terça-feira, 4 de novembro de 2008

OS MILITARES TÊM COMO MODELO DE CIDADANIA O SERVIÇO AO PAÍS




Muitos de nós por dever de consciência e no exercício das suas funções temos vindo alertar desde há muito quem de direito, para várias situações de descontentamento profissional, na área estrita do cumprimento das missões militares, num contexto insofismável de Cidadania Nacional e Internacional.

No meu caso como psicólogo militar nas duas últimas décadas e na qualidade de subdirector e director do Centro de Psicologia Aplicada do Exército registei muitas situações de insatisfação no Exército.

No caso das minhas funções, e porque entendo o Exército como um todo não falei só de oficiais do QP, falei também dos oficiais do regime de Contrato, dos sargentos, dos primeiros sargentos que estão no posto há 11anos e que de um modo geral quando não há soldados o trabalho destes sobra para eles, dos soldados e das famílias dos militares, sobretudo das daqueles que morrem no cumprimento das missões que lhes foram atribuídas, e que precisam de um apoio especial, mas que para o dar é preciso formar especialistas, o que o foi recusado, quando solicitado por aquele Centro.

Todavia por um imperativo de consciência apoiou-se a família do Soldado Ribeirinho e do 1ºsarg Roma Pereira caído no Afeganistão, por vezes sem o devido sancionamento, mas com um resultado humano gratificante, conseguimos a afastar o risco muito forte de lutos patológicos. Facto que nunca foi reconhecido por qualquer instância militar ou governativa, apesar de alguns membros dos gabinetes governativos se terem cruzado nas ombreiras das portas das famílias destroçadas com os psicólogos militares daquele centro. Nesta tarefa deu o seu máximo uma tenente do Regime de contrato, como outras tantas vezes aconteceu.

Se é verdade que o poder politico não tem respeitado os militares, o mesmo tem acontecido dentro da Instituição Militar a começar pelos sucessivos regulamentos de avaliação do mérito militar que sendo discricionários podem desrespeitar a competência real, e privilegiar outras competências, o que é uma elevada desconsideração pela generalidade dos militares.

Também não será uma grave desconsideração fazer deslocar uma data de quilometros, um servidor que durante 41 anos esteve nas fileiras do Exército tem o posto de Coronel, metê-lo numa bicha interminável para depois disto tudo perante uma factura de estomatologia de 70€ darem-lhe 17 €, o que descontando o 4€ de transporte, reduz-se para 13?

Não será também uma vergonha a ADME exigir para a renovação dos respectivos cartões para os filhos dos militares estudantes que se apresente uma certidão narrativa de nascimento ( custo 16€) e um certificado da segurança social que para obtê-lo é preciso ficar 3 horas nas bichas das lojas do cidadão, para além do certificado de matricula?

Terá sido o Governo quem determinou isto, se foi é muito grave, porque é uma atitude de discriminação negativa em relação aos militares? Se não foi, então porque nos estão a fazer isto e quem o determinou e porquê? Não aceito estar sujeito a controlos por contas mal feitas de outros, quem as fez que seja perseguido e julgado.

Se não nos respeitarmos, se não valorizarmos a função militar com elevadas competências nos domínios da cidadania, da cultura, da ciência e na área técnico militar para pouco ou nada valerão mais uns euros no vencimento e umas bonificações nas consultas, porque nem os Governos e pior a nação e os grupos sociais de referência nos considerarão seus pares.

Para mim não há, nem pode haver castas no Exército, nem no país e a questão do prestigio da função e do estatuto da condição militar é global e não meramente salarial ou de estrangulamentos na carreira, que insisto atinge mais os 1º sargentos, mas também está nos abusos que são cometidos com recurso ao estatuto da condição militar, que no seu extremo leva a uma obediência cega com total anulação dos direitos regulamentares e constitucionais dos cidadãos militares? E quão pesado é este estatuto, quando um militar pessoalmente já não quer regressar a um dado teatro de operações, mas por dever regressa, algumas vezes para morrer.

