aconteceu só uma muito nobre alma. Para mim seria muito dificil aceitar um processo histórico tão ingrato e tão injusto para tantos, como foi para si, a nossa amiga comum Sandra e também tantas outras pessoas portuguesas e africanas, o que, me dói muito: uma ferida não sarada.
Ainda hoje, falando com alguns dos meus camaradas nos referimos, a quanto a descolonização e as suas consequências imediatas e actuais foram tão opostas ao que pensamos que aconteceria terminada a guerra, como, aliás, conhece desde há muitos anos.
Abraço.
João
 
Maria José Gama:
 
Muito obrigada João por tão amigas e generosas palavras que me tocaram profundamente, mais a mais, vindas de quem muito admiro e considero.Na realidade o heróico foi o João, quer em África enquato jóvem militar, quer como militar de Abril,pois pôs muito corajosamente a sua vida em risco pelo País e pelos valores democáticos Bem- Haja Caro Amigo e Mui Digno Coronel.
 
João Andrade da Silva:
 
Maria José Gama não descuro a valor da nossa/ minha, acção, mas estive sempre enquadrado, a cumprir uma missão, estive em ambientes de quase caos, mas com dominio na situação nunca no caos entregue a mim mesmo: A grande, a gloriosa epopeia que a História registará, respeito e dela falei,falo e falarei foi, é, a dos portugueses e africanos que sairam daqueles infernos e venceram em Portugal, e também, aqui, os portugueses no seu conjunto foram grandes, e, mais ainda, aqueles, como é o seu caso que fez o melhor que sabia e podia, vencendo barreiras poderosas, para ajudar outros que daquelas paragens regressavam.
A nossa muito nobre acção do 25 de Abril, perante a vossa gesta é tão só uma nobre acção, a vossa, a sua, para além de nobre foi de uma incomensurável dor, incerteza, resistência, bem mais dificil..A Todos vos devemos muito. Mas, julgamos que nas condições em que tudo aconteceu., pelo menos os jovens capitães do MFA e talvez Portugal não pudessem fazer mais nada. Os factos históricos são o que são,ponto. Mas as pessoas devem merecer o nosso mais profundo respeito. consideração e amizade, é o que lhe dedico em particular e á nossa amiga comum Sandra,e também a muitos outros como o Vaz e compreendo o comportamento de outros, quiçá seria a minha atitude no caso deles, por me faltar a grandeza dos que venceram a tormenta da descooinização, sem ódios: Grandes Portugueses e Grandes Africanos.
abraço
João
 
Maria José Gama:
 
Claro que tudo o que afirma corresponde a uma realidade histórica em que o João foi um dos protagonistas. Não esqueço que a sua acção foi enquadrada numa missão, para a qual foi preciso muita coragem, Coragem esse redobrada aquando do 25 de Abril. Pois se o Golpe tivessa falhado os governantes de então não teriam perdoado os militares do MFA, e ter-vos-iam tratado sem benevolência.
 
João Andrade da Silva:
 
Maria José Gama Sim, sim, tinhamos essa consciência, ou mesmo de sermos mortos. Fomos uns grandes portugueses também, e alguns de nós: o Salgueiro Maia e outros tivemos de tomar grandes decisões, demos passos maiores que as nossas pernas e idades, tinha no 25 de Abril, 25 anos, o que, me dá um prazer e um honra enormes Bem-haja pelo seu espirito de justiça que tanto falta em Portugal.
Abraço
joão

2 comentários:

Maria José Gama disse...

Fui agradavelmente surpreendida ao ver este diálogo que, pela minha parte,é naturalmente simples, editado neste blogue "Liberdade e Cidadania" que costumo ler com muito interesse e apreço.
Este diálogo foi mais um dos muitos que ao longo dos anos o Coronel João Andrade da Silva e eu fazemos sempre que algo sobre a situação político-económica, quer do nosso País, quer do mundo que nos rodeia nos traz preocupados. Pois dada a sua vivência militar, pessoal e de Psicólogo é-me sempre importante conhecer a sua opinião lúcida e esclarecedora, por vezes profética.
Aproveito o ensejo para reiterar-lhe o meu muito obrigada pelas suas sempre tão generosas palavras , certamente ditadas pela amizade.

andrade da silva disse...

Maria José

Como digo é um diálogo espontâneo, sincero . Estava publicado em comentários no facebook e não se devia perder . O seu depoimento É um balsamo para tanta ferida, ainda em carne viva, e também é importante, porque revela preocupações intrínsecas que nos acompanham de um modo estrutural ao longo do nosso já também longo conhecimento.

Agradeço o que tem feito por Portugal e pelos portugueses: uns que regressaram, outros refugiados das antigas colonias. A sua compreensão do processo histórico é um ACTO DE UMA INCOMENSURÀVEL grandeza humana e sábia que de todos deve ser conhecido, mesmo para além do alcance da obra que editou.

A sua vida é para todos nós uma grande lição que se deve conhece e uma tão nobre cidadã e pessoa, como sempre a vi.

Um grande abraço

joao

Abraço e Bem_Haja por ser a Portuguesa, A Fricana e a Cidadâ Universal que é.