sexta-feira, 17 de julho de 2009

O VIL ESQUECIMENTO. VILÕES.


Os novos e os antigos democratas e os antigos anti- fascistas que ficaram bem na vida à custa de tantos sacrifícios de outros, esqueceram-se dos que perderam tudo, e deixaram-nos morrer na miséria.

Foi assim com Camões, sobre o que Jorge de Sena disse um dia : " Hoje ( num dos 10 de Junhos, já passados) muitos enchem a barriga com Camões, mas Camões morreu com fome" . Palma Inácio morre pobre, e já com outros o mesmo aconteceu. Morre esquecido e também pobre em Caracas, outro herói romântico Sérgio Moreira.

A Democracia que nasce com o 25 de Novembro 75, pela acção horrenda do chamado grupo dos nove, hoje, tão amados pelos que outrora se diziam e dizem revolucionários, logo prendeu e matou a generosidade, a visão revolucionário do 25 de Abril, e agraciou e mentiu acerca de heróis que, hoje, dizem que não cumpriram nenhuma das missões que lhes foram atribuídas no 25 de Abril, como agora o referem quanto à actuação do general Jaime Neves.

Mas esta gente, é a gente de sempre e neste grupo dos que veneram as mentes, que um dia serviram o fascismo, como grandes académicos e intelectuais em geo-estratégia, caso do Sr. Adriano Moreira, nunca se questionaram em área tão sensível a que visão do Mundo serve tamanha inteligência, será outra diversa da do antigo Ministro das Colónias de Salazar, mas, qual é?

Ainda deste lote de gente fazem parte muitos desses anti-fascistas que só reconhecem o sacrifício dos seus pares que rezam na mesma Catedral e comungam do mesmo vinho e pão. Todos aprenderam bem a lição totalitária do fascismo - o individualismo, para os pares tudo, para os outros nada. Esta é a pior semente do fascismo, do totalitarismo, da inquisição que os vilões não querem destruir, mas que é preciso ultrapassar. Proclamo-o do deserto deste blogue, de que os vilões fogem.

Por Palma Inácio, por Sérgio Moreira e por outros tantos que o ódio fascista e o individualismo dos que se auto-proclamam como anti-fascistas e revolucionários esqueceram, é preciso ultrapassar a essência deste comportamento egoísta, sectário e fanático, com raízes nos sentimentos e pensamentos mais odientos do antigo testamento , da inquisição , das ideologias totalitárias e quiçá do Islão radical, tudo tendo um elo e um elemento identificador que é o que de mais perverso tem a natureza humana, o egoísmo cego, o pensamento totalitário, o ódio ao diferente e ao HOMEM.

O 25 de Abril, a liberdade, a democracia realmente democrática exige outros pensamentos e sentimentos, desde logo, o AMOR, A LIBERDADE DE PENSAMENTO, A SOLIDARIEDADE, A TOLERÂNCIA, A GRATIDÃO E A PRÁTICA DA JUSTIÇA. Tudo isto é elementar, mas de facto é pedir de mais aos vilões, mas aqui o proclamo para que as mulheres e homens de amor e honra repliquem esta mensagem, e que para bem de Portugal ela seja pensada e ouvida por muitos, e que por todo o lado corram com os lobos disfarçados de cordeiros pascais, porque são gente cheia de egoísmo.

O MUNDO pode e deve ser dirigido pelo o altruísmo sadio e inteligente que trava o passo ao gene egoísta que tudo destrói. Do silêncio, entre estas paredes blindadas falei-vos com um verbo claro.

