sábado, 28 de março de 2009

A VIDA E A MORTE.


A nossa grande amiga Estela e o meu caro amigo Augusto fizeram-me recordar e, bem, o que é a minha posição de sempre, sobre a vida e a morte.

Sei que um dia poderei desejar a morte quer para mim e, ou para uma das pessoas que me sejam mais queridas, todavia como sou, sobretudo, sensitivo, um verdadeiro touro de signo, adoro o tacto, os sabores, o ver e ouvir, sou possessivo, apaixonado, loucamente livre, embora, preso numa sociedade escrava de estúpidos tabus - dos tabus contra a pluralidade do amor que tantos têm morto, como a minha poetisa de sempre, a Florbela Espanca ( a “doente, louca e mórbida”) - só reverencio a vida.

Adoro o mundo, o belo. Não integro a morte na minha vida. É uma vil e terrível impostora e assassina, mas, porque não a prendem, é inelutável e insuperável. É, poderia, ou poderá não ser, mas, por ora, é invencível, ponto.

Há projectos, por aí, talvez loucos, a sonharem com os 800 anos de vida. Não sei bem para quem, nem para quê!? Mas só sei que ontem nasci, pouco ou nada conheço, ou sei, e já estou na lista de espera da partida bem à frente, e tudo começou ontem. Como tão fugaz é a vida!

Invejo a tranquilidade dos que integram a morte na vida. Espero na hora derradeira conquistar essa quase divina serenidade, mas, se nisto há algo de genético, a probabilidade de ser assim comigo, é remota. Não recebo dos meus pais, vigorosos e corajosos na vida, esse ensinamento.

Espero que a natureza, ou a medicina me poupem ao Alzheimer, e que o Serviço Nacional de Saúde e a sociedade evoluam, o que, por imperativo humano, devem progredir, para que neste último rito – e para mim que sou um apaixonado pelos ritos de passagem, paixão que procuro partilhar num Mundo tão certinho e ocupado, onde, nada disto cabe – não esteja a morrer sozinho, e todos tenhamos por perto familia e amigos, mas também uma tão querida amiga e técnica devotada, como a Estela Landeiro, e, nela, refiro, em primeiro lugar, como todos sabem, as psicólogas que trabalharam comigo e em 2º lugar alguns psicólogos, os que têm um cromossoma X e um Y, os que só têm dois cromossomas YY enganaram-se na sua vocação.
Espero também que os médicos, enfermeiros e o pessoal paramédico tenham a dimensão humana das colegas que aqui evoco para além da Estela, a Cristina Vilhena, a Cristina Santos, a Mafalda, a Diana,a Claudia, a Ana Ramos, a Paula Noné e a muito bondosa socióloga Rute Santos, entre algumas mais. Se o Mundo só tivesse gente generosa, como seria maravilhoso!

Penso que ser psicólogo é, sobretudo, um estado de espírito, de amizade, disponibilidade, onde, o feminino faz toda a superlativa diferença, quando é genuíno, e não copia os modelos musculados dos Y.

Queridas colegas que já sóis belas que a natureza ainda vos abençoe mais e mais, infinitamente….

Um grande abraço

andrade da silva

PS: Contrariamente ao generoso retrato que de mim fazem muitas queridas amigas, o que mais reconheço no Mundo é a maldade, o pântano. A maior certeza que tenho é a dúvida sobre a bondade, a fraternidade e a honestidade humanas, por isto tudo, a vida é que muita vezes me pesa, todavia, porque há Sol, alguma, pouca, muito pouca, gente sã, vivo, com alguma satisfação.

A morte não pesa nada, só é uma chatice, quando rouba o pensamento e as sensações, nos demais casos é uma dádiva, porque mais maldita que a morte é a doença incapacitante e que dói física e psicologicamente.

Desnudado, como sempre, me apresento, não como um optimista, mas tão só, como alguém que procura os fugazes momentos óptimos.

4 comentários:

Estela Landeiro disse...

Bem...já não sei como agradecer as palavras!!...um obrigado, parece-me pouco...mais não sei dizer mais...especialmente vindo de si, Andrade da Silva - um Homem com tanta sabedoria e vida de experiência feita... que honra! Obrigado do fundo do coração!

