Há exactamente 40 anos, passaram ontem, o “homem que caiu da cadeira”, era, sem o saber, substituído por um seu antigo delfim, caído em desgraça alguns anos atrás.
O Estado Novo, tentava assim fazer um remendo, com pano da mesma peça.
Refiro-me, obviamente, a António de Oliveira Salazar e Marcelo das Neves Caetano.
Marcelo Caetano, que em 1962, durante a crise académica, assumira uma posição que sem ser de desafio ou de confronto com o poder, foi pelo menos, de desobediência ao Chefe e aos seus ditames. Com isso permitiu uma espécie de diálogo com os estudantes, coisa até aí impensável, lançando alguma confusão e perplexidade na oposição, pelo menos na ala estudantil.
Em boa verdade, assumido o destino do País, por vontade de Américo Tomás, Presidente da República, com a oposição do grande poder capitalista e de uma grande da parte da oficialada de alta patente, com principal destaque para o ultra direitista Kaúlza de Arriaga, general da Força Aérea e antigo homem de confiança de Salazar e quando se propagandeava uma “primavera política” marcelista, este, fez saber da sua «Evolução na continuidade», esmorecendo de imediato os mais optimistas sobre a sua linha de condução.
Cedo se percebeu que o homem era um indeciso, frouxo e uma marioneta da direita mais conservadora, sua origem natural, basta consultar o percurso político para o confirmar, fazendo reformas em cuja base assentava a enorme «mudança» do nome.
À União Nacional, passou a chamar Assembleia Nacional Popular, à PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), passou a chamar DGS (Direcção Geral de Segurança), as Colónias, já transformadas em Províncias Ultramarinas por Adriano Moreira, de uma forma muito modesta e quase em segredo, passaram com Caetano a ter estatuto e propaganda de tal.
Manteve a guerra colonial (ultramarina), mas sem conseguir perceber como a deveria conduzir e rodeando-se de homens ostentadores, vaidosos e gananciosos, mas pouco competentes e ainda menos interessados. Em todo o governo, dava a sensação que os nomeados concorriam para o desastre, alegremente.
Foi neste estado de situação e de pessoas, que são apanhados pelo 25 de Abril de 1974, a poucos meses de perfazer 6 anos de governação.
Se é verdade que o povo sentiu uma melhoria no modo de vida e se notou alguma evolução da sociedade, sendo o consumo e o poder de compra os que maiores reflexos tiveram, também é verdade que, a curta distância se intensificou de novo a repressão, entrando pela primeira vez nos quartéis e nas Forças Armadas, até aí mais ou menos estanques às investidas da DGS. O poder sentido pelos generais e a necessidade de pessoal para a guerra, evitaram até então a intrusão da polícia política e das funestas consequências que isso veio a ter. Com Marcelo e a sua dubialidade, aconteceu e recrudesceu.
São famosas as suas “Conversas em Família”, com que regularmente presenteava os pobrezinhos portugueses, qual professor explicando o inexplicável, mas deixando muita gente feliz e contente, porque o Senhor Professor tinha a consideração de nos informar sobre as suas decisões e intenções, enquanto governo.
Entrementes, enviavam-se cada vez mais “fornadas” de “magalas” mal preparados, na ignorância da situação real, mal armados e largados onde Deus queria, muitas vezes dirigidos por estados maiores que nunca saíam dos gabinetes, nas grandes cidades e onde subalternos davam em doidos com a falta de material, de pessoal sem preparação e de exigências superiores de resultados impossíveis de alcançar.
Se, em boa verdade, Caetano consegue um aparente razoável perfil no continente, deve-se a toda a massificação do envio de jovens para o ultramar, permitindo que as condições de trabalho em geral se alterem. Não é a sua política que o consegue, são as condições impostas pelos acontecimentos. Mas tudo se degrada lentamente. Da sociedade à política, dos quartéis aos comandos, do governo aos serviços públicos. Marcelo não percebe ou não consegue alternativas. Há quem diga que era traído nos mais pequenos pormenores pelos que o cercavam. Não será de admirar, nem surpresa para quem já teve a responsabilidade de dirigir, que uma chefia frouxa, pouco informada e há deriva, é enganada por todos os lados.
É, pois, neste quadro que o “velho homem” de 1933, fecha os olhos e baixa à terra.
É este o País que entre 1968 e 1974, era repudiado por uma Europa, que de pura, pouco teria, mas que tinha a virtude da Liberdade. É neste clima e neste quadro, que o Senhor Presidente do Concelho Marcelo Caetano, começa a ser repudiado pelos seus pares estrangeiros e a cair em desgraça interna. À esquerda e à direita. Por razões e lógicas diferentes, ambos os opositores estavam de acordo. Aquilo, Não.
