Dedico a Maria José Gama, como histórias de embalar e votos de
franca recuperação. Grande Abraço a uma Grande Mulher-
Senhora."
Há dias um cronista escrevia que conhecera um Sebastião, um Homem invisível, daqueles que não têm abrigo e que ninguém vê. Este Sebastião tinha um cão, então, conta o cronista que perguntou ao Sebastião o que naquele momento o faria feliz. O homem respondeu-lhe que um a cachorro quente. Diz o escritor que ficou estupefacto com a falta de ambição do pedinte e logo satisfez o pedido.
Geralmente os pobres auto-conscientes e dignos contentam-se com pouco, e, por isso, nunca serão muito dados à corrupção.
Todavia ainda o aguardava mais uma surpresa. Quando deu o cachorro ao homem, este, logo tirou a salsicha e deu ao cão. Perguntou-lhe o cronista, porque fazia aquilo, ao que o pobre homem lhe respondeu que por uma questão de gratidão. Eles tinham um contrato implícito, quando ele, Sebastião, dormia o cão vigiava o seu sossego para que ninguém o incomodasse, e, quando, o cão dormia ele defendia-o dos outros animais da mesma espécie, ou de outra.
Esta simples estória lembrou-me outras de pessoas gratas aos seus animais que vou relatar-vos, nestes tempos ainda de ressurreição.
Uma delas aconteceu nos idos de 1975 quando um velhote se dirigiu de Coruche, à Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, uma lonjura dos diabos, para pedir a intervenção das Forças Armadas, do MFA, na busca do seu cão desaparecido. Fiquei surpreendidíssimo com o amor deste homem àquele cão, apesar de gostar muito de animais, até esta altura nunca me tinha apercebido que podia haver entre um humano e um animal um amor tão grande, uma verdadeira paixão, quase um amor de um pai para um filho
Tenho também uma irmã, a minha irmã Fátima que seria capaz de tudo hipotecar para alimentar os seus cães e gatos. Tem um verdadeiro espírito de militante defensora dos animais, e nesta cruzada contra o abandono criminoso e sádico dos animais arrastou o marido e, assim, ambos, já salvaram de morte certa muitos cães e gatos, alguns recolheu-os em casa, e outros fazendo verdadeiras peregrinações às serras da Madeira os tem alimentado.
Mas também não fico fora deste história, e vou contar-vos um pequeno episódio que muito me desgostou por revelar a total intolerância à verdade.
Num dado dia, há muitos anos estava num supermercado a comprar pescadinhas de rabo na boca, para cozinhar para o meu gato, quando uma me cai, e espontaneamente digo lá vai o peixe do gato, logo um pessoa idosa retorquiu: “Pois há muitos que dizem isso, mas depois é para eles que nada têm, além de que há muita gente com fome”.
Esclareci-a que tendo um gato tinha de o alimentar, e que por vezes ele comia bem melhor que eu, até porque desde sempre tive uma quadrissomia do cromossoma Y (YYYY) para a cozinha, nada me sai certo: derramo a sopa, bato com a cabeça no exaustor, parto a loiça, espalho tudo por quanto é sítio, metade dos nutrientes me fogem dos recipientes etc, e não me estou a arvorar em machista, porque da mesma inabilidade gozo para pregar um prego.
A senhora lá resmungou, ainda lhe perguntei se estava disposta a dar os restos da sua cozinha, não respondeu ao desaforo e o gato, de seu nome, o preto, que safei a morte certa na prisão da Trafaria, quando os nossos bons soldados, de brandos costumes, preparavam-se para matá-lo à paulada, lá foi comendo pescadinhas. Não havia ainda estas coisas modernas, dos enlatados etc.
