quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


TO BE OR NOT TO BE”

NUM BILIÃO DE MOMENTOS (1.892.160.000 de segundos)


“ Aos que caem, meus Irmãos”


No Vil e Sombrio Turbilhão
Da Selva Social
Perdi-me….
No Recôndito Lugar Vazio de Liberdade
Morri…
Quem Quer Ser,
Morre!....
Quem Não O Quer Ser,
Vive!...
Quis e Quero Ser
Um EU,
Livre, Fraterno, Idiossincrático.
Só Posso Sê-lo,
Morrendo.
Morro, a Cada Momento.
Já Morri um Bilião de Vezes.
(1.892.160.000 + umas quantas)


andrade da silva 10 de Dezembro de 2008

PS: Eis o meu grito, do vazio e do Deserto, contra a Violação Sistemática dos Direitos Humanos em Portugal e mil vezes mais em todos os regimes CRIMINOSOS E DITATORIAIS.

Hipócritas são todos os governos e parlamentos do mundo que celebram o aniversário da sua Proclamação. Acto gratuito, só " para inglês ver". Hipócritas, Malditos!




4 comentários:

Jerónimo Sardinha disse...

Caro Andrade da Silva,

Este tal século XXI, que todos os políticos do século passado garantiam ir ser de igualdade, oportunidade e combate a todas as misérias e guerras, vai sendo, já na sua primeira década, um dos mais desvatadores do ser humano.
Não me refiro ao metafórico, mas tão sòmente ao físico e real.
Nunca o mundo conheceu uma tão grande investida do capitalismo selvagem contra o ser humano, no seu todo.
E por muito que apregoem loas a novas formas, todas elas irão mostrar-se mais agressivas e divisionárias que as anteriores.
A fome, que grassa já pelos países que se dizem desenvolvidos, é um tormento que tende a universalizar-se, sendo desumano o que se passa pelas Áfricas, Oriente Médio, Ásia e Américas.
A mim, que sempre fui um marginal de regimes, resta-me a consolação de ver o que acontecerá quando não houver espécimes para servir e escravizar. Por inépcia e incapacidade, serão "os tais" a sucumbir. Nao conseguirão pão, com os seus milhões acumulados, porque já não há escravos e eles não o sabem produzir. Ao desaparecerem, ter-se-hão cumprido as professias que de todos os tempos o apontavam. Mais recentemente as de Orwell, na sua visão catastrófica moderna.

Quanto aos chamados Direitos Humanos, terá sido mais uma forma, indigna, de uns quantos culpados de todos os males, aliviarem a consciência, fazendo neste tempo, tábua rasa do que se comprometeram.
E a nível de estados, são todos, em todos os quadrantes políticos.

Para nossa mágoa e inquietação, caminha-se pois, para um tempo mais desumano, mais desigual e mais agressivo.

Bem hajas por acordares as consciências com a tua inquietação e o teu humanismo.

Grande abraço, Companheiro Amigo,
Jerónimo Sardinha

andrade da silva disse...

caro Jerónimo

Hoje numa tertúlia relativamente auto-satisfeita por existir um texto com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, disse aos meus companheiros que iria fazer a desestruturação da benignidade daquele texto, segundo dois vectores:

1º Para uma dada população culta, o tudo, a que acedem são aos textos, nunca conseguem, ou porque não querem, ou porque não podem às práticas do quotidiano, onde, se rasgam os textos das belas intenções, e se mata e fere os humanos

2º Apesar da positividade da existência daquela declaração, o que mais se deve referir é o seu incumprimento por parte de Governos e Parlamentos, inclusive os Portugueses, o que, torna as comemorações do 60º aniversário por parte de governos, num acto hipócrita, enquanto eles próprios transformam aquela declaração num acto socialmente nulo, conforme o demonstras, mas também juridicamente nulo, porque aqueles direitos não têm qualquer acolhimento no direito normal.

A contradição é tal que seria considerado idiota, louco quem nos países que os EUA ou a UE dizem ser estados de direito, evocasse ser alvo de violação dos direitos humanos e mais grave ainda se referir qualquer caso de comportamento de verdadeira tortura psicológica de chefias e patrões que deixam os trabalhadores à beira de um ataque de nervos.

Facto que é uma prática muito sistemática, nomeadamente na função pública com o actual sistema de avaliação e nas forças armadas com o poder discricionário das chefias para punirem com prisão o seus subordinados e rescindirem unilateralmente os contratos do Regimes de Voluntariado.

