quarta-feira, 11 de março de 2009

11 de MARÇO 1975. ONDE ESTAVAMOS?


Há 34 anos o RALIS era bombardeado por aviões "condor" do negro fascismo. O país levantava-se para combater a contra-revolução spinolista que lutava, diziam, contra a terra queimada e o perigo comunista.

Nesta data os comunistas eram todos, os que não fossem reaccionários e, ou spinolistas, então, eu seria um comunista para essa gente, como o era o Vasco Lourenço, o Sousa e Castro, o Costa Neves e outros, mas mudam-se os tempos….

Mas para muitos outros e para mim o 11 de Março começa uns dias antes. Estava em Vendas Novas e por falta de motivação do Regimento de Infantaria de Setúbal para defender a Revolução, em 7 Março de 75 comandei as Forças militares de Vendas Novas que vieram até Setúbal defenderem a população e os agentes da PSP da violência que, entretanto, se desencadeou por causa de uma acção policial contra a população, no seguimento de uma contra manifestação desfavorável à realização de um comício do CDS.

Quando ali cheguei a esquadra estava cercada por uma multidão imensa ,os policias estavam em PÂNICO, BORRADOS, DE CABEÇA PERDIDA, montei o cordão de segurança. Garanti-lhes que os defenderia até à última gota de sangue, mas a verdade é que se a coisa desse para o torto, talvez o único individuo que pudesse garantir alguma coisa seria eu próprio, porque em boa verdade não tinha tropa preparada para aquelas andanças, mas agi sempre como se tivesse. Fui determinado, honra, que me valeu o castigo dos vencedores do 25 de Novembro e de toda a direita, mas poupei VIDAS, MUITAS.

Neste fatídica data aguentei a situação por 2 dias até ser reforçado por forças do COPCON comandadas por um Brigadeiro, com chaimites, (OLHAI só esta pequena desproporção!) que veio fazer a evacuação da esquadra, onde, os policias quiseram montar uma metralhadora para limparem a rua, segundo eles, por ordens do 2ºcomadnate da PSP, Major Casanova Ferreira, o que não permiti, ameaçando-os de não deixar pedra sobre pedra, se eles continuassem com aquele desaforo. Para esta missão os soldados estavam disponíveis, porque naqueles tempos, antes do 25 de Abril, ninguém se revia nas forças de (in)segurança.
Neste dia ganhou a Revolução.

No 11 de Março a Escola Prática de Artilharia, como um baluarte da revolução, esteve logo na rua e nas barricadas. Honrou a sua gloriosa história. Foi a 1º unidade a ser tomada pelo MFA na noite de 24 de Abril, e honrou-me ter sido o chefe da equipa de assalto ao gabinete do comandante, e, ainda mais, por ter executado aquela acção mesmo depois do elemento mais operacional, um tenente dos comandos, não se ter apresentado na hora exacta ( 23 e 55 de 24 de Abril 74, com a senha: a canção “ E Depois do Adeus “ de Paulo de Carvalho) para executar o assalto.

Coisas que acontecem, mas se tivesse hesitado, a tomada da unidade teria sido muito mais complicada, e a sorte do 25 de Abril poderia ser outra, porque, por exemplo, as forças de Salgueiro Maia deixariam de contar com os canhões postados no Cristo Rei…,enfim, curiosidades históricas, convenientemente esquecidas, sabe-se lá porquê?.

Uma vez mais em 11 de Março as forças do 24 de Abril são derrotadas, mas as convulsões no Alentejo por causa desta agressão à Revolução continuam e, assim, por ordem do COPCON em 13 de Março de 1975 recebo a missão do, então, Capitão Duarte Mendes para ir fazer frente a uma sublevação popular em Montemor-o-Novo. A população exigia a prisão de alguns latifundiários um de nome Vacas Nunes, outro Cunhal. Acusavam o Sr. Vacas Nunes de estar armado e ser responsável pela morte de um trabalhador nos anos 50 e ter desviado, através da GNR ,o cortejo fúnebre.

O povo estava exaltadíssimo e uma vez mais com forças insuficientes evacuei o Sr. Vacas Nunes, um outro latifundiário de nome Godinho e um terceiro, salvei-lhes a pele. Era 1 ou 2 da Madrugada, mas salvei-os, contudo fui acusado de entrar em casa alheia a desoras, como se para salvar vidas houvesse horas, ou o dever de consciência só funcionasse à luz do dia.