A reestruturação do Exército, ramo que conheço, tem de ser muito profunda e passa pelos vencimentos, as condições de trabalho, a dignificação pessoal e profissional de todos os militares, o acesso à saúde, a avaliação do mérito e progressão na carreira, enfim é quase como se tudo estivesse por fazer, o que é espantoso, um paralelismo idêntico se passa ao nível das nossas escolas de todos os graus.

Mas seria bom não esquecer que sem soldados não há Exército. Sou do tempo que um capitão comandava 150 homens, hoje mais meia dúzia de militares e temos a comandá-los um coronel, não sei quantos tenentes- coronéis, majores e capitães. Julgo que todos os que pensavam que promovendo tão generosamente para um Exército tão exíguo tantos militares a generais e a coronéis que resolveriam as questões do Exército devem estar muito surpreendidos.

De qualquer modo falar de golpes de Estado, ou de caudilhismo para resolver estas questões é uma patetice muito grave, e querer estabelecer qualquer paralelismo entre actos de capitães hoje com o dos heróicos capitães de Abril, baralhando indisciplina com um acto revolucionário para pôr cobro a uma Ditadura é algo de inaceitável e creio mesmo que no Exército não há qualquer indicio de um ambiente próximo da explosão.

O mais importante é o país dignificar as suas Forças Armadas, ou extingui-las, e sobretudo, como País avançar na democracia e no desenvolvimento. É fundamental que o POVO PORTUGUÊS, através do voto eleja governos que combatam a corrupção e respeitem os grupos profissionais sem fazer nunca dos militares guardas pretorianos do regime à custa de meia dúzia de euros e da anulação da personalidade jurídica, moral e de cidadão dos militares.

OS MILITARES NA ESTEIRA DO 25 DE ABRIL DEVEM SER ILUSTRES E DIGNIFICADOS SERVIDORES DA CAUSA PÚBLICA E DA REPÚBLICA. DEVERÃO TER COMO REFERÊNCIAL O SERVIÇO À LIBERDADE E À JUSTIÇA NA CONSRUÇÃO DO PORTUGAL DE TODOS OS PORTUGUESES E DE TODOS OS CIDADÃOS DO MUNDO QUE HONRADAMENTE DÃO O MELHOR DE SI, PARA O DESENVOLVIMENTO DESTA NOSSA TERRA – PORTUGAL.

andrade da silva 3nov 08

4 comentários:

Jerónimo Sardinha disse...

Meu Caro Andrade da Silva,

Parabéns ! Um dos melhores e mais objectivos artigos que nos destes nos últimos tempos.

A análise que fazes, embora tenha o peso da visão do lado militar, aborda e mexe com a sociedade no seu todo.

Assim, temos que:

É verdade. Vários têm sido os avisos, mas normalmente, partindo de militares que como tu, estão preocupados com a coesão nacional, de que as Forças Armadas são parte integrante;

A problemática da criação de especialidades, em todos os níveis da esfera estatal, é absolutamente inconveniente para os que se passeiam pelos corredores do poder. Isso implicava com nomeações de competência e não deixava lugar para os pagamentos de favor político e coarctava a entrada de gente dos "clubes". Perder-se-ia a hegemonia partidária, quer na função pública, quer nas Forças Armadas.
Por extensão a sociedade civil, tem adoptado o mesmo critério, principalmente nas grandes empresas, onde lugares especiais são mantidos cativos para os mesmos fins;

O poder político não respeita os militares, porque os militares que se têm colocado a jeito de exercício de funções superiores, são desde logo e à partida comprometidos com o poder político.
A eles caberia defender todo o quadro que se encontra sob sua responsabilidade. Mas convenhamos, é mais fácil ser humilde e subserviente, fazendo a vontade de meia dúzia de individuos dominantes e colher alguns louros, pequenos, ou grandes dividendos e uma oca e obsoleta honraria de circunstância.
Isso é exactamente o que se passa no outro lado da sociedade, onde os piores, sendo mais fáceis de domesticar, têm ocupado os postos que, por direito, deveria ser dos mais capazes e isentos.
O resultado final, é que se há insatisfação na "coisa" militar, há muito mais, por maior número de cidadãos, na generalidade do tecido social;