Morreu mais tarde, num dia 21 de Março, e senti a mesma dor que aquele velhinho do cão, pela morte do meu gato, e sendo já homem endurecido pela vida, chorei copiosamente. Perdi no inicio daquela Primavera um grande amigo. Recordo-o sempre nos dias 21 de Março de cada ano, dia em perdi o meu grande e estimadíssimo amigo gato que, em 1977, partilhou, por alguns dias, a minha cela da prisão da Trafaria voltada para o mar, tinha 27/28 anos, 3 anos depois do 25 de Abril
Penso que é com estas pequenas histórias das nossas vidas que ressuscitamos todos os dias, por isso aqui ficam.
andrade da silva
Geralmente os pobres auto-conscientes e dignos contentam-se com pouco, e, por isso, nunca serão muito dados à corrupção.
Todavia ainda o aguardava mais uma surpresa. Quando deu o cachorro ao homem, este, logo tirou a salsicha e deu ao cão. Perguntou-lhe o cronista, porque fazia aquilo, ao que o pobre homem lhe respondeu que por uma questão de gratidão. Eles tinham um contrato implícito, quando ele, Sebastião, dormia o cão vigiava o seu sossego para que ninguém o incomodasse, e, quando, o cão dormia ele defendia-o dos outros animais da mesma espécie, ou de outra.
Esta simples estória lembrou-me outras de pessoas gratas aos seus animais que vou relatar-vos, nestes tempos ainda de ressurreição.
Uma delas aconteceu nos idos de 1975 quando um velhote se dirigiu de Coruche, à Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, uma lonjura dos diabos, para pedir a intervenção das Forças Armadas, do MFA, na busca do seu cão desaparecido. Fiquei surpreendidíssimo com o amor deste homem àquele cão, apesar de gostar muito de animais, até esta altura nunca me tinha apercebido que podia haver entre um humano e um animal um amor tão grande, uma verdadeira paixão, quase um amor de um pai para um filho
Tenho também uma irmã, a minha irmã Fátima que seria capaz de tudo hipotecar para alimentar os seus cães e gatos. Tem um verdadeiro espírito de militante defensora dos animais, e nesta cruzada contra o abandono criminoso e sádico dos animais arrastou o marido e, assim, ambos, já salvaram de morte certa muitos cães e gatos, alguns recolheu-os em casa, e outros fazendo verdadeiras peregrinações às serras da Madeira os tem alimentado.
Mas também não fico fora deste história, e vou contar-vos um pequeno episódio que muito me desgostou por revelar a total intolerância à verdade.
Num dado dia, há muitos anos estava num supermercado a comprar pescadinhas de rabo na boca, para cozinhar para o meu gato, quando uma me cai, e espontaneamente digo lá vai o peixe do gato, logo um pessoa idosa retorquiu: “Pois há muitos que dizem isso, mas depois é para eles que nada têm, além de que há muita gente com fome”.
Esclareci-a que tendo um gato tinha de o alimentar, e que por vezes ele comia bem melhor que eu, até porque desde sempre tive uma quadrissomia do cromossoma Y (YYYY) para a cozinha, nada me sai certo: derramo a sopa, bato com a cabeça no exaustor, parto a loiça, espalho tudo por quanto é sítio, metade dos nutrientes me fogem dos recipientes etc, e não me estou a arvorar em machista, porque da mesma inabilidade gozo para pregar um prego.
A senhora lá resmungou, ainda lhe perguntei se estava disposta a dar os restos da sua cozinha, não respondeu ao desaforo e o gato, de seu nome, o preto, que safei a morte certa na prisão da Trafaria, quando os nossos bons soldados, de brandos costumes, preparavam-se para matá-lo à paulada, lá foi comendo pescadinhas. Não havia ainda estas coisas modernas, dos enlatados etc.
Morreu mais tarde, num dia 21 de Março, e senti a mesma dor que aquele velhinho do cão, pela morte do meu gato, e sendo já homem endurecido pela vida, chorei copiosamente. Perdi no inicio daquela Primavera um grande amigo. Recordo-o sempre nos dias 21 de Março de cada ano, dia em perdi o meu grande e estimadíssimo amigo gato que, em 1977, partilhou, por alguns dias, a minha cela da prisão da Trafaria voltada para o mar, tinha 27/28 anos, 3 anos depois do 25 de Abril
Penso que é com estas pequenas histórias das nossas vidas que ressuscitamos todos os dias, por isso aqui ficam.
andrade da silva
4 comentários:
Caro Companheiro
O amor pelos animais, o amor pelo ser humano,no fundo não farão parte do mesmo todo que é a afectividade?
