quarta-feira, 15 de março de 2017

05 - POEMÁRIO * Aguarela da Vida


QUE VIVA O CORDEL!

Aguarela da Vida




Nenhum rouxinol cantou
e era noite de luar.
No silêncio que pesou,
só um mocho que agoirou
errâncias de mal andar…


Vem rompendo agora o dia.
Uma brisa sopra branda.
Já há muito a cotovia,
em voos de rebeldia,
p’los ares lavados anda.


A Leste, o céu ruboriza.
É o sol, que sonolento,
devagarinho mal pisa,
em caminhada precisa,
o aclive do firmamento.


Soam passos bem ritmados.
É um jumento novinho
de passos alvoroçados
como se fossem bailados
na solidão do caminho.


Atrás dele, vem ligeira
uma moça camponesa,
rosa ainda na roseira,
olhos negros, tez trigueira,
hino silvestre à Beleza.


Mais além, a passarada
descuidada já chilreia,
ensaiando a revoada,
na alegria deslumbrada
que, terno, o sol encandeia.


Ai, que linda esta aguarela
que tantos recusam ver!
Quando a vida se revela
e ninguém quer dar por ela,
que sentido tem viver?



José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 15 de Março de 2017.

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