quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

PASSOS ERRADOS ATÉ WATERLOO: A GUERRA NO ENSINO.




“ Bem! Depois de se chegar ao campo de batalha, parece que de lá, só se sai, quando a derrota de um dos lados é evidente, como, por agora, ambos os contendores acham que estão a ganhar, só com mais luta e derrotas esta luta autista se resolverá, face ao que pode parecer uma acto gratuito, um cidadão querer trazer a bandeira da negociação e da ciência a uma luta que muitos querem que seja meramente política. Mas não deverá um cidadão que vê esta gente com o passo errado gritar?”

Caras Amigas e Amigos


Como pessoa preocupada com a avaliação desde há muitos anos, e por a ter estudado, como psicólogo, desde 1993, considero válidos muitos dos itens da proposta de avaliação dos professores do Governo. Considero-os correctos e apropriados. A estrutura parece-me defensável.

Quanto ao número de itens que os professores têm de responder é preciso conhecer os seus conteúdos, e o que é que procuram estimar e como o vão fazer. Se não estiverem relacionados com a definição do que é a Escola, seus objectivos e que tarefas cabem aos professores realizarem no contexto dessa escola, bem como, com a definição precisa e operacional das competências para as executar, e se não houver o catálogo dos cargos, então, se tudo isto falhar, os itens de avaliação valem zero.


Que os professores têm de intervir para diminuírem o insucesso escolar é evidente, todavia tem de se fazer o estudo adequado das turmas e do número de alunos distribuídos por professor. Se tiverem cem casos problema pouco poderão fazer, se tiverem 20 muito poderão fazer.


Obviamente que têm de preparar as aulas, mas tem de lhes ser dado tempos escolares para isso.


NÃO PODEM HAVER COTAS, É ÓBVIO. E A PROMOÇÃO NÃO SE PODE BASEAR SÓ NA AVALIAÇÂO, ESTA TEM DE SER UM ELEMENTO IMPORTANTE, MAS DEVERÁ HAVER COMPLEMENTARMENTE MAIS FORMAS DE AVALIAÇÂO DAS COMPETÊNCIAS PARA AS PROMOÇÕES E DESEMPATE NO CASO DE IGUALDADE NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO.


Quanto às consequências, professores titulares ou não, não sendo professor não sei avaliá-las, mas que conjuntamente com outras provas a avaliação deve provocar uma melhoria na velocidade de progressão, é óbvio.


Parece, naturalmente, evidente que com uma boa operacionalizção dos instrumentos de avaliação, das questões a responder e dos objectivos a alcançar e como, com a retirada, porque não tem base cientifica, das cotas, com a junção de provas ou cursos para a promoção aos graus superiores e a devida formação dos avaliadores, o modelo proposto cumpre as regras essenciais da avaliação, contrariamente ao falado pela Fenprof, que, do ponto de vista, da avaliação é uma mera falácia, é mesmo uma conversa entre pares, e, por isso, em termos epistemológicos e metodológicos é redondamente incompetente, ou visa outros objectivos no contexto das lutas politicas de 2009.

Como a Fenprof devia saber há uma verdade universal em todos os modelos de avaliação credíveis. É aceite que a auto-avaliação só pode ser uma parte da avaliação e não a sua totalidade, e que os professores têm de ser avaliados em sala é um imperativo, por ser exactamente ali que exercem o seu trabalho, e dão prova insofismável da sua mestria, ponto.

Quem já desempenhou funções de docência e foi aluno sabe que há professores que não sabem dar aulas em todos os níveis do ensino, e que o que escrevem nos sumários não corresponde à matéria dada, com gravíssimo prejuízo para os alunos. Tudo isto é válido para as escolas do ensino oficial, como para as de formação profissional e o ensino recorrente. Tudo isto é uma vergonha.


PORÉM ENQUANTO SE FALAR DE COTAS ESTE MODELO DE AVALIAÇÃO, DE UM PONTO DE VISTA CIÊNTIFICO, VALE ZERO, E NA PERSPECTIVA HUMANA E PROFISSIONAL É UMA ABERRAÇÃO, o que justifica o protesto dos professores, como justificaria o de todos os funcionários públicos sujeitos a esse travão economicista das cotas.


