quinta-feira, 31 de março de 2016

CRUZ OLIVEIRA, CAPITÃO DE ABRIL, PARTE PARA A MORADA COSMICA UNIVERSAL





Capitão de Abril, foi secretário de estado da saúde em julho 74, onde, lançou alicerces importantes para o SNS que conhecemos, sobre o que teorizou num estudo comparativo com outros países, publicado em Novembro 74, no Obra o Livro Cinzento.

Cruz Oliveira médico da Força Aérea também foi afastado, após os acontecimentos de 25 Novembro 75, tendo sido mandado para a prisão de Custóias, numa coluna militar que durante o trajecto, ou já na prisão poderiam ter sido sujeitos a um dado truque, que também me foi sugerido fazer em África, em Mucaba, com um negro detido, como suposto terrorista, e que lhes poderia ter custado caro. Tal não aconteceu por intervenções várias que o próprio Carlos Oliveira me relatou nas comemorações de um 5 de Outubro, junto à estátua de José de Almeida.

Cruz Oliveira também me visitou várias vezes, durante os meus cerca de dois anos de prisão (76-79) na prisão da Trafaria como camarada e médico. Na defesa da minha saúde entre receitas etc. ofereceu-me um aquecedor elétrico para matar a grave humidade daquele sitio, sendo eu absolutamente alérgico a tal calamidade -a humidade, foi uma dádiva importante

Ao seu filho João Carlos que tão  comovida e generosamente o acompanhou em todos os momentos, neta e neto, parentes, amigos e amigas, em particular, à nossa amiga comum Maria José Gama, e a todos os camaradas um amigo abraço

andrade da silva

PS:

MONSTRUOSO....MONSTRUOSO.....MONSTRUOSO..... A BESTA DE SEMPRE.

Carta de Cruz Oliveira, que desconhecia ,postada por Joaquim Pina : Carta divulgada pelo Coronel na reserva Mário Tomé e que faz referencia aquilo que o Coronel Andrade Silva faz referencia neste seu artigo: Meu caro Ramon de La Féria

Em tempos escrevi-te uma carta curta, mas bastante sentida, em que te agradecia o quanto te devia pessoalmente, e também quanto te deviam muitos dos que devotadamente se envolveram em defender os ideais de Abril. E sinto agora novamente necessidade de te escrever, para que, quem desconhece o por ti feito, possa avaliar a tua coragem, nobreza anónima e determinação que obstou a que tivéssemos sido exterminados como esteve para acontecer depois do 25 de Novembro. Mas passo a contar:

Em meados de 1978, estava eu sentado na mesa de uma esplanada com o meu advogado e nosso comum amigo, Teófilo Carvalho dos Santos, que era na altura o meu advogado para me defender das perseguições de que estava a ser alvo por parte da Força Aérea, quando passou um homem que ele cumprimentou dizendo – Adeus, Ó Mário! – e perguntou-me – Você não conhece o Cal Brandão? E com a singeleza e simplicidade que o caracterizava contou-me: Você lembra-se de que quando esteve preso em Custóias, correu o boato de que havia um grupo de doze presos que deviam ser liquidados?

Se me lembrava! Apesar de estarmos incomunicáveis e com dificuldade em sabermos o que se passava cá fora, chegou ao meu conhecimento pelos truques em que os presos e as famílias são férteis, de que no Estado Maior da Região Militar do Norte, se estava a estudar a execução de um golpe, que visava a liquidação de doze detidos considerados como cabecilhas e perigosos. A operação a executar era simples, seríamos metidos em carros celulares e com uma escolta militar escolhida a dedo, seríamos transferidos para a Guarda. Em determinado sítio os carros detinham-se, deixavam-nos sair para urinar e seriamos eliminados a tiro sob pretexto de que tínhamos intentado fugir. Seria também inculpado nisso um grupo de ciganos, que erravam então na região. Os militares a liquidar eram os doze que posteriormente foram transferidos para o Presídio Militar de Santarém, o Campos de Andrada, o Tomé, o Queiroz Azevedo, o José Andrade, o Francisco Paulino, o José Afonso Dias*, o Álvaro Neves**, o Godinho, um “civil de apelido Luz”***, mais dois militares e eu. A operação não se realizou imediatamente porque havia dificuldade em reunir um grupo de soldados que se dispusessem a colaborar num assassinato desta ordem; isto foi o que nos contaram alguns militares já contactados para o efeito e que desvendaram o segredo às nossas famílias. A operação dependia directamente do Chefe de Estado Maior da Região Militar do Norte.