Que dor sinto por ver que por toda a parte reinam os surdos-mudos, e que só o são, porque têm um cartão de crédito; uma casa hipotecada; um carro que pagam a prestações; muitos euros para comerem um excesso de gorduras, ei-los gordos e anafados felizes por terem saciado a gula; muito lixo televisivo e muita Zara a vender as coisa feitas na China ao preço da chuva, e, por isto, sentem-se no melhor dos mundos, e a desgraça dos outros é a desgraça dos outros, até que um dia…mas, então, já é tarde….


andrade da silva
PS: Aos esquecidos, de 1926, até Abril 74 existiu em Portugal um Irão, uma Tailândia, um Mugabe. O 25 de Abril 74 foi há 35 anos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

EU, CIDADÃO-MILITAR, ME APRESENTO! (XI) - TO ANGOLA 71/72. NEGAGE: O REGRESSO À ARMA-MÃE, A ARTILHARIA. (1)


MESMO EM TEMPOS QUE É PROIBIDO PENSAR, PENSA-SE ...


Em 2 de Abril 72, em Mucaba, uma vez mais, num almoço de confraternização digo um até sempre a um grupo de 200 homens que comandei com muita amizade. Levo na memória e no coração duas mortes: um alferes pacifista que se tornou odiado e um cabo, óptimo rapaz que tanto temia a prisão disciplinar, e a prisão eterna ceifou-o, tão cedo desta vida. Choro-o com muita dor, e recordo com igual dor o sofrimento dos seus pais. Pobres pais!

Nesta companhia pouco depois ainda morrerá mais um soldado, o seu comandante de pelotão, segundo o relato crítico que me foi feito, entrou num acampamento abandonado, e saiu pelo mesmo trilho, na saída uma mina assassina matou o soldado. Já estaria lá, ou foi entretanto posta. Era um erro grave, sair por onde se tinha entrado, e, neste caso, pode ter sido trágico ao ceifar uma vida. Se fosse o comandante deste Alferes, este, teria de me dar muitas e precisas informações. Não sabia desculpar estes incumprimentos tácticos.

A BTR ( bateria de artilharia) 3421 era constituída por pessoal todo meu conhecido. Estava situada numa cidade aprazível, o Negage, o que me leva a considerar esta noticia como bastante agradável. Era comandada por um capitão de artilharia que já conhecia, e aqui também irá parar o meu camarada de curso alferes Pereira que viria a demonstrar um estoicismo a toda a prova, sacrificando-se e sujeitando-se a um incómodo incomensurável ao colocar fita auto-colante na sua boca, para respirar pelo nariz, e não perturbar o sono de outro guerreiro, seu camarada. Só um grande Homem e camarada faria isto. Não sei se nas mesmas circunstâncias faria o mesmo, até porque não me lembraria de tal coisa. ( Ainda não te agradeci este grande sacrifício, mas nunca o esqueci).

A 14 de Abril faço nesta unidade o meu primeiro serviço de Oficial de dia e, aqui, por estes tempos é que se viam o que eram os portugueses que descendendo de Viriato não tinham evoluído assim tanto.

Muitos eram mesmo muito brutos e possantes, havia por aqui especialmente dois, com nomes muito a propósito: um Valente e outro Vinagre, que resolviam os seu diferendos familiares a tiro de caçadeira, como os próprios contavam e faziam-se acreditar, pessoalmente, acreditava piamente. Um deles era mesmo muito primitivo, com toda aquela cobertura de pelos ruivos mais parecia um boi, mas eram chefes informais e temidos pelos outros por causa da sua brutal força. Alguns destes rapazes comiam a módica quantia de para cima de uma dezena de postas de peixe, ou seja, o que outros nem à lei da bala comiam.

António Brito no seu livro “ Olhos de Caçador” que tive honra e o prazer de apresentar dá uma fotografia dos soldados de então, através do imortal soldado Fraga, mais geralmente chamado Silva, corajoso, esperto, meio contrabandista, meio aldrabão, mas sempre um grande trabalhador –Um VIRIATO- anónimos, mas grandes.

Um dia, lá mais para diante, vou ter encontros decididos pela história, com vinagres e companhia, e dado o meu estilo de comando sem rede e de proximidade, ou vou perder ou vou ganhar, jogando com as cartas deles, a força, as minhas seriam o Regulamento de Disciplina, mas na guerra, enfim…,como adiante se verá.

