quarta-feira, 23 de julho de 2008

DITADORES E TERRORISMO



Julgo que todas as ditaduras deviam ser abolidas da terra, através da ingerência interna, sob mandato da ONU. Todavia sendo este órgão o que, infelizmente, é , torna-se algo de pouco provável.

Neste campo seria importante que todos os povos do mundo lutassem para que a ONU se reformasse, e ganhasse força para prender e julgar no TPI todos os criminosos violadores dos direitos fundamentais da pessoa humana, do respeito pela sua dignidade e da sua vida. Coisas que os ditadores e os terroristas desrespeitam, mas uns são mais criminosos que outros de acordo com a “padrinhagem”. Os afilhados de Bush gozam de impunidade, os outros nem tanto, mas sempre dá algum jeito contar com o apoio da China ou da Rússia.

Face à cumplicidade e impotência da comunidade internacional em defender em vastas zonas do Mundo os direitos humanos e os direitos civis das pessoas, estas, têm o sagrado direito de legitima defesa, com recurso a todos os meios, mesmo, como último instrumento, à luta armada.

Quanto à luta armada esta só pode emergir do seio do povo que sofre, como os cogumelos nascem da terra fértil. Nunca uma força se pode impor ao povo como sua vanguarda pela força. Neste caso esta pseudo-vanguarda seria contraditória na sua própria natureza que só pode ser a de desejada, amada e mantida pelo povo que se quer libertar.

Mas mesmo esta vanguarda que nasce do seio do seu povo, tem de respeitar as regras da Guerra e das convenções internacionais. Todos os actos, que numa luta contra o ditador ou forças de ocupação vitime dolosamente cidadãos indefesos, em atentados, raptos, massacres, emboscadas, ou qualquer outro acto degradante ou desumano são pura e simplesmente acções terroristas, criminosas, vergonhosas e indefensáveis.

Um lutador pela liberdade do seu povo não é, o que cobardemente mata, rapta, submete alguém do seu povo, mas é, pelo contrário, alguém que oferece a sua vida combatendo as forças militares, policiais e outras do ditador, usando as tácticas e as técnicas da luta armada, mas sem nunca ofender os interesses dos cidadãos civis.

E mesmo em relação às forças militares e policiais apoiantes dos ditadores, as forças revolucionárias nunca poderão ir além de provocar mais dano do que o necessário para enfraquecer e destruir o ditador, ficando sempre vedado a uma força revolucionária torturar, ou matar com tortura um adversário, qualquer destes actos será sempre um acto criminoso, contra o homem ou contra a humanidade, e todos os que fizeram ou consentiram em massacres ou comportamentos desumanos de tortura, deveriam ser presos e presentes ao TPI, que só deveria ter um peso e uma medida, mas mesmo que não tenha esta atitude, a sua existência será sempre um Bem para a humanidade no seu todo.

Nestes termos tudo o que as FARC, ou outras forças, nomeadamente os Movimentos pela Independência das antigas colónias portuguesas, possam ter feito contra cidadãos desde as mortes aos raptos, ou tenham subsistido com o dinheiro sujo do narcotráfico ou de outras acções criminosas, coloca-os inequivocamente no submundo do crime e do terrorismo.

Contudo esta realidade não pode fazer esquecer a situação da Colômbia, descrita por um dos acusadores das FARC, o escritor Hector Abad Faciolince, nos seguintes termos: 50% da população é miserável e tem fome, os governos permitiram a criação de forças paramilitares que assassinam todos os rurais de que suspeitam serem guerrilheiros, tendo ultimamente diminuído o número de assassinatos pela reforma destes paramilitares e, ou porque já detêm o poder politico, e, assim, podem extorquir os submetidos à sua vontade e temor.

Refere aquele autor na sua inequívoca condenação das FARC que o apoio financeiro dos EUA às forças Militares Colombianas é colossal, o 3º,logo a seguir a Israel, e que entre a opulência máxima de uma cidade rica, como uma Austríaca e uma povoação totalmente miserável, como se fosse da Serra Leoa, dista meia hora de automóvel, e que ainda será a miséria o factor essencial do recrutamento das FARC.

Uma vez mais a miséria a funcionar como um elemento decisivo no recrutamento de populações desesperadas e humilhadas. É este factor o que também funciona em grande escala no caso do terrorismo internacional, paralelamente às humilhações que os poderosos ocidentais têm feito aos povos e às pessoas de outras raças ( Mugabe esteve 10 anos preso, durante o governo dos brancos na Rodésia por defender a independência. O governo branco ensinou-lhe a intolerância e o ódio, e ele aprendeu e ultrapassou os mestres. Mandela esteve preso 20 e tal anos, foi magnânimo, esqueceu a humilhação, mas nem todos são magnânimos).

Em conclusão, pela descrição daquele autor ficamos a saber que na Colômbia, lado a lado, com umas forças que se dizem guerrilheiras, mas que já não lutam por objectivos políticos e de transformação social, mas sim praticam crimes e vivem de dinheiro sujo, há forças paramilitares criminosas consentidas pelo governo para combaterem os guerrilheiros, mas que se aproveitando do seu poder militar e político assassinam impunemente e submetem a população rural, que está completamente abandonada pelo Governo, vive na miséria, situação que será de 50% da população.

Se as FARC são um anacronismo na história, porque quarenta anos depois do inicio da luta armada o Povo já se devia ter levantado e apoiado as suas forças de libertação e não o fez, e praticam crimes contra as populações, no que se tornam terroristas, não menos o são as forças paramilitares, e não menos o é, o governo que gasta rios de dinheiro em forças de segurança, e pouco faz pelo desenvolvimento e mesmo pela extinção militar e, ou politica dos paramilitares.

Por tudo isto condenar as FARC e deixar de fora a Governança da Colômbia, de Álvaro Uribe, com a simples e muito rápida afirmação de que o actual governante obteve em eleições democráticas uma votação expressiva, parece um argumento de quem não quer ver neste país o grande número de miseráveis, como na Índia os milhões de excluídos – os intocáveis -, o que uma perversidade falar de Estado Democrático nestes e em outros países, o que só pode servir para acalmar as tais "boas" consciências.

Neste porco e criminoso jogo muitos têm as mãos sujas de sangue. Mas seria bom que se libertasse o povo da Colômbia e todos os povos do Mundo, de todos os actos de banditismo, da miséria, da doença, da fome e dos Ditadores, e que todos os que cometeram crimes contra Humanidade, pudessem ser julgados, um dia, em tribunais justos e independentes, de que o TPI poderá ser o embrião.

Será desejar demais, um Mundo mais justo e limpo?


Andrade da Silva
21 Julho 2008


Ps: já depois de escrito este post foi preso Karadzic. Que o TPI prenda e julgue todos os que na Bósnia e em todas as partes do mundo têm cometido crimes contra a Humanidade, mas mesmo que nem todos sejam julgados é sempre uma vitória da humanidade julgar um genocida.

É pena que os EUA e outras potências não compreendam e cumprem com este princípio, protegendo todos os que servem os seus interesses, ridicularizando, deste modo, qualquer ideia de uma justiça Universal única, isenta e moralmente justa, mas apesar de ser coxa e parcial esta justiça, é importante que nem todos fiquem impunes.

Seria também importante que a área de intervenção das instâncias jurídicas supranacionais se estendesse aos crimes de corrupção e Governança danosa com dolo, contra os interesses dos países e suas populações.

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