segunda-feira, 30 de março de 2009

BARQUEIRO DO BARCO NEGRO


Eu estava a cumprir o serviço militar quando Salazar começou a mobilizar tropas para a Índia e foi uma sorte incrível eu não ter sido mobilizado. O poema seguinte não foi publicado na revista Vértice

por ter sido cortado pela Censura salazarista.








BARQUEIRO DO BARCO NEGRO

Barqueiro do barco negro,
quero voltar à minha terra.
Naqueles longes de bruma
tenho os meus irmãos esperando
o estilhaçar do silêncio
que pesa sobre a montanha.

Naqueles longes de bruma
os homens perdem o riso.
Parou o tempo. E o Sol
desmaia logo ao nascer.

Barqueiro do barco negro,
quero voltar à minha terra.

O hálito de fogo e cinza
do monstro que traz a morte
seca os prados, seca os rios,
faz mirrar os pensamentos.

Não há estrela que perdure
na noite densa do medo.
Neva o luar sobre as casas
enregelando a vontade.

Barqueiro do barco negro,
quero voltar à minha terra.

Morrem os rios nas fontes,
morre a semente no chão,
morre o grito na garganta,
morre o protesto no sangue.

Os lobos rondam uivantes
de lanternas apontadas.
Barqueiro, quero voltar
com olhos de fogo-posto.

Barqueiro do barco negro,
ai, barqueiro do barco negro...

Carlos Domingos


2 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Carlos Domingos, caríssimo Amigo
o desejo de voltar...DE REGRESSAR ENFIM!
onde se esconde esse País amado, em que bruma ou em que gelo?
Também eu eu quero voltar!
mas onde está o meu Portugal? o meu, o nosso Portugal de Abril?
a luta continua! e mesmo se geograficamente distante estou de corpo e alma bem plantada em Portugal!
abraço meu amigo, amigo de Portugal e de seu povo

Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

À DIÁSPORA PORTUGUESA
Que grande potueguesismo vi nas comemorações do Dia de Portugal em Bruxelas,há uns anos, apesar de nenhum representante da embaixada de Portugal, estarem presentes!

Grandes Portugueses. Um grande abraço.
asilva