De mim não falo, porque não importa.
De mim, apenas digo: aqui estou.
E grito não, que já ninguém suporta
a teia em que a cidade se enredou.
Falar no singular é pretender
que as pedras da calçada são só minhas,
que o luto apenas veste as andorinhas,
que a parte impõe ao todo o verbo ser.
A força conjugada que anuncia,
há séculos, a parábola dos vimes
germina, neste chão, plurais sublimes
de amor e pão, de cor e poesia...
E eu vou contigo... e tu comigo vais
gritar o não, o não de nunca mais!
José-Augusto de Carvalho
In "Da humana condição", 2008.
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