Gostar de quem gosta de nós é tão naturalmente humano que o difícil é perceber que assim não seja.
Mas como diz de sua irmã, há pessoas que levam o sentimento humano além das fronteiras do bem querer, para apenas querer o bem, bem como fonte de bem estar e alegria e fora de qualquer consideração moral adquirida.E o mal sendo o que faz sofrer e nos afasta de nós e do todo a que pertencemos.
Aqui fica meu testemunho de mãe de família onde meus filhos(quatro)sempre conviveram com os animais que nos acompanhavam nas férias e que regressavam a casa connosco (com todos os trabalhos que isso causava outra ideia nunca nos atravessou o espírito)
Marília
On reconnait le degré de civilisation d'un peuple à la manière dont il traite ses animaux. Gandhi tradução: reconhece-se o grau de civilização dum povo pela maneira como trata os seus animais. Gandhi
o Sonho do cão cativo
Que sonha o cão na manhã de maio
que sonha triste de alegre viver
que sonha o cão quando a companhia
da voz amiga já nao torna ser
Que sonha o cão quando atrás de grades
contempla o céu ainda tão azul
que sonha o cão se desenha os ares
a ave loira dos campos do sul
Que sonha o cão quando a água clara
sabe à prisão que não deixa mais
que sonha o cão se a manhã aclara
ou quando à noite se acende o trovão
Que sonha o cão quando ouve 'inda festas
na melodia do sonhar perdido
que sonha o cão se pelas florestas
vagueia o lobo livre perseguido
que sonha o cão quando a mão que afaga
o larga vil, num pobre caminho
que sonha o cão a correr a estrada
cheirando o ar do velho carinho
Que sonha o cão quando as aves cantam
a solidão do jardim florido
que sonha o cão se os olhos se espantam
a relembrar o tempo perdido
Que sonha o cão quando a voz que soa
traz à lembrança o seu velho afago
ah como a vida era meiga e boa
quando brincava nas margens dum lago
Que sonha o cão quando o mar exalta
as mil viagens que não mais fará
que sonha o cão quando o medo assalta
pela família que não mais verá
Que sonha o cão quando a hora chega
de repetir o sabor do pão
que sonha ao cão que desassossega
o seu olhar ao ver uma mão
Que sonha o cão quando tristemente
os dias caem sobre sua voz
olhando o longe onde antigamente
era cachorro chamando por nós
Que sonha o cão quando só pressente
a solidão para além do dia
que sonha o cão, com o dono ausente
aquele dono por quem morreria!
Marília Gonçalves
Justa Homenagem a um Cão
o SAUVAGE (o selvagem?) Nós em Portugal? hoje, com os animais? não sei! mas sei que há cerca de trinta anos, tivemos na família um pastor alemão, veio para nossa casa tinha um mês. Adoptou-me e habitou-se a seguir-me por onde fosse. O cão cresceu com os meus filhos, tive quatro,e guardava-os até na praia onde ia tomar banho com eles fazendo círculos a nadar, sem nunca os deixar sozinhos! Num fim de dia,estava eu já preparada para o jantar, com uma saia, comprida, meio cigana, e de repente na Ria Formosa em Faro,na ilha, uma criança sobre um colchão de praia estava a ser levada na força da vazante. Eu vestida nada podia fazer que fosse suficientemente rápido, nisto vi a mancha negra de meu cão ao pé de mim, e gritei: vai buscar o menino! o cão em voo lançou-se à água, talvez que o menino para ele fosse um dos meus filhos, o certo é que vigorosamente nadou ao largo, onde o miúdo aflito, mais aflito parecia com a aproximação de tal monstro! eu de terra gritei: agarra-te ao cão!! o garoto abraçou-se ao cão e o Sauvage, era assim o nome desse animal generoso, trouxe o garoto para terra, quando chegou, na areia as mulheres que assistiram à cena choravam todas! o cão não se aguentava nas patas que se dobravam debaixo dele. o garoto? esse