sábado, 14 de novembro de 2009

13 - REFLEXÕES DE G.F. * Caminhos...



Impenitente aprendiz, registo os sinais da memória vigilante. Aqui, é um caminho sem pressa de chegar; alí, é um valado bem guardado de silvas, amodorradas ao sol, enquanto as suas amoras amadurecem a saborosa guloseima da passarada; além, é o monte silencioso, no abandono da terra; mais além, em todo o derredor, é o azul, numa campânula celeste de parada beleza.


Ah, Se fores ao Alentejo, / não bebas em Castro Verde, / que as fontes cheiram a rosas / e a água não mata a sede.

O silvo de um comboio corta o silêncio. Os carris rasgam a imensidão das herdades. São raras as povoações que serve neste percurso ferroviário do Barreiro à Funcheira. Muitas das estações ficam a uma distância de quilómetros. Algumas já foram desactivadas e, ao abandono, arruinam-se. O critério que determinou o rasgar desta Linha de Sul não teve seguramente a finalidade de servir as populações. Assim foi no século XIX, assim foi no século XX, assim continua neste século XXI.

Aqui, as minhas primeiras idas a Lisboa eram uma aventura: de churrião, cumpria os quatro quilómetros da vila até à estação, estação que foi desactivada, se a memória me não trai, na década de sessenta do século XX. Hoje, para utilizar a linha férrea, terei de cumprir seis quilometros, de táxi, até à estação mais próxima, situada noutro concelho.
Uma maravilha de serviço público!

Há cerca de ano e meio, devido a internamento hospitalar de minha mulher, em Évora, durante um mês, utilizei, diariamente, o transporte colectivo rodoviário. Apenas de segunda a sexta-feira, por não haver esse transporte aos sábados, domingos e feriados.
Outra maravilha de serviço público!
Este é o país real.

Até sempre!
Gabriel de Fochem

4 comentários:

andrade da silva disse...

Caro Augusto

Muito obrigado por partilhar connosco as suas memórias de um Alentejo de outros tempos que infelizmente em muitas zonas não beneficiou com a melhoria dos serviços públicos, inclusivé na àrea da emergência médica.

Sabiamos destas coisas, quando a CS estava zangada com Correia Campos, hoje como fez as pazes com Ana Jorge, nada se sabe, mas espero que tenha melhorado.

abraço
asilva

José-Augusto de Carvalho disse...

Boa noite, meu muito prezado Andrade da Silva!
Infelizmente, não falo do Alentejo de outros tempos, mas deste que vivo agora.
É de hoje o Alentejo dos «montes» abandonados, das terras aramadas e em pousio deliberado, dos transportes públicos deficientes, etc.
Reitero-lhe o convite para passar aqui um fim-de-semana. Espera-o uma casa modesta, mas cordial, e uma hospitalidade amiga.
Grande abraço.
José-Augusto de Carvalho

andrade da silva disse...

Caro Augusto

Tenho andado mais por zonas da raia e do Algarve e com alguma satisfação vi mais terrenos cultivados de oliveiras, mais pelos espanhois.

Julgava que este movimento tivesse sido mais intenso,é com muita dor que leio o seu testemunho, embora soubesse do abandono das terras e dos montes pela nossa gente, julgava que a conquista espanhola seria mais profunda.

Agradeço o convite e nunca estranharia a humildade, vivo em igual ambiente, além de que já vivi muitos dias e até natais debaixo de telhados alentejanos, nomeadamente na casa de um grande amigo o Ti Jaime de Vendas Novas que aoa 82 anos me dizia que a sua maior alegria tinha sido o 25 de Abril, para ele que nunca fora pai.

Enfim o Alentejo de hoje é igual ao de outros tempos....

Muito obrigado
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Vem!...
Poeta meu irmão
do mundo inteiro
está a sombra a doer
tu és o companheiro
de múltiplo segredo
por colher.

Poeta meu irmão
põe-te a caminho.
há uma encruzilhada...
é preciso vir devagarinho
surpreender a estrada.

Poeta meu irmão
irmão de todos!
De todos os poetas
por nascer
há à nossa volta
hirsutos lobos,
querem comer.

Poeta meu irmão
e companheiro
de horas amargas...
vamos rasgar no nevoeiro
estradas mais largas.

Poeta meu irmão
o ser humano
pede passagem
vamos num verso
10- todo o pano
dar-lhe coragem.

Vem!
Poeta meu irmão
está a sombra a doer!
Caminha companheiro
é chegada a hora de vencer.


Marilia Gonçalves