Então, era muito jovem, tinha 27 anos, não percebia estas coisas, hoje, já percebo um pouco melhor. Tudo é como o uso da gravata, trabalhei com um advogado que me dizia que andava com gravata por uma questão de dignidade, mas no Verão tirava-a, então, dizia-lhe lá se foi a sua dignidade!… assim, também à noite não há dever de consciência, por isso, se cometem os piores crimes, e até era à noite que o Sr. Oliveira e Costa se reunia com os accionistas, segundo o Sr. Dias Loureiro, para combinarem a estratégia que levou o BPN para os caminhos ínvios que todos sabemos, e que, perdoados serão! Coisas que se vão descobrindo com o correr dos anos.

Tanto esforço, tanto risco para depois ser condenado no 25 de Novembro pelos que à altura destes factos eram tão comunistas como eu, mas que depois de redimidos pelo Sr. Dr. Mário Soares passaram a moderados e Democratas. Todavia em 11 de Março de 75, como em datas anteriores, na qualidade de Delegado eleito do MFA, em Vendas Novas, recebi ordens directas do, então, capitão Sousa e Castro e do Vasco Lourenço para manter em rumo certo a Escola Prática de Artilharia, o que podia não ter acontecido, porque no seu seio havia alguns cavalos de Tróia, uns que já vinham de antes do 25 de Abril, eram considerados informadores da PIDE ( coisa pouca); outros tornaram-se por causa dos seus interesses coloniais.

Enfim, coisas sem qualquer interesse. GRITOS RIDICULOS!...

PORTUGAL!


andrade da silva 2009-03-11

6 comentários:

Carlos Esperança disse...

Li com emoção este fragmento de história sofrido na primeira pessoa.

Abraço.

andrade da silva disse...

Obrigado Carlos Esperança

O mais importante é que os que conhecem bem a trincheira do 25 de Abril Revolução, nunca se acobardarão e beijarão as mãos do padrinhos dos golpes de Estado.

Revolução é o povo,a sabedoria,a justiça, a liberdade em marcha,, enquanto os golpes de Estado é uns padrinhos a tomarem as cadeiras deixadas vagas por outros padrinhos.

Os tempos são muito difíceis, é preciso que se conheçam algumas verdades tão soterradas, porquê?
abraço
a silva

Anónimo disse...

Caro Andrade da Silva,
25 de Abril - 11 de Março - 25 de Nov. Marcos muito importantes, conhecidos na sua essência somente por quem esteve no palco da luta pela implantação da Liberdade. Por isso escritos corajosos como este " 11 de Março 1975, Onde Estávamos?" são fundamentais para a Memória da nossa história. Não basta que certos factos sejam apenas contados em reuniões de amigos. Impõem-se que fiquem expressos preto no branco.
Obrigada Andrade da Silva pela sua força e por este impressionante testemunho, bem como por ter sido Capitão de Abril.
Forte abraço
Maria José Gama

andrade da silva disse...

Cara Amiga Maria José Gama

Quanta honra sinto por quem tem uma longa história de luta pela democracia e a liberdade reconhecer que outros de um modo anónimo deram bastante de si por Portugal, e que é bom para todos e para Portugal que se conheçam essas histórias.
Um grande abraço

andrade da silva

Anónimo disse...

Caro Andrade da Silva,

Li muito interessado o seu relato pessoal, valioso pela sua acção. Sei bem que na altura desses acontecimentos só os oportunistas se safaram.

Eu há pouco saído da guerra colonial e a dar aulas em Alcanena, juntamente com outros professores e práticamente todos os alunos da escola saímos à rua, organizados e conjuntamente com as forças progressistas ocupámos a praça central da cidade, onde vários oradores discursaram para defendermos a revolução! As forças da GNR estiveram sempre enclausuradas dentro da guarnição, mas em momento algum foram invectivadas pela população!

Grandes momentos. Abraço grande de solidariedade !

andrade da silva disse...

Caro Amigo
Infelizmente a história repete-se. os cobardes salazaristas julgaram os heróicos militares da India como o comandante Marques da Silva, outros cobardes vencedores de outras miseráveis contendas julgaram e condenaram os que de Abril só receberam a honra do dever cumprido, e o mais que receberam foi prisão, perseguição dos que sempre ODIARAM O POVO QUE AtÉ DIZEM QUE NÃO SABEM O QUE É. GRANDE DIFERENÇA. EU SEI O QUE È O POVO SÂO O MEU PAI E A MINHA MÃE, ponto definitivo e total.
abraço
asilva