quarta-feira, 8 de abril de 2009

CAMÕES, O COMPANHEIRO DO AMOR ARDENTE!...


Na Madeira, onde nasci, o meu contacto com a tragédia de Camões foi muito precoce, porque por lá se troteava: Camões pata- rapada ( pobre, pé-descalço, miserável) zarolho ( cego) tanto namorou que ficou sem um olho.

Quando ouvia esta lenga-lenga que achava muito interessante, gostava muito deste Camões, ainda não sabia a trabalheira que a divisão de orações me ia dar no 5ª ano do liceu, e todos aqueles saltos gramaticais, agravados por aqueles “quês”, que, segundo o Dr. Nóbrega, homem bom e rude da Camacha, reitor do anexo do liceu, podiam desempenhar 40 funções. Verdade ou mentira, que era avaliada em teste com duas notas possíveis: 20 para quem acertasse em todas as funções, ou 0(zero) para quem falhasse nem que fosse numa. Todos tínhamos zero, até o prendadíssimo António Trindade, pai do actual secretário do turismo… a vida, e as suas voltas…

Gostava mesmo de Camões, era namoradeiro, continuei a gostar dele depois da divisão das orações nos Lusíadas, porque aquela rima era musical e épica, e sempre se salvava a mitologia.

Voltei a gostar de Camões, como de todos os que fizeram coisas diferentes, como também daqueles que partindo dele disseram verdades, verdadeiras, como Jorge de Sena que num 10 de Junho proclamava que “hoje muitos falavam de Camões, e enchiam os seus bolsos com ele, mas que Camões morreu de fome e tuberculoso”. Camões e Jorge de Sena dois grandes e imortais portugueses.

Mas Jorge de Sena ainda disse outras terrificas verdades, quando numa das derradeiras entrevistas referia que muita gente criticava a prostituição, mas que se a mesma não existisse, o que seria de muitos zarolhos, coxos e feios. Ele não devia defender a prostituição, eu também não, nunca me daria nesses modos, mas, seja como for, defendo muito menos a abstinência sexual, sobretudo a forçada, por Deus estar de costas voltadas, quando os pobres de Cristo nascem. ( Bem, bem… nesta contabilidade de bonitos e feios que dizer?... Bem, fico-me pela linda terra e mês em que nasci, ponto).

Como toda a gente gosto da lírica do poeta e como todos, sem outra qualquer alternativa ou competência, direi que foi o maior épico de todos os tempos, mas o que mais me encanta em Camões, é o facto dele ser irmão dos deserdados, meu irmão, ser um homem justo e bom que descobriu que a riqueza ia sempre para os ricos e que os pobres e os que mais trabalhavam eram sempre e cada vez mais pobres, e Camões, meu irmão, o denunciou, não o calou.

Mas também admiro o Camões brigão, amigo do seu amigo, o Camões presidiário, o Camões platónico e apaixonado que perde a sua amada tão precocemente. Tão cedo partiu desta vida, a sua bela amada naquele naufrágio, em que o poeta com o poema colado ao peito se salvou e ao poema.

Camões eles não te dizem, mas, segundo os seus critérios de hoje tu-Camões- fostes um bordline. Eles teriam vergonha de ti, até porque eras companheiro dos perdidos nas ruas apagadas da vida.

Eles nunca te reconheceriam, teriam repugnância de ti, mas hoje não têm qualquer vergonha em usar-te e sobreusar-te em negócios deles que não são os teus, mas que negócios podias ter, Tu, um tuberculoso que morreu de fome?

Eles usam e abusam do teu nome, mas só o povo da Madeira falava a verdade da tua condição: "Luís Vaz de Camões pata rapada, zarolho, tanto namorou que ficou sem um olho". Tu és este que é o contrário deles, e os negócios que correm são os deles, os teus são o da pobreza e da solidão, nos teus morre-se, ou se é morto, nos deles cometem-se crimes que prescrevem, e eles ficam ricos, e chamam-se de senhores doutores, engenheiros ou dons, aqueles, os desgraçados, chamam-se de gatunos, patas-rapadas.

É esta a nossa justiça democrática, pouco diferente da que existia na baixa Idade Média, vive-se ainda longe do renascimento, por tanto nos termos afastado do 25de Abril.

E de ti Camões, enquanto um contrário àqueles eles, quero ser, nos pecados e no infortúnio, teu irmão, porque na poesia és um DEUS.

Só teu irmão poderei ser nas desgraças da vida, muito embora nos separe um grande naufrágio de que emergistes e, onde, teria perecido, como a tua querida apaixonada, Dinameme, irmã longínqua da minha irmã que o meu pai por Macau, ao beijar uma flor- mulher deixou, outra irmã deixou por Santo Tirso e três na Madeira. Este meu pai! Que tanto amor ardente de Soldado Português não contido!

Como lhe compreendo a chama, aliás, tudo está camonianamente dito pelo POETA, e que grandes mulheres o amaram que nunca o criticaram, e todos nos amamos, embora nunca tivesse sido possível localizar, após morte do meu pai, a minha irmã Dinameme da Silva. Mas querida irmã quando olhares a lua e o sol verás esta mensagem de todos nós, teus irmãos.

IRMÃ DINAMEME, IRMÂO CAMÕES AMO-VOS.

andrade da silva 7 abril

PS: Boas Páscoas queridas amigas e amigos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Camões e a tença

Irás ao paço.
Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.

Sophia de Mello Breyner

Anónimo disse...

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Alma minha gentil, que te partiste



Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís Vaz de Camões


Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai formosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai formosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à formosura.
Vai formosa e não segura.

Luís de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

Anónimo disse...

BOA NOITE
Agradecia se fizesse o favor de apagar a mensagem acima porque nela se encontram dados que nada têm a ver com o post. EMBORA SEM GRAVIDADE
pois esses dados não correspondem a nada de efectivo, mas pela boa aparência do vosso blogue seria realmente preferível.
Voltarei a colocar tudo tal e qual, menos esse facto fruto de momentânea distracção

um admirador incondicional do blogue

Hugo Tavares

andrade da silva disse...

Caro Hugo

Desde que as citações e os textos estejam correctos não há desconcerto, porque mesmo que um poema não esteja completamente dentro da problemática a sua publicação é sempre um acto cultural positivo,penso.
abraço
asilva