É preciso avaliar professores e escolas, porque a sua não avaliação tem consequências graves nos défices de formação dos alunos, o que todos os pais conhecem e os que exercem funções de selecção que se deparam com centenas de jovens com o 12º ano que escrevem como verdadeiros e absolutos analfabetos. Esta situação põe em causa aquela habilitação, como até Dezembro de 2006, de um modo claro, chamei a atenção dos responsáveis das escolas de formação militar, para os analfabetos que estavam a admitir. A prova destes factos está patente nos processos de candidatura daqueles jovens que no seu conjunto constituem um escândalo e o completo fracasso da escola quanto à aprendizagem mais elementar da língua portuguesa.

Também, como muitos outros pais, constatei durante todo o tempo de escolaridade do meu filho no ensino público a falta de assiduidade dolosa de alguns professores, a exigir procedimentos mesmo a nível dos tribunais por danos, a falta de disciplina nas aulas foi outro cancro e ainda a incompetência de outros professores foi algo de inaceitável, factos que indiciam que a avaliação à altura existente, porque não sancionava os comportamentos negativos e não premiava os positivos era inválida. Acrescento que este perfil comportamental dos professores é muito comum nas universidades, onde, fiz dois cursos e os reconheci, e se mantém ainda hoje, do que já reclamei junto do gabinete do Sr. ministro sem nenhuma resposta.


Ainda sei, como psicólogo, que já desempenhou funções em meio escolar, que os professores, de um modo geral, consideram-se com uma autoridade total dentro da sala de aulas, não admitindo sequer o concurso de outros técnicos, tanto pior será o admitirem uma avaliação.


Em toda esta batalha que já parece o Waterloo, não entendo porque não se faz intervir a ciência, para se resolver um braço de ferro que é de uma gravidade extrema para o país.


Mas será que estamos a sofrer de autismo? Ou a ciência não conta nada nesta terra, em pleno século 21?


Infelizmente até este momento o GOVERNO REVELOU-SE INCOMPETENTE E, OU MALDOSO EM TODOS OS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO QUE CONCEPTUALIZOU, COMO O DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, DOS MILITARES E DAS FORÇAS DE SEGURANÇA, LOGO QUEM É INCOMPETENTE PRIMEIRO TEM DE APRENDER, E NÃO SE ENTENDE PORQUE NINGUÉM QUER APRENDER, E TODOS PARECEM PREFERIR O AFRONTAMENTO E AS GUERRAS DE RUA.


O QUE PRETENDERÃO OS CONTENDORES, FACE AOS RISCOS QUE HÁ PARA A DEMOCRACIA, COMO É ÓBVIO E EVIDENTE QUE OS HÁ?


ESTARÁ A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SUFICIENTEMENTE ATENTA ÀS CONSEQUÊNCIAS DESTES PROCESSOS QUE PODERÃO NO SEU DESENVOLVIMENTO AFECTAR O NORMAL FUNCIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES, COMO SEJA IMPEDIR O EXERCÍCIO DA ACTIVIDADE GOVERNATIVA, A MEMBROS DO GOVERNO, COMO JÁ ACONTEEU COM A MINISTRA DA EDUCAÇÃO, O QUE NÃO PODE ACONTECER?


Com preocupação, lanço do deserto mais um grito. O país estará bem quanto à sua saúde mental? Que perigos encerra esta deriva autista?

Em qualquer caso o Governo é o mais responsável por todo este estado de coisas, por ser incompetente no essencial quanto à avaliação, ou seja, nas suas consequências que também devem ser formativas, e quanto às positivas não se sabe onde foi o governo buscar a cota de 5% de excelentes, quando no sector privado o valor empírico encontrado ronda os 10%. Mas seja como fôr, de um modo válido, é o processo de avaliação que deve determinar quem são os excelentes e, estes, se não podem ser todos, também serão mais que os tais 5%.