Quanto aos problemas na saúde, ele não é pior nem melhor do que o que se verifica no País. Um cidadão morre de parto ou enfarte numa ambulância, porque um qualquer esbirro, dito ministro, fechou o serviço de saúde da sua zona, obrigando a uma deslocação de dezenas ou centenas de quilómetros para ser assistido.
Quando os sucessivos governos começaram a mexer na saúde militar, logo me insurgi, prevendo que era um balão de ensaio para o aniquilamento da saúde social, no seu todo. Na altura, não houve cão nem gato que me não quizesse fritar às postas, porque não tinha nada, como civil, que me meter na vida da esfera militar. Deu no que deu e se não fossem atingidos nove milhões de Portugueses (o outro milhão, que me perdoe, pague o que necessitar, como bem comercializável e com os frutos da expeculação que o abastou), eu diria que era bem feito. Havemos de nos habituar que é melhor não caír do que pôr gesso na perna;

Abordas a dignificação militar. Como poderá haver dignificação, num quadro em que existem mais generais do que soldados. Penso que se deveria inverter a cadeia de comando e pôr um soldado a comandar 30 generais. Talvez assim se recuperasse a hierarquia.
Não tenho nada contra generais, marechais e quejandos. Mas não me parece que umas forças armadas que continuam a enfiar estrelas nas passadeiras a eito, possam de alguma maneira exigir ser vistas com dignidade. E não tem nada a ver com os homens. Tem a ver com o sistema. É evidente que nós, deste lado da cidadania, só podemos observar jocosamente tais situações. Ainda agora, na última fornada, era frequente o comentário de que o aviário abrira as portas de novo. Como queres dignidade com situações destas ?
Como na esfera civil ! Como quero eu dignidade, quando ao meu lado, por um favor ou uma promessa, é nomeado chefe ou director, um desconhecido e sem qualificação ?

Bem ! Aqui tens toda a razão. Os militares na esteira do 25 de Abril deveriam ser ilustres e dedicados. Deveriam ter começado, desde as primeiras horas a honrar e respeitar, fazendo respeitar, por implícito, a Declaração do MFA, não se desviando da linha de conduta que (alguns) se haviam imposto e prometido solenemente respeitar.
Isso, impunha a não aceitação a esmo, de pessoas duvidosas, para os cargos imediatos. Havia muitos e bons homens na sociedade portuguesa da época.
Algo não correu bem. Ou já estaria previsto não correr. É uma dúvida que nos vai assaltar até ao fim !

Enquanto, a exemplo das sociedades evoluídas e educadas, não conseguirmos entender, TODOS, que o militar é um cidadão FARDADO, com um dever específico e único, mandatado por todos nós, sob compromisso, para garantir a nossa segurança, independência e identidade, estará tudo comprometido. Inquinou há nascença e só pode ser um aleijão. Neste caso social.
Enquanto não conseguirmos compreender que para se exigir serviço extremo e de risco, aos que o aceitam como missão, temos que lhes proporcionar situação condigna, não de privilégio, isso não existe, a si e há sua família, como se poderá evitar o cenário que agora se apresenta ?

Quanto a golpes, não vou abordar aqui essa questão.
Eles são tantos e tão variados, todos os dias e passam despercebidos e incólomes, que não cabe aqui a sua análise.

Muito. Muito bom trabalho, Andrade da Silva.

Grande abraço,
Jerónimo Sardinha

andrade da silva disse...