Mas o mais grave é que todos sabem disto, porque é uma prática corrente nas semi-democracias em que vivemos, ou seja, como o Prof. Costa Pinto já definiu, para o caso típico da Madeira, estados formalmente com todas as liberdades e pluralidade de pensamento, mas na essência e, tendencialmente, praticam o pensamento único, com variações, acrescento, em dó e ré menor

Infelizmente como declara também José Saramago para muitos o ter uma declaração Universal dos Direitos Humanos é tudo, quando na realidade é só quase uma mão cheia de vento e da possibilidade das boas consciências descansarem, porque, julgam que, enquanto intelectuais o seu dever é produzirem belos textos e proclamarem: EIS A OBRA.

É bom ter o documento orientador, mas como refere, ainda, José Saramago é preciso criar o dever dos estados e dos cidadãos cumprirem com os direitos humanos, o que não está, de modo algum, ao dobrar da esquina, e quanto mais os cidadãos se deleitarem com boas intenções dos poderosos que não as querem cumprir, mais a coisa fica preta.
abraço companheiro.

asilva

Marília Gonçalves disse...

POEMA DO AUTOCARRO

Quantos biliões de homens! Quantos gritos
de pânico terror!
Quantos ventres aflitos!
Quantos milhões de litros
do movediço amor!
Quantos!
Quantas revoluções na cósmica viagem!
Quantos deuses erguidos! Quantos ídolos de barro!
Quantos!
até eu estar aqui nesta paragem
à espera do autocarro.
E aqui estou, realmente.
Aqui estou encharcado em sangue de inocente,
no sangue dos homens que matei,
no sangue dos impérios que fiz e que desfiz,
no sangue do que sei e que não sei,
no sangue do que quis e que não quis.
Sangue.
Sangue.
Sangue.
Sangue.

Amanhã, talvez nesta paragem de autocarro,
numa hora qualquer, H ou F ou G,
uns homens hão-de vir cheios de medo e sede
e me hão-de fuzilar aqui contra a parede,
e eu nem sequer perguntarei porquê.

Mas...

Não há mas.
Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.

Mas eu só faço o bem, eu só desejo o bem,
o bem universal,
sem distinguir ninguém.

Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.
Eles virão e eu morrerei sem lhes pedir socorro
e sem lhes perguntar porque maltratam.
Eu sei porque é que morro.
Eles é que não sabem porque matam.
Eles são pedras roladas no caos,
são ecos longínquos num búzio de sons.
Os homens nascem maus.
Nós é que havemos de fazê-los bons.

Procuro um rosto neste pequeno mundo do autocarro,
um rosto onde possa descansar os olhos olhando,
um rosto como um gesto suspenso
que me estivesse esperando.

Mas o rosto não existe. Existem caras,
caras triunfantes de vícios,
soberbamente ignaras
com desvergonhas dissimuladas nos interstícios.
O rosto não existe.

Procura-o.

Não existe.

Procura-o.
Procura-o como a garganta do emparedado
procura o ar;
como os dedos do afogado
buscam a tábua para se agarrar.

Não existe.

Vês aquele par sentado além ao fundo?

Vês?

Alheio a tudo quanto vai pelo mundo,
simboliza o amor.
Podia o céu ruir e a terra abrir-se,
uma chuva de lodo e sangue arrasar tudo
que eles continuariam a sorrir-se.

Não crês no amor?

?

Não ouves?

?

Não crês no amor?

Cala-te, estupor.
Tenho vergonha de existir.
Vergonha de aqui estar simplesmente pensando,
colaborando
sem resistir.

Disso, e do resto.
Vergonha de sorrir para quem detesto,
de responder pois é
quando não é.
Vergonha de me ofenderem,
vergonha de me explorarem,
vergonha de me enganarem,
de me comprarem,
de me venderem.

Homens que nunca vi anseiam por resolver o meu problema concreto.
Oferecem-me automóveis, frigoríficos, aparelhos de televisão.
É só estender a mão
e aceitar o prospecto.

A vida é bela. Eu é que devia ser banido,
expulso da sociedade para que a não prejudique.

Hã?

Ah! Desculpe. Estava distraído.
Um de quinze tostões. Campo de Ourique.

Máquina de fogo, 1961

Marília Gonçalves disse...

o poema acima é de
António Gedeão