Foi num destes dias negros, que com a frontalidade com que sempre assumes as tuas atitudes, me escreveste. Uma carta sentida de encorajamento fraternal, de compreensão pelas atitudes tomadas, de esperança na persecução nos ideais de Abril. E respondi-te logo, numa pequena missiva, em que contava todas estas peripécias, ciente de que era bem possível vir a ser liquidado dentro de dias e bom seria que a história pudesse vir a contar, posteriormente, com o esclarecimento do ocorrido…Recorrendo a uma artimanha que na altura me ocorreu, mandei-te a carta dentro de um par de botas que “simuladamente” não me serviam, nem nunca chegaram a servir, que eu devolvi, através dos guardas, à minha família. Que guarda ia pensar que dentro das bolas de jornais amarrotados que enchiam as botas, ia uma carta para ti? E assim recebeste a minha carta.

A operação de transferência-liquidação, não soubemos porquê na altura, gorou-se e fomos transferidos sim, mas de helicóptero, para Santarém.

Começa aqui novamente a narração do Teófilo: - “Você lembra-se de ter escrito uma carta ao Ramon de La Féria a contar que o Pires Veloso se preparava para mandar matar alguns militares presos, entre os quais estava você? Vocês tiveram sorte, porque segundo me contou o Cal Brandão, o Ramon, nesse dia mesmo, meteu-se num avião, foi ao Porto, mostrou a sua carta ao Mário que era o Governador Civil e os dois foram falar com o Pires Veloso em termos tão firmes que ele deu o dito por não dito, que isso não era assim, que podiam estar descansados e até chamou o seu Chefe de Estado Maior, o Major Gabriel Teixeira, que era quem tudo estava tramando, que também negou a operação, que, segundo soubemos, até já tinha o nome de “Operação Montanha”.

Escapámos por pouco. E nunca se soube como nem porquê. Encontrei-te várias vezes e nada me contaste. É bem do teu carácter e da tua modéstia esse proceder. E incógnita ficaria esta façanha, um acto tão belo e de tanta determinação morreria solteiro.

Escrevo-te hoje esta carta, de que farás o uso que quiseres, certo de que, em mais um aniversário do nosso 25 de Abril, quero que as gerações vindouras te conheçam, saibam o teu nome e te considerem um Homem de Abril.

Eles agradecer-te-ão, eu não o faço. O teu acto é tal que deve se exaltado e não banalizado.

Fraternalmente teu amigo, abraça-te com dedicação e amizade o

Carlos Cruz Oliveira

Ericeira, 25 de Abril de 2001"

O facto de os doze militares terem sido, abortada a operação Montanha, transferidos para Santarém, demonstra cabalmente que um destino diferente lhes foi de antemão reservado. Aliás não tem sentido separar “os cabecilhas” quando os presos estavam, como já referi, totalmente isolados.

*Já falecido.

**Álvaro Neves, já falecido, e Godinho Rebocho, sargentos paraquedistas que encabeçaram a movimentação dos paraquedistas contestando a sua extinção como Corpo

***Militante do PRP.

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Ao Carlos Eis " soldado
que morre por ninguém num campo de batalha", ( Manuel Alegre), mas sempre a pensar na sua Pátria e no seu povo, outros o levam às guerras, mas ele, soldado, é povo, .Vi-o e vivi paredes meias com eles a guerra de Africa e a madrugada do 25 de Abril, e nas Bósnias, o mesmo de sempre : O Soldado!

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