não cales tuas palavras
não cales fala
não te cales pelos outros
por ti fala
não cales fala
não te cales pelos outros
por ti fala
por mim fala
por outro fala
não somos donos das palavras
atira-as ao largo e olha bem
quantas flores brancas surgem delas
tantas
tantas palavras belas
e mesmo assim
por outro fala
não somos donos das palavras
atira-as ao largo e olha bem
quantas flores brancas surgem delas
tantas
tantas palavras belas
e mesmo assim
só
quem quer ver
as vê brancas
Inez Andrade Paes
quem quer ver
as vê brancas
Inez Andrade Paes
3 comentários:
Obrigado à Inez
Para todos bom fim-de-semana, vou até à outra parte da Ibéria ver palavras que sejam flores brancas,como diz a nossa companheira Inez.
abraços
asilva
Damos as Boas Vindas a
Inez Andrade Paes,
que pela mão do Companheiro e Amigo Andrade da Silva, nos apresenta uma bela e estimulante poesia.
Venha mais vezes.
Estimule-nos com a sua sensibilidade e dê-nos o gozo das suas bonitas palavras.
Seja pois, Bem Vinda.
Abraço fraterno,
Jerónimo Sardinha
a PALAVRA pela sua força pode ter dois gumes!
Aqui fica pois com a minha Homenagem aos Resistentes
este poema de Jaime Cortesão
Marilia Gonçalves
POESIA DA RESISTÊNCIA - Romance do Homem da Boca Fechada
Jaime Cortesão - Romance do Homem da Boca Fechada
- Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
- Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar.
Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.
Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.
Passava já de ano e dia…
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.
Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar
- Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
- Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
- Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
- Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!
- A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
- Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!
Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.
- Antes que fale emudeça! -
Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.
A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!
Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!
Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar.
Este poema de Jaime Cortesão circulou clandestinamente nos anos trinta e foi publicado no Avante em 1937 . A publicação de um poema de um republicano sobre um anarquista no jornal comunista inseria-se nos esforços de Francisco Paula de Oliveira /”Pavel” para reforçar uma política de frente popular em Portugal . Sobre Jaime Rebelo veja-se a sua necrologia em Voz Anarquista 1 , 22/1/1975 e César Oliveira , “Jaime Rebelo : Um Homem Para Além do Tempo ” , História , 6 , Março 1995
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