De que este sistema é absurdo, está o facto que, por exemplo, estas cotas podem conduzir ao cúmulo do risível de se determinar que um dado serviço só possa ter um excelente de três em três anos. Parece anedótico, mas é um facto que teve como palco um órgão de elevada hierarquia.


Andrade da Silva

PS:


No esquema de avaliação do governo sinalizei os itens que, na minha opinião, considero certos e errados, não sei se valeria a pena aqui publicar, mas como isso ocupa muito espaço deixo a decisão para o nosso companheiro Jerónimo.


Enviarei este texto para o Presidência da República, Gabinete do Sr. Primeiro Ministro, Ministra da Educação e para a Fenprof se chegar ao seu e-mail.

Porque hoje é 4 de Dezembro recordo a morte trágica e dolorosa de Sá Carneiro. Sinto a dor dos seus. Um dos seus filhos fez comigo, por duas vezes cadete de dia na EPST, vivi a dor daquele filho, e estimei-o muito.

Porém não reconheço que após 25 de Abril Portugal tenha tido qualquer estadista à altura das esperanças de Abril. Todos, sem excepção, com mais ou menos retórica foram uns medianos estadistas aplicando a velhas receitas da gestão capitalista, ou seja, grandes lucros para os donos do dinheiro e os amigalhaços e migalhas para os demais. Nenhum fez mais que isto.

Valeu bastante a entrada na União Europeia, porque creio que se não estivéssemos na UE seriam os fascistas a governar Portugal em ditadura fascista

1 comentário:

Marília Gonçalves disse...

para reflectir, para tal servem os espelhos
Marilia


Poema
A Escola Portuguesa

Eis as crianças vermelhas
Na sua hedionda prisão:
Doirado enxame de abelhas!
O mestre-escola é o zangão.

Em duros bancos de pinho
Senta-se a turba sonora
Dos corpos feitos de arminho,
Das almas feitas d'aurora.

Soletram versos e prosas
Horríveis; contudo, ao lê-las
Daquelas bocas de rosas
Saem murmúrios de estrela.

Contemplam de quando em quando,
E com inveja, Senhor!
As andorinhas passando
Do azul no livre esplendor.

Oh, que existência doirada
Lá cima, no azul, na glória,
Sem cartilhas, sem tabuada,
Sem mestre e sem palmatória!

E como os dias são longos
Nestas prisões sepulcrais!
Abrem a boca os ditongos,
E as cifras tristes dão ais!

Desgraçadas toutinegras,
Que insuportáveis martírios!
João Félix co'as unhas negras,
Mostrando as vogais aos lírios!

Como querem que despontem
Os frutos na escola aldeã,
Se o nome do mestre é — Ontem
E o do discíp'lo — Amanhã!

Como é que há-de na campina
Surgir o trigal maduro,
Se é o Passado quem ensina
O b a ba ao Futuro!

Entregar a um tarimbeiro
Um coração infantil!
Fazer o calvo Janeiro
Preceptor do loiro Abril!

Barbaridade irrisória,
Estúpido despotismo!
Meter uma palmatória
Nas mãos dum anacronismo!

A palmatória, o açoite,
A estupidez decretada!
A lei incumbindo a Noite
Da educação da Alvoradal

Gravai na vossa lembrança
E meditai com horror,
Que o homem sai da criança
Como o fruto sai da flor.

Da pequenina semente,
Que a escola régia destrói,
Pode fazer-se igualmente
Ou o assassino ou o herói.

Desta escola a uma prisão
Vai um caminho agoireiro:
A escola produz o grão
De que a enxovia é o celeiro.

Deixai ver o Sol doirado
À infância, eis o que eu vos peço.
Esta escola é um atentado,
Um roubo feito ao progresso.

Vamos, arrancai a infância
Da lama deste paul;
Rasgai no muro Ignorância
Trezentas portas de azul!

O professor asinino,
Segundo entre nós ele é,
Dum anjo extrai um cretino,
Dum cretino um chimpanzé.

Empunhando as rijas férulas
Vós esmagais e partis
As crianças — essas pérolas
Na escola — esse almofariz.

Isto escolas!... que índecência
Escolas, esta farsada!
São açougues de inocência,
São talhos d'anjos, mais nada.

Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'