A 26 de Abril a BTR é visitada pelo meu antigo capitão que tem comigo uma acesa discussão, por cerca de 2 horas, acerca dos seguintes assuntos: castigo a um cabo de Mucaba, alterações ao processo de comando enquanto comandante interino, mas estas já estavam feitas e revia-me com muito orgulho nelas, e como era óbvio, o comportamento do seu dilecto alferes foi objecto de controvérsia.

Este capitão estava na sua 3º comissão, considerava-o muito vaidoso, mas também diziam que o era, assim duas vaidades em presença tornava tudo isto um pouco mais difícil. Reconheço que deveria ter sido um alferes, talvez um tenente e um capitão mais humilde, mas haverá algum jovem humilde e que seja Capitão? Capitão que o fosse nunca os vi lá muito humildes, e poderá um capitão sê-lo, sendo que é o verdadeiro comandante de tropa?

O capitão comanda os militares nas linhas de combate, morre ou alcança a vitória com os seus soldados, o mesmo se passa com os alferes e com os sargentos comandantes de secção e com estes últimos sempre, têm de estar todos os dias lá na frente, o capitão, de quando em vez , pode ficar um pouco mais atrás, os alferes e os sargentos nunca.


Em 27 de Abril pelas 10h fiz uma corrida de 5Km. O Negage era uma zona de paz, de completa liberdade de movimentos, por vezes havia uns sobressaltos inconsequentes, gente armada com granadas a passear nas ruas da cidade, mas era gente amiga, de cor negra, a quem, através dos administradores de posto, era dada licença de porte de armas e, então, alguns passeavam-se pela cidade com as ditas, e faziam-no com a mesma alegria e simpatia com que usavam os tais óculos de sol espampanantes, coisas iguais para a sua ingenuidade. Só que logo eram dados como terroristas e metade da cidade os queria matar, e lá a tropa tinha de resolver o assunto no terreno e no da justiça militar, feudo árido e minado e nada dado a jovens alferes.

Depois desta corrida e depois de ter verificado a minha má forma física, para ganhar mais aptidões juridica-disciplinares fui nomeado para investigar um dos tais casos de negros armados. Empenhei-me, desloquei-me à repartição de justiça do Quartel General em Carmona, recebi todo o apoio do chefe da repartição, porque era preciso responsabilizar os administradores ( pensei se estariam à espera de um alferes para isto, mas se fosse eu, esse alferes, devia ser por ser madeirense que somos atrevidos, dizem… ).

O administrador do Negage já era de elevada patente, intendente, ao que creio. De facto indaguei todas as responsabilidades do administrador e considerei-o como o responsável moral por aquela peça que podia ter um desfecho trágico. As pessoas sentiram-se ameaçadas e ao reagirem podiam agredir o negro que acossado podia atirar o “recuerdo” às pernas de alguém. Muito me esforcei e o administrador sentiu-se muito, muitíssimo, atrapalhado. Se mais nada aconteceu o senhor aprendeu que lhe podiam ser feitas perguntas muito incómodas para as quais não tinha resposta aceitável e, assim, viu-se preso na sua própria ratoeira.


Nestes tempos dizia-se que ninguém pensava, mas seria memo assim? Por mim confesso e dou prova que não, porque em 27 e 28 de Abril 72, naquelas terras de África transcrevi para estes caderninhos de farrapos de memórias pensamentos de Einstein sobre a religiosidade cósmica – apreender a totalidade da existência como uma unidade cheia de sentido - de Caraudy - A profundidade da fé de um crente depende da força do ateu que traz consigo, e a profundidade humana do ateu depende da força do crente que traz consigo, ou a fé é um sentimento, a religião uma instituição - e finalmente toda a beleza e força deste pensamento de Morávia: Para o humanista a verdadeira obra da sua vida é ele próprio, como elo de uma cadeia infinda que o liga em comunhão humana a um passado, presente e futuro ( talvez aqui tenha ido buscar o conceito de arco-voltaico que imprimi na minha acção de comando). Ou ainda ser homem não é um meio de chegar ao Céu ou à mesa posta, é um fim em si mesmo…. E, agora , calo-me.

andrade da silva 16 Julho 09




quarta-feira, 15 de julho de 2009

HOMENAGEM


VIVA PALMA INÁCIO !


