domingo, 20 de novembro de 2016

EIA SETÚBAL!…

                                          Foto do Pintor de Setúbal Francisco Anjos

Amigas e amigos, companheiros  desta jornada da vida e de Abril.

Corria o mês de Março de 1975, era o dia 7 de Março, quando recebi uma ordem para vir até Setúbal, com cerca de 60 militares, vinha também o meu camarada tenente Sales Grade e, entre outros, o Alferes miliciano Pauleta, a nossa missão era evitarmos um grave conflito, entre a PSP e a população, com muito provável derramamento de sangue, por causa da morte de um jovem, aquando de uma contramanifestação motivada realização, na véspera, de um comício do PSD, num dos pavilhões da cidade. Este facto Zeca Afonso viria a consagrar num disco do Poder popular, editado pela Associação José Afonso, com sede nesta cidade de Setúbal.( https://www.youtube.com/watch?v=UWU...)

De Vendas Novas até aqui, naquele dia, nem sabíamos o que íamos encontrar, nem sabíamos, como habitualmente, qual era a nossa missão, o que podíamos ou não fazer, nem sequer tínhamos conhecimentos técnicos ,ou militares para enfrentar tão gigantesca tarefa. Só queríamos evitar mortes, e de facto perante a excitação, a revolta da população, com milhares de pessoas cercando a esquadra, enchendo toda a avenida em frente da esquadra e o grande nervosismo da PSP, o perigo de assalto à esquadra era iminente, e a resposta ao mesmo seria assaz violenta.

Perante, este cenário críamos um cordão de segurança, mas tudo se ia precipitando, quando do Comando da PSP de Lisboa, o, então, Major Casanova Ferreira, terá dado, segundo os agentes da PSP, ordens para montarem, numa janela o 1º andar, uma metralhadora pesada, o que, tentaram . Alertado para este facto pelo Alferes Pauleta, logo me desloquei ao local, e disse-lhes em tom muito preciso e assertivo, para desmontarem a metralhadora, e que se não o fizessem não ficaria pedra, sobre pedra, da esquadra, e que também lhes garantiríamos a segurança com o nosso total sacrifício, se necessário. O conflito acabou por se resolver, sem incidentes, infelizmente, na retirada dos policias alguns episódios foram menos dignos, mas não nos foi possível evitá-los.

A partir deste dia, a minha ligação imaterial a Setúbal estabeleceu-se até sempre, por isto e por toda a história de luta de Setúbal, mas também por ser uma bela e alegre cidade, faceta que também conheço e de que tenho disfrutado, como muitos outros portugueses, considero um acontecimento da maior dimensão humana e histórica, falar da nossa história, sobretudo, nestes tempos de esquecimento, que se repetem, não é pela 1ªvez que vivemos períodos de futebol, telenovelas, ao que desgraçadamente se junta ,de um modo feroz, as lavagens ao cérebro, pela comunicação social e muitos agentes políticos, ao que ainda se soma, ou multiplica, a parte dramática da 4ª Revolução industrial, no que pode ter de morte da cultura humanista, em favor da completa, total e exclusiva exaltação das capacidades tecnológicas e técnicas que temos de saudar, sem deixar morrer a nossa história, os nossos sentimentos, o nosso humanismo.


E, eia, onde, esta obra de Maria José Maurício se insere, na preservação da nossa história, em que muitos de nós fomos autores e actores, vivências que devemos , por inteligência, amor e sobrevivência manter presentes, sempre, e transmiti-las aos nossos filhos, netos e aos jovens. O 25 de Abril; o fim da guerra colonial - que permitiu a muitos jovens serem filhos de quem são, se a guerra continuasse muitos mais jovens, de então, teriam morrido, ou ficado gravemente feridos ou doentes; a revolução no Alentejo - a Reforma Agrária, que foi derrotada, mas a sua alma sobrevive e vive;  o poder local democrático que tanto tem beneficiado as populações locais-  muito embora , algumas obras, sejam de  novos ricos ridículas, como aconteceu nos anos anteriores a 2011 -  e o direito de cidadania das pessoas do povo, ou seja, de todos nós.

Eia do que fala a obra que, a  amiga, ilustre jornalista, Fátima Brinca., vai apresentar

Eia companheiras e companheiros de Setúbal uma obra de Abril, do nosso povo, de todos nós e de cada um de nós, com alma e coração, logo, a vossa leitura e amizade à obra é um acto justo, mas também de autointeligência, porque presta à comunidade e a cada um de nós um grande serviço de verdade histórica e amor.


Um grande abraço para todas e todos

Pelo Futuro um Viva

E uma grande recordação por todos os que já partiram e fizeram o seu melhor. Bem-Hajam, nunca os esqueceremos.

19 Novembro 2016

Andrade da Silva , na altura destes acontecimentos um tenente, capitão do Exército/ MFA com 25, 26 anos de idade

PS. Ontem na apresentação do Livro de Maria José Maurício em Setúbal. Foto de Setúbal do pintor Francisco Anjos, um bom amigo e companheiro. Abraço-vos.







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