Fez pois, ontem, quarenta anos, que se começou a fingir que se mudava.
Lembremos, para que a memória nos ajude a evitar erros dramáticos num futuro muito próximo.
É sempre mau ter mais do mesmo, com outro nome e o mesmo corpo.
Jerónimo Sardinha
O Estado Novo, tentava assim fazer um remendo, com pano da mesma peça.
Refiro-me, obviamente, a António de Oliveira Salazar e Marcelo das Neves Caetano.
Marcelo Caetano, que em 1962, durante a crise académica, assumira uma posição que sem ser de desafio ou de confronto com o poder, foi pelo menos, de desobediência ao Chefe e aos seus ditames. Com isso permitiu uma espécie de diálogo com os estudantes, coisa até aí impensável, lançando alguma confusão e perplexidade na oposição, pelo menos na ala estudantil.
Em boa verdade, assumido o destino do País, por vontade de Américo Tomás, Presidente da República, com a oposição do grande poder capitalista e de uma grande da parte da oficialada de alta patente, com principal destaque para o ultra direitista Kaúlza de Arriaga, general da Força Aérea e antigo homem de confiança de Salazar e quando se propagandeava uma “primavera política” marcelista, este, fez saber da sua «Evolução na continuidade», esmorecendo de imediato os mais optimistas sobre a sua linha de condução.
Cedo se percebeu que o homem era um indeciso, frouxo e uma marioneta da direita mais conservadora, sua origem natural, basta consultar o percurso político para o confirmar, fazendo reformas em cuja base assentava a enorme «mudança» do nome.
À União Nacional, passou a chamar Assembleia Nacional Popular, à PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), passou a chamar DGS (Direcção Geral de Segurança), as Colónias, já transformadas em Províncias Ultramarinas por Adriano Moreira, de uma forma muito modesta e quase em segredo, passaram com Caetano a ter estatuto e propaganda de tal.
Manteve a guerra colonial (ultramarina), mas sem conseguir perceber como a deveria conduzir e rodeando-se de homens ostentadores, vaidosos e gananciosos, mas pouco competentes e ainda menos interessados. Em todo o governo, dava a sensação que os nomeados concorriam para o desastre, alegremente.
Foi neste estado de situação e de pessoas, que são apanhados pelo 25 de Abril de 1974, a poucos meses de perfazer 6 anos de governação.
Se é verdade que o povo sentiu uma melhoria no modo de vida e se notou alguma evolução da sociedade, sendo o consumo e o poder de compra os que maiores reflexos tiveram, também é verdade que, a curta distância se intensificou de novo a repressão, entrando pela primeira vez nos quartéis e nas Forças Armadas, até aí mais ou menos estanques às investidas da DGS. O poder sentido pelos generais e a necessidade de pessoal para a guerra, evitaram até então a intrusão da polícia política e das funestas consequências que isso veio a ter. Com Marcelo e a sua dubialidade, aconteceu e recrudesceu.
São famosas as suas “Conversas em Família”, com que regularmente presenteava os pobrezinhos portugueses, qual professor explicando o inexplicável, mas deixando muita gente feliz e contente, porque o Senhor Professor tinha a consideração de nos informar sobre as suas decisões e intenções, enquanto governo.
Entrementes, enviavam-se cada vez mais “fornadas” de “magalas” mal preparados, na ignorância da situação real, mal armados e largados onde Deus queria, muitas vezes dirigidos por estados maiores que nunca saíam dos gabinetes, nas grandes cidades e onde subalternos davam em doidos com a falta de material, de pessoal sem preparação e de exigências superiores de resultados impossíveis de alcançar.
Se, em boa verdade, Caetano consegue um aparente razoável perfil no continente, deve-se a toda a massificação do envio de jovens para o ultramar, permitindo que as condições de trabalho em geral se alterem. Não é a sua política que o consegue, são as condições impostas pelos acontecimentos. Mas tudo se degrada lentamente. Da sociedade à política, dos quartéis aos comandos, do governo aos serviços públicos. Marcelo não percebe ou não consegue alternativas. Há quem diga que era traído nos mais pequenos pormenores pelos que o cercavam. Não será de admirar, nem surpresa para quem já teve a responsabilidade de dirigir, que uma chefia frouxa, pouco informada e há deriva, é enganada por todos os lados.
É, pois, neste quadro que o “velho homem” de 1933, fecha os olhos e baixa à terra.