Rendo a Palma Inácio a minha homenagem por ter tido a coragem de desafiar, de um modo heróico e desassombrado, a ditadura caduca, corrupta, ignorante e vergonhosa de Salazar.

Palma Inácio com os seus actos ousados demonstrou que os ditadores nunca são, nunca podem ser, pessoas com elevado grau de inteligência, para além do seu muito baixo e primário desenvolvimento moral.

Palma Inácio é a memória da inteligência e de um certo espírito de aventura contra um cabisbaixo ditador e o seu séquito, o de então e de muitos que, ainda hoje, querem apresentar esse ser brutal que castrou o pensamento cultural, artístico, científico e moral de Portugal durante décadas, como o de um grande Português. Não o foi, porque nunca um ditador pode ser um nobre cidadão, é sempre um ignominioso – ditador, ponto.

andrade da silva

terça-feira, 14 de julho de 2009

UM PORTUGAL QUE TRANSPORTO NO MEU INCONSCIENTE : O TRISTE E "PIG " PORTUGAL BUFO.




Nos idos de 1997, quando aluno do curso de sociologia, no ISCTE, na cadeira de sociologia do desenvolvimento, tive a ousadia ou a burrice (nestas coisas vou ficando velho, mas nunca aprendo a matéria da simulação. De facto devo estar a uns bons desvios padrão do comportamento cínico conveniente – um desastre para mim -, e, neste passo, quero recordar o homem do cachimbo, a sua pose majestosa e o seu discurso fulminante, Carlos Candal. Até à eternidade, irmão!) de ter uma opinião diversa dos grandes mestres que formulam teorias de educação, através dos processos de socialização que conhecemos, e que provocam tantos recalcamentos, ansiedade, depressões e sei lá mais o quê.

Bem! Olhar a nu estas realidades, parece que permitem dizer que todos estes processos estão equivocados , porque não se dirigem ao homem real, mas ao homem virtual, o conveniente, o torturado pelas regras dos que criam as normas.

Defendia e defendo que os psicólogos e os sociólogos e todos os que conhecem o ser humano deveriam proclamar que o que interessa é descobrir o homem real, nos termos que Freud definiu, ou seja, o homem que nos habita no inconsciente, e, por isto, fui colocado no índex da boa ciência sociológica, o mesmo já me tinha acontecido no mesmo ISCTE numa cadeira da professora Filomena Mónica, bela professora, toda adiantada aos tempos, a dar aulas de bota alta. Linda de morrer. Meu Deus que prazer e dor, naquelas aulas! Mas como não há bela sem senão, lá estava um, o de ler aquelas fichinhas de leitura em papel. Lembram-se, uma “estupada”, mas aqui o pomo da discórdia foi Raimond Aron e as suas teorias, quanto aos males gerais e universais da industrialização.


Ora, sendo assim, pensando que o homem real é o que habita a zona inconsciente do nosso self, fico muito preocupado com os meus sonhos, e hoje vi que ainda transporto no meu inconsciente um certo Portugal “PIG”. MY GOD!

Sonhei deste modo: estava numa fila do metro à espera de transporte, quando um homem meio curvado e que me pareceu já bastante idoso para ter estado na guerra de África, de um momento para outro, começa a contar, com uma certa piada, histórias da guerra colonial. Logo lhe dei toda atenção do mundo, o que sempre faço nestas circunstâncias. Á minha frente estava um casal de adolescentes, a rapariga dava atenção ao que o homem contava e o rapaz não. Falava o homem, fazendo gestos, como em dada noite receberam um camarada todo molhado. Tinha a sua piada, o modo como contava.

