segunda-feira, 30 de abril de 2018

MEMÓRIAS DE UM MILITAR DE ABRIL(2): O 25 ABRIL 74 -A REVOLUÇÃO EM MARCHA-.HERÓICA!





Uma nota no último texto: 

 O Furriel Pássaro veio na Coluna de Vendas Novas, cumpriu a sua missão,  e depois no regresso, também, por sua vontade integrou-se na minha equipa do MFA e,  nesta,  de facto só podiam estar sob o meu comando, como sempre, os melhores entre os melhores, em competência, honestidade, Espírito de Sacrifício, sublimação do seu eu e ego, em prol da causa Comum- Portugal . e, também, aqui o  meu camarada e amigo Pássaro cumpriu, e continua a ser um indómito combatente pelas causas sagradas e imortais do nosso sonho de Abril: LIBERDADE, DIGNIDADE .DESENVOLVIMENTO. Um depoimento que DESMENTE as teorias de Pezarat Correia quanto à Revolução agrária, e, também, quanto  á vergonhosa e FALSA (delirante) versão dos acontecimentos  do 7  Março em Setúbal,  da Policia Judiciária Militar,  publicada  na obra  .Setúbal Cidade Vermelha,.

 AOS 30 DIAS DE ABRIL 2018
bem-hajas. Aquele abraço
andrade da silva


 MEMÓRIAS

Após o regresso a quartéis, iniciou-se o processo de consolidação da democracia. No âmbito estritamente militar foi criado o Gabinete de Dinamização da Unidade, (G.D.U.) que visava promover o debate e esclarecimento dos militares da unidade e proporcionar-lhes também momentos de lazer como a projecção de filmes até então proibidos pelo regime fascista, bem como iniciativas de outro tipo. Reiniciámos a publicação do jornal da unidade “A Sulipanta”, que incluía artigos de opinião e informação diversa. A unidade deu ainda apoio e incentivou diversas iniciativas de cariz social, pela habitação, saúde, educação, pelo saneamento básico e pelo emprego. 


                         O REGRESSO
Com o decorrer do processo democrático, destaco o episódio conhecido da “Maioria Silenciosa” em 28 de Setembro de 1974, promovido pelo General Spínola e seus apoiantes e que visava destruir algumas conquistas já alcançadas e destituir o General Vasco Gonçalves de Primeiro-Ministro. Na sequência desta situação, a E.P.A. entrou de prevenção rigorosa e do lado certo da democracia.

A vida decorria dentro da instituição militar e a dado momento a Direcção de Instrução da E.P.A. determinou que o Tenente Andrade da Silva fosse o Comandante do pelotão de instrução do Curso de Oficiais Milicianos (C.O.M.), cabendo a mim próprio a honra de ser adjunto de um oficial altamente prestigiado entre os militares da E.P.A..

Em 7 de Março de 1975 a E.P.A. foi chamada a Setúbal para uma intervenção. A força comandada pelo Tenente Andrade da Silva e de que fazia parte também o Alferes Pauleta, entre outros militares, pôs fim a um conflito entre a população civil e a P.S.P. de Setúbal, que já tinha instalado uma metralhadora e se preparava para actuar contra os populares. O conflito teve origem numa manifestação de desagrado da população contra um comício do então P.P.D..(a)


                       7  MARÇO 75 -SETÚBAL

Spínola voltou à carga contra democracia consubstanciado no ataque ao Ralis, em 11 de Março de 1975, havendo ainda a expectativa de que pudesse fazer o mesmo à E.P.A. por ser uma unidade altamente empenhada na consolidação do processo democrático. Na sequência desta acção sobre o Ralis, o comandante da E.P.A., coronel Sousa Teles, saiu à frente de uma coluna militar que se foi posicionar nas proximidades de Bombel, pois temia-se que a unidade viesse a sofrer o mesmo que o Ralis.

O ambiente existente no seio da equipa do G.D.U. era muito saudável e de grande empenhamento na consolidação da democracia e entre todos reinava um espírito de grupo muito forte, destacando-se o papel do Tenente Andrade da Silva. Por vezes, interrogávamo-nos qual seria o partido que o Tenente apoiaria e quando lho perguntávamos respondia que o seu partido era o P.P.P., Partido do Povo de Portugal.

Após o 11 de Março de 1975 deu-se início à Reforma Agrária, promovida pelos sindicatos e pelas forças democráticas e apoiada pelo M.F.A.. As lutas dos trabalhadores rurais por um posto de trabalho, por salários justos, foi inteiramente apoiada pelos militares da E.P.A., que procuraram entendimentos entre os agrários e os trabalhadores, nem sempre com os resultados desejados devido às posições altamente conservadoras e reaccionárias dos agrários. Após a ocupação de algumas herdades improdutivas e da formação de cooperativas, a actuação conjunta dos trabalhadores rurais, dos seus sindicatos representativos e do I.R.A. (Instituto de Reorganização Agrária), e ainda com o apoio da E.P.A., por forma a garantir a segurança de todos, sem excepção, foi possível levar por diante a consolidação daquelas organizações de trabalhadores, graças ao grande empenho destes e que a famosa Lei Barreto acabou mais tarde por destruir.

