sexta-feira, 12 de março de 2021

SALGADURA DE FERIDAS MAL SARADAS

 

                                                             Serafim Silveira Pinheiro


Estou longe da Pátria, mas sempre próximo de quem a estima, como o Coronel João Andrade da Silva, meu Amigo, camarada de armas e companheiro de tanta coisa além de qualquer "prec".


Estou longe mas até aqui chegam as palavras de luminárias que por aí andam dando opinião sobre o que sabem de onzes de Março.

 Na nossa idade já por muito passámos, mas aos militares sobra sempre vontade de recordar a terça-feira 11 de Março de 1975.

 Enquanto por cá andar não esquecerei a mancha de sangue que vi quando acompanhei o, então, CEMGFA General Costa Gomes ao RALIS. Sangue da vítima mortal do ataque aéreo feito com avião pilotado por um camarada da Força Aérea que conhecia bem desde o tempo das Escolas militares...


Tal violento ataque culminou semanas de conspiração, provocações, desinformação e contra-informação de luminárias daquele tempo, gente pouco interessada em cumprir o Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA). Gente que rapidamente esqueceu a segunda-feira 11 de Março de 1974, quando todos os ministros militares "grelharam" Costa Gomes em reuniões na Cova da Moura para o convencer a prestar vassalagem a Marcelo Caetano e apoiar a continuação de esforço numa guerra que tinha corrompido o tecido social com incomportáveis níveis de mobilização e diminuído perigosamente a prontidão das tropas para combater.


Hoje, fico preocupado como ainda há gente com experiência militar que arrisca recordar datas sem conseguir a estabilidade emocional indispensável que evite salgadura de feridas mal fechadas.


A sociedade civil ainda não foi capaz de exigir um Livro Branco do 25 de Abril desde a primeira reunião dos Capitães até à extinção do Conselho da Revolução ,e, infelizmente uma minoria de militares reservou para si a qualidade de protagonista de acontecimentos históricos. Por isso, as acções daqueles que fizeram o seu melhor para cumprir o Programa do MFA continuam a ser confundidas com as dos activistas de "precs" que não "deixavam passar a reacção".


Não sou tão pateta das luminárias que me impeça de enxergar inconfessáveis propósitos em diminuir a pessoa de genuínos capitães de Abril misturando suas acções com as de tais activistas. Fico em alerta.


Um abraço camarada e solidário para o meu Amigo João Andrade da Silva.

11 de março de 2021 às 19:50


Nota:
O autor capitão de fragata, desempenhou funções de Ajudante -de- campo do Sr General Costa Gomes, antes e depois do 25 d Abril 74. Tendo  realizado a ligação entre o movimento dos capitães e o sr. General Costa Gomes nos dias 24/25 Abril

 

1 comentário:

andrade da silva disse...

Serafim

Abraço Companheiro e CAMARADA
a silva