quarta-feira, 19 de novembro de 2008


LUZ

Cada parto foi um porto
Cais da vida ancoradouro
à Sombra dum país morto
Nasceu meu menino de ouro.
Nasceu entre mãos de esperança
No meu grito de ternura
Quando dei cada criança
Ao país da noite escura.
Mas cada parto trazia
O meu grito de certeza
Cada vida que nascia
Era uma semente acesa
Uma luz que começava
à beira do corpo sonho
E que crescia e cantava
A terra livre do sono.
Era um olhar de criança
A ver a fímbria da vida
A espelhar a confiança
Sobre a água acontecida.
Era mar de movimento
No início da montanha
A soltar asa de vento
Em cada cantiga estranha.
Era ainda uma criança
Acabada de nascer
Que para o futuro lança
Olhar de homem de mulher.
Cada parto cada porto
Cada cais cada cidade
Cada sorriso absorto
Despertava à claridade.
Porque uma criança traz
No ventre da madrugada
O caminho para a Paz!
Porque uma criança tem
No primeiro eco da vida
A imagem que sustém
A viagem conseguida.

Cada parto foi um porto
Um país uma cidade
A escrever em cada corpo
Pra sempre fraternidade.


Marília Gonçalves

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