Entretanto uma senhora fala num pintor célebre e o homem disserta sobre cultura, ainda dei mais atenção, porque vi que era culto, e quando alguém culto fala, calo-me e oiço religiosamente, em silêncio. Tenho também a atitude de, quando o assunto permite, provocar alguma interactividade e de ser menos sossegado, por vezes, mesmo irrequieto. Todavia quando são assuntos que não domino e têm interesse o meu silêncio é de oiro. Contudo com esta intervenção abriu-se uma roda, e alguém disse que assim é que era democrático. Todos podíamos participar.

O tema seguinte foi das multinacionais. Tomei a palavra, e disse que as suas sucursais por Portugal eram os braços de um grande polvo que a todos nos escravizava. Quando assim falava, logo a rapariga que lançara o mote e que parecia não muita interessada nesta afirmação, quis distribuir o uso da palavra. Protestei que queria completar o raciocínio, o que fiz com grande veemência, dizendo que éramos escravos desta gente que pagavam o que queriam aos trabalhadores, transferiam a parte mais substantiva dos lucros para a empresa-mãe, e que era no pais, onde, estava a sede que se pagavam os impostos, o que era um acto vergonhoso.

Enquanto me emocionava vi a rapariga “ burguesa” a me voltar as costas, e passei a ficar no meio de vendedoras ambulantes de etnia cigana, mas como depois de me emocionar sou sempre bem educado, também o fui no sonho, pedindo desculpa por ter feito um mini comício, e preparei-me para abandonar o local .

Mas eis, se não quando, um individuo se coloca à minha frente e mostrando todo o seu poder, através de um telemóvel, me ia dizendo, pois, pois, comício! Frase que repetia, gesticulando de um modo visível e ostensivo o braço que transportava o telemóvel, como a querer afirmar todo o poder na capacidade de denúncia deste aparelho.

Nestes andares, quando ia subir as escadas do metro para sair, o Homem corta-me a passagem, e com todo o seu poder de bufo diz-me que não podia sair sem antes chegar a policia. Olhei para o nojento do bufo, pensei nos meus direitos constitucionais e apeteceu-me entrar em vias de facto com o “porco”. Só que também pensei que atrás de mim tinha todas as ciganas para o secundarem, então, inteligente ou cobardemente, para evitar sarilhos, acabei com o sonho ou com o pesadelo, e acordei chateado.

Como penso que o inconsciente está cheio de razão, como o referi no início e já o disse na universidade, o que, me valeu passar de melhor aluno na cadeira a pior, é este um Portugal que, por expiação, transporto no fundo de mim próprio, e , assim, sei que este Portugal mata muitos sonhos ou transforma-os em pesadelos, e sei ainda mais, que os sonhos são, por vezes, premonições. Todo este caldo, basta para imaginar como, enfim, dialogo com a LUA de Prata, quando o Sol se põe.

PORTUGAL.

andrade da silva

domingo, 12 de julho de 2009

Ò ALENTEJO




Reflexão literária

Ò Alentejo !



Que marca imprimes em quem nasce no teu seio!
A beleza agreste da tua paisagem, a sã convivência, teus costumes e tradições cedo inspiraram poetas como Sá de Miranda, Florbela Espanca, Macedo Papança (conde de Monsaraz) ..., escritores como Fialho de Almeida, Manuel da Fonseca, Hernâni Cidade, dramaturgos como Bernardim Ribeiro, historiadores como Túlio Espanca, pedagogos como Manuel Patrício.

Influenciaste igualmente romancistas que não sendo Alentejanos de nascimento, por circunstâncias da vida, aí algum tempo viveram. Estou a lembrar-me de Eça de Queiroz, José Régio, Vergílio Ferreira.

Outros como José Saramago sentiram um apelo interior e lá foram buscar inspiração.