É este o País que entre 1968 e 1974, era repudiado por uma Europa, que de pura, pouco teria, mas que tinha a virtude da Liberdade. É neste clima e neste quadro, que o Senhor Presidente do Concelho Marcelo Caetano, começa a ser repudiado pelos seus pares estrangeiros e a cair em desgraça interna. À esquerda e à direita. Por razões e lógicas diferentes, ambos os opositores estavam de acordo. Aquilo, Não.
Fez pois, ontem, quarenta anos, que se começou a fingir que se mudava.
Lembremos, para que a memória nos ajude a evitar erros dramáticos num futuro muito próximo.
É sempre mau ter mais do mesmo, com outro nome e o mesmo corpo.
Jerónimo Sardinha
27Setembro08.
2 comentários:
PARA QUE NÃO ESQUEÇA, mas este lugar é tão pequeno para tanto grito, mas continuemos a gritar, pode acontecer que encontre eco, mas....
Caro Jerónimo
Pois é, Caetano será, como também disse um dia uma popular, um Salazar mais sorridente. Todavia enquanto em Salazar só vejo escuros de uma abjecta ditadura, cuja fantochada psicótica da encenação do poder nos últimos anos da vida do ditador a todos devia de encher de vergonha, como a mais grotesca peça da trágico-comédia de uma ditadura velha e mentecapta, ainda serve como hossanas para saudosistas tontos que queriam Portugal amarrado a uma ditadura pré-capitalista, pré-industrial, baseada na força, na mentalidade de escravos, no pensamento anti-cristão de uma igreja católica aliada de sangue e ideologicamente do regime fascista de Salazar.
Quanto a Caetano conheci o seu pensamento para a juventude, quando comissário da Mocidade Portuguesa, então, achei-o correcto e de tudo retenho a defesa da ideia que para rapazes não havia melhores chefes que outros rapazes, julgo que tinha e tem razão, portanto, sendo eu da Mocidade Portuguesa, 2ºCte da escola de graduados (desde muito novo exerci funções de liderança na escola, nos diversos graus de ensino, na igreja, na mocidade portuguesa e no grupo de amigos -vaidoso, não, é um facto como beber água, somente é de outra natureza) na disputa com um Prof. de filosofia, o Dr. Brás, que me tinha dado na prova oral do 7ºano, de filosofia 19v, o que gera relações de empatia entre Prof. e aluno, o que era o caso, quis expulsar, sendo Director daquela escola o comandante da mesma, de quem eu não era especialmente amigo, nem nunca fui, mesmo quando os flamistas lhe puseram bombas em casa, só que aquela expulsão era injusta, embora me beneficiasse, não a podia apoiar.
Como ser coerente e ter princípios se pagou sempre caro e se continua a pagar, fui expulso da escola antes do visado comandante, fui perseguido no liceu, e porque recordava as palavras do Prof. Marcelo Caetano lá lhe escrevi para o endereço que obtive uma carta. Nunca houve resposta, nem a carta devolvida, consequentemente este foi o meu primeiro e forte desapontamento PESSOAL em relação a esta personagem, e em matéria de princípios.
Nesta zona escura desta personagem continua tudo o que dizes e que subscrevo, mas aos claros para além da questão universitária, quero acrescentar um pormenor que me parece significativo quer para o Prof. Marcelo, quer para a câmara do Barreiro que na sua bibliografia editada sobre as greves da CUF de 1943, hoje muito esquecidas pelos que trabalharam na CUF e cantam hinos de glória aos benfazejos Mellos que naquela altura pagavam mal, como sempre, e que potenciaram as condições para uma repressão feroz daquelas greves. A miséria e a injustiça eram tão graves que o Prof. Marcelo criticou o chamado Estado Novo, por ser tão injusto e deu razão aos grevistas.
O Prof. Marcelo foi, como diz a tal popular, um Salazar mais sorridente, porque isso era realmente a sua verdade, ou não pôde ser outra personagem, por força dos ultras Kaúlza, Albino dos Reis, Tenreiro, Rolão Preto ( nazi confesso)?
Sei que o 25 de Abril tinha de se fazer contra ele, porque um dia a mais de liberdade na vida de um povo merece todos os sacrifícios. Agora, tenho algumas dúvidas quanto à sua completa identificação com o fascismo de Salazar. Dúvidas!?....
Bom fim-de-semana
Abraço
asilva
Pois é, o negrume era tal que, muita gente, supôs ver uma candeia no senhor que seguiu...
Claro que o nosso drama é nunca termos conseguido ir ao futuro... se tal tivesse sido possível, descortinaríamos o que veio depois... e depois... e depois!
Abraço.
José-Augusto de Carvalho
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