foi-se, sem uma olhar ao cão, talvez ainda demasiado assustado com o que tinha vivido. Durante o verão na ilha nunca o Sauvage esteve tão gordo, pois onde quer que passasse, todos lhe queriam dar de comer. O tempo foi decorrendo, os anos seguiram e o cão foi envelhecendo... pois sabem com acabou esse animal? envenenado!!! na casa de campo onde o tínhamos deixado a guardar, durante uma deslocação a França para exames médicos. estava, ele, a cadela da casa, e uma bezerra. Os três vítimas do mesmo veneno Desconheço por ser em casa de amigos, qual era a história da cadela que morreu! Mas temos que reconhecer que para um cão quase humano, que foi a nado salvar uma criança, merecia morte mais digna e com menos sofrimento que aquela que causa o veneno! nada mais! que cada um pense o que há a fazer no nosso país para que os animais tenham o lugar que merecem? não será que tudo isso tem a ver com certas carências da população? não será que com mais escolaridade, com menos raivas provocadas pelas faltas, tudo isso seria atenuado? deixo a pergunta a quem tiver sabedoria para responder eu limito-me a narrar um facto. Era o meu cão! há cerca de dezasseis anos anos que morreu e em casa ainda ninguém o esqueceu Viva Portugal! sem ironia! é o que penso! pois no dia em que tivermos governantes que nos governem o país e em que o povo não sofra mais, isto tudo estará solucionado, não de repente, mas a caminho disso!
Marília Gonçalves
O sofrimento torna o homem mau e insensível ao que tem ao pé sem sentimento o coração em pedra transforma em gelo o que fogo é!
Marília Gonçalves
Cara Marilia
Obrigado pelos seus depoimentos.
Como tratamos os animais, se tão mal tratamos as pessoas?
Como na sociedade humana muitos são bemn tratados, alguns até excepcionalmente, visitei este fim-de-semana um conhecido com 9 cães,não lhes falta nada até uma assistência veterinária muito superior à médica que alguma vez usufrui, não tenho suporte financeiro para tanto cuidado, talvez necessário,mas agora impossível com os cortes na saúde pelo governo neo-liberal e desumano do Sr. Eng. Sócrates, todavia bastantes são abandonados com malvadez.
Um dos cães que hoje está na casa da minha irmã foi amarrado numa àrvore na Serra para morrer de fome e frio, e outros são abandonados nestes lugares ermos sem qualquer possibilidade de sobrevivência, e depois esta gente é católica e vai às missas.
Talvez o facto disto se passar na Madeira após 30 anos de violência verbal do Jardinismo tenha algum significado.Talvez!?...
Os nossos cães não têm a deferência que os belgas dão aos seus, longe disso.
Ser civilizado e humano é uma virtude que escasseia entre os portugueses.
abraço
asilva
João, Querido Amigo
Também "Amo os Animais".
Fiquei deveras sensibilizada e emocionada por esta enternecedora e inesperada surpresa de me dedicar estas estórias de embalar, com os votos de recuperação.
Creia, que nada me agradaria mais, nesta altura, do que ler este texto que encerra factos reais de uma imensa sensibilidade.
Só um coração sensível, digamos de ouro, como o do João, teria este cuidado. Uma das suas grandes características é, exactamente, a preocupação pelo bem estar de todos, designadamente dos amigos a quem sabe sempre transmitir a palavra necessária na ocasião devida.
É um privilégio tê-lo conhecido e fazer parte do grupo dos seus amigos. A amizade não se agradece, retribui-se. Contudo não posso, nem quero deixar de o fazer.
Muito e muito obrigada.
Abraço-o com a amizade de sempre.
Maria José
Cara Maria José
Muito obrigado, mas como diz a amizade sobretudo se retribui receba a minha amizade
abraço
asilva
Enviar um comentário