Que dizer da música, dos cantares, enfim dum povo que fala verdadeiramente a cantar!
Fiel a esta tradição, Alentejana de nascença, Maria de Deus Melo, escreve um poema logo com ideia da música. Muitas vezes ao acabar de o escrever, recita-mo ao telefone cantando.

Não se queda indiferente à dureza da vida humana como o atesta o poema “O cavador” feito de recordações do mundo da sua infância.

“...cavas palmo a palmo desgraçado
o chão que nem é teu,
para teres um bocado de pão
o pouco que o homem te deu.
Depois de velho e cansado
esse pobre coração destroçado
em troca do seu tormento,
pedirá à terra a paz, o esquecimento!”

recorda-me Fialho de Almeida:

“Nestas terreolas mesquinhas, entre o cavador que estanca a vida à enxadada, ganhando apenas com que morrer de miséria, e o homem rico que pavoneia em berlinda de correias o estadão dos seus quarenta contos de hortejos e farejais;

Fialho de Almeida in “O País das Uvas”

Enfim o amor, no seu sentido trágico como recitava Demócrito “Aparência a cor, aparência o doce, aparência o amor: na realidade só os átomos e o vazio”; a lembrar Florbela Espanca num misto de tragédia e sensualidade, embebida numa certa religiosidade. A própria o reconhece num poema intitulado “Homenagem a Florbela Espanca”:

Nasci sagitária como tu
o Alentejo a arder no coração,
amor puro e alma a nú
fomos loucas no amor e na paixão.

Infelizes e incompreendidas
gritando ao mundo toda a verdade,
como se unissem em nossas vidas
a tua e a minha infelicidade.

Especial relevo, dedica a poetisa à cidade de Évora, a antiguidade das suas pedras, as belas arcadas, oferecem cenário ideal para o amor e a paixão, como refere na quadra:

Visitámos o templo de Diana
de mãos entrelaçadas de ternura,
que pouco foi o tempo p´ra quem ama
para hoje ter tanta desventura.

Tal visão tende a provocar um confronto entre o finito e o infinito levando a questionar a própria existência.

Vergílio Ferreira no seu romance “A Aparição” descreve igualmente o êxtase que lhe provoca ao chegar a esta cidade, a visão súbita do templo de Diana.

“Templo de Diana. Só nessa noite o vi bem, nessa noite de Setembro, lavado de uma grande Lua - raios imóveis de uma oração mutilada, silenciosa imagem do arrepio de séculos ...”

Numa outra passagem da mesma obra escreve:

“Évora mortuária, encruzilhada de raças, ossário dos séculos e dos sonhos dos homens,, como te lembro, como me dóis!”

Estamos então perante aquele que no fundo é o drama humano, a angústia do homem perante a sua finitude, que o leva a questionar o bem e o mal, o Deus e o Diabo, tema para o “Cântico Negro” de José Régio.


Alentejo não deixes de inspirar os Poetas.
Onde existe algo de eternidade
é na poesia,
Aquilo que o tempo não corrói,
Nem destrói,
Vital sopro de eternidade,
Para lá da bondade e da maldade.






Filipe Papança*

·
Licenciado em Matemática Aplicada, Mestre em Estatística e Gestão de Informação. Professor na Academia Militar
· Prefácio do livro de poesia de Maria de Deus Melo: "Alentejo Profundo Um Rol De Esperanças" - publicado pela Universitária Editora.

PS: Pelo grande entusiamo que o Alentejo despertou, o nosso amigo Filipe oferece-nos mais um belo texto,o que muito agradecemos.
asilva


sexta-feira, 10 de julho de 2009

SAUDAÇÃO E AGRADECIMENTO



MERECE A MAIS EFUSIVA SAUDAÇÃO A MANIFESTAÇÃO DE AMOR HERÓICO E A ATITUDE DE FALAR DA HISTÓRIA QUE O POEMA SOBRE O ALENTEJO, DE FILIPE PAPANÇA, DESPERTOU. OBRIGADO A TODOS.

quinta-feira, 9 de julho de 2009