Viva a vida como sempre tem feito...e apenas pense nela como uma passagem, o que interessa é o que se vive aqui,o depois...logo veremos quando chegar a nossa vez...

Quanto a mim, vejo a vida como a Serra que vejo da minha janela...Deste lado, é a vida...a subida até ao cume, cheia de caminhos por percorrer e aprender, umas vezes fácil outras mais atribulada, umas vezes sozinha outras acompanhada.. Quando chegar ao cume, quero apenas sentar-me, apreciar a natureza e os caminhos que percorri, lembrar com um sorriso as pessoas que cruzaram esses meus caminhos, as que ficaram e as que partiram, mas que tanto me ensinaram a ser quem sou hoje...e agradecer-lhes a todas (mesmo as que já esqueci), que tudo valeu a pena!...
Depois... só me resta a curiosidade do que vem do outro lado da Serra...
Sei que um dia conhecerei essa outro lado...por isso, só me resta mesmo a curiosidade do que será esse imenso desconhecido...
Esta é a minha história da vida...mas que não necessita de ser lembrada e feita apenas no fim, mas sim todos os dias...pois, nunca saberemos quando é o último...
Por isso, que fique para o mundo o meu obrigado a todos os que fizeram, fazem e farão parte desta viagem...
Votos para que todos encontrem o seu EU, sejam felizes e encontrem a força suficiente para escalar a montanha da vida.
Da minha parte e para aqueles que quiserem, espero ter sempre uma corda segura para subirmos em conjunto...

Com o carinho e amizade de sempre,
Estela Landeiro

andrade da silva disse...

Estela
Obrigado com muita amizade, é tão bom ler e beber as tuas palavras, os sentimentos que transportam,segundo uma forma poética tão bela.

Muito e muito obrigado. Abraço.
asilva

Ps. escreve sempre nós é que te ficamos gratos.

Anónimo disse...

Caro Andrade da Silva,
Também não presto Reverência à Morte.Como sabe,amo a Vida e não me será fácil aceitar a morte. No entanto, reafirmo que considero que a morte faz parte da vida, embora a vida não faça parte da morte.Nascemos, Crescemos e Morremos. Queiramos ou não é um dos passos da vida. É o seu terminus. Efectivamente,é uma realidade muito cruel. Mas, quantos factos nos acontecem durante o percurso da nossa existência que não desejámos e que igualmente são crueis?!
Andrade da Silva, pela muita admiração que tenho por si,por variadissimas razões, designadamente pela sua maneira de ser e de estar, não me agrada contradizê-lo, até porque não tenho a sua formação. Mas... é mais forte do que eu, expressar o que penso e sinto, sou do signo do Leão.
Amigo Abraço
Maria José Gama

andrade da silva disse...

Cara Maria José

Todos os que me conhecem sabem que sou um apaixonado pelo contratidório, pela disputa cognitiva.

Todavia se alguém teria de ter alguma timidez em a contraditar seria eu, porque a considero muito, mas tem por esse facto expressarei sempre o meu ponto de vista diverso.

Creia que lhe agradeço e a todos os que me mostrem outros ângulos, só assimn aprendemos, e creia que penso convictamente que tenho muito que aprender.

Creio que a psicologia não pode ensinar muito sobre a morte, pode levar-nos a atenuar alguma ansiedade,mas creio que a resposta a essa ansiedade só encontra uma resposta com alguma eficácia nas religiões, ou num tipo de vida que não o meu, pelo o menos o pensado, mas também adoro coisas muito, muito, simples com um almoço fraterno com amigos, como olhar uma obra de arte e, disto, gosto, não gosto do seu contrário.

Se pudesse mataria a morte, como o ódio,a guerra, a escravidão.

Mas este modo de ser num militar torna muito gravosa a condição militar, para quem nunca deixou de correr risco de vida e dá a verdadeira dimensão do que significou assumir as responsabilidades que assumi em 25 de Abril 74.

Os seus comentários interessam-me, como aprendizagem, mas julgo que são tão importantes para os demais,pelo que agradeço esta sua disponibilidade.

abraço
asilva