Caro Jerónimo

Os caminhos são estreitos e pedregosos, e sobretudo estão blindados pela comunicação social dos poderosos.Eles dominam de um lado ( bons) e do outro ( os maus) todo o espaço comunicacional, fazendo crer que só existem as suas alternativas, e se uma é má, a outra é óptima.

As organizações existentes guiam-se pelo código do poder Weberiano, ou seja, o poder é a capacidade de impõr uma vontade a outrem, mesmo contra avontade deste outrem.
Todos as pessoas,quase sem excepção em Portugal depois de deterem um quinhão do poder agem assim, são ditadores, ditadorzecos.

Entre nós há um défice grave de tolerância, humildade e cultura democrática, se não sairmos deste cubo que prende a maioria dos portugueses, continuaremos a viver neste misero cinzentismo liderados por imbecis corruptos que convenceram gentes cangadas e escravas de que eles são o melhor que o País tem.

Seria preciso varrer com estas bruxas e bruxos que vindos da noite escura dos tempos assaltaram os poderes.

Nesta asfixia de alternativas, cabe a alguns gritarem aqui na blogoesfera sabendo que sem um milagre vão finar-se sem serem ouvidos, isto é, o seu grito será abafado pelo estreito cubo da prisão que os donos dos mundos impõem, e quanto a nós é bom não esquecer que isso aconteceu com a avenidadaliberdade, blogue da Associação 25 de Abril, acontecendo que ainda não foi possível divulgar a exiatência deste blogue aos seus associados,o que é paradigmático sobre um dado estado a que chegamos.
asilva

Jerónimo Sardinha disse...

Meu Caro Andrade da Silva,

Tudo o que dizes corresponde há verdade, que desde há muito nos impuseram.
No entanto, nem tudo é assim tão mau. Basta para tanto que um ou dois o queiram.
Penso que não estamos assim tão sózinhos. A ausência de comentadores, pode dever-se um pouco à exigência de alguns textos.
A forma incisiva como se debatem os problemas, sem peias nem meias palavras poderá assustar alguns leitores, que estando de acordo mas há boa maneira portuguesa, se escusam a comentar, com medo de se tornarem visíveis.
Não esqueças, que foi exercício de LIBERDADE E DEMOCRACIA, que assustou os "donos" da Avenida da Liberdade.
Sim, porque uma coisa é eu dizer-me democrata e outra, completamente diferente, senão antagónica, é o modo como exerço essa democracia. A tolerância para com opiniões divergentes, a humildade de saber aprender e ensinar, ao nível dos meus interlocutores, a paciência para com aqueles que teimosamente insistem na "sua" razão, etc., etc..
Mas a história de "donos" e senhores, nunca me atemorizou, nem me tolheu a iniciativa, antes pelo contrário, sempre me aguçou a massa cinzenta, despertando e levando a soluções substitutas, por vezes mais completas que o original.
Além do mais, agora que por força de circunstâncias inesperadas tenho tido um pouco mais de tempo para navegar e visitar outras folhas, estou muito satisfeito com o desempenho da nossa.
Não estou a apaziguar a tua ansiedade, é um facto.
Óptimos blogues e folhas, com texto excelentes, alguns quase de antologia, não conseguem um comentário sequer. Umas com mais visitas, outras, a maioria, com muito menos visitas.
Como o dizes e ambos o temos repetido até há exaustão, é típico da nossa gente. Precisamos de muito mais escola, mas principalmente, de muito melhor e diferente escola.
Só assim e daqui a muito tempo lá iremos.

Fico-me por aqui, por agora.

Grande abraço,
Jerónimo Sardinha.

andrade da silva disse...

Será sempre uma grande honra e uma dádiva lerem-nos e se possível ampliarem o grito, isso já será muito bom e bem hajam todos o que o fizerem.

O que mais importa é que quem comunga destes gritos traga mais um amigo para se poder fazer uma vozearia.

Muito grato ficaremos que digam de sua justiça, mas tragam sempre mais um amigo,dois, três..cinco...
abraços
asilva