 COUÇO AGOSTO 75 . A LEI DA REFORMA AGRÁRIA SAIU BASTANTE RETARDADA.

Em 13 de Março de 1975 uma força de intervenção da E.P.A. foi enviada a Montemor-o-Novo,por ordem do Copcon, de que o agrário Vacas Nunes estaria na  posse de um arsenal de armas para fazer frente aos trabalhadores rurais que rodeavam a sua casa numa manifestação de desagrado por ter tido alegada participação na morte de um trabalhador rural nos anos 50 . A força comandada pelo Tenente Andrade da Silva intimou o agrário a abrir a porta para se verificar da veracidade da informação. A custo, as forças da E.P.A. acederam ao interior da habitação e quando se procurava esclarecer a situação, o agrário Vacas Nunes colocou à sua frente, numa atitude ignóbil, uma sua neta de tenra idade como pretenso escudo de protecção pela acção dos militares. Vacas Nunes, grande agrário de Montemor-o-Novo, que proporcionava grandes caçadas nas suas herdades aos dignitários do fascismo (Américo Tomás e muitos outros), facto reconhecido por uma sua filha no momento e que pude testemunhar, foi levado para Vendas Novas, presente ao Oficial de Dia à unidade, Capitão Duarte Mendes e ficou às ordens do Copcon, que mais tarde o mandou regressar a casa.

Os militares da E.P.A. e, particularmente, os que faziam parte do G.D.U. (Capitão Andrade da Silva, Capitão Amílcar Rodrigues, Furriel Sequeira, Furriel Pássaro e outros) procuravam promover sessões de esclarecimento na área de actuação da Unidade (Vendas Novas, Lavre, Montemor-o-Novo, Couço, Casebres, Escoural, Pias, etc), também com a participação de Sargentos do Quadro Permanente, com o objectivo de dar a conhecer o projecto de sociedade que o M.F.A. pretendia implementar.


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Com o objectivo de conhecer e procurar resolver os problemas dos trabalhadores rurais, foram realizadas múltiplas iniciativas conjuntas de militares da E.P.A. e delegados sindicais por forma a encontrar soluções para os trabalhadores desempregados, visitando campos e herdades e dialogando com os agrários.

Com o decorrer do chamado PREC foi designado comandante da Região Militar Sul (R.M.S.) sediada em Évora, o brigadeiro Pezarat Correia, membro do Grupo dos Nove e do Conselho da Revolução. No G.D.U. sentíamos que essa nomeação procurava conter (e até fazer andar para trás) todo o apoio que a E.P.A. manifestava aos trabalhadores e ao povo em geral e que tal nomeação era o corolário das divergências, que se vinham acentuando, entre o Grupo dos Nove e os militares revolucionários. Como consequência deste crescendo de divergências, em especial com o Capitão Andrade da Silva e o Furriel Sequeira, o comandante da R.M.S. comunicou que estes destacados militares seriam transferidos para o Quartel-General da Região Militar Sul, mantendo-se como Delegados do M.F.A. das respectivas classes. Com esta transferência foram designados Delegados do M.F.A. na E.P.A. o Capitão Amílcar Rodrigues pelos oficiais e eu próprio pelos Sargentos.

As divergências, cada vez mais acentuadas, entre os militares do chamado Grupo dos Nove (e os seus apêndices reaccionários) e os militares revolucionários, eram sempre confirmadas nas reuniões em que pude participar quer no âmbito da Assembleia do Exército quer no âmbito da Assembleia do M.F.A..Em 5 de Setembro de 1975, no chamado pronunciamento de Tancos, essas divergências atingiram proporções tais que ao Primeiro-Ministro em exercício, General Vasco Gonçalves, foi retirada a confiança política depois de este ter recusado a nomeação para o cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas que tinha sido apresentada pelo General Costa Gomes, Presidente da República. A Assembleia do M.F.A. decidiu ainda afastar do Conselho da Revolução o Brigadeiro Corvacho, o Capitão Ferreira de Sousa, o 1º. Tenente Miguel Judas, entre outros apoiantes do General Vasco Gonçalves, ficando os elementos do Grupo dos Nove em maioria .

Passei à disponibilidade em Outubro de 1975, ainda a tempo de, na vida civil, poder assistir ao golpe de direita promovido pelo Tenente-Coronel Eanes, Coronel Jaime Neves e muitos outros e também ao desterro dos militares revolucionários que tinham “cometido o erro” de estarem ao lado do povo por melhores condições de vida, pela dignidade e pela democracia.


Vitor Pássaro
Furriel-miliciano em Abril de 1974









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