quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

UM QUASE ENSAIO EM DÓ MENOR.



VIOLÊNCIA: HITLER, SALAZAR A FACE NEGRA E MAIS GERAL DO HOMEM.

Marília a questão é dolorosa mas:

Ser violento é seguir os instintos, é fácil, compensa e dá pouco trabalho. Ser generoso exige uma grande aprendizagem e uma racionalidade ética e moral transcendente, é um comportamento residual e de elevado risco, isto é, hitler´s e Salazares há aos montes em potência e em exercício de funções no Mundo, enquanto, Terezas de Calcutá são alguns milhares, apesar de valerem por milhões, mas poderão perder a Batalha pela transformação do Mundo.

Com esta trágica premissa como pano de fundo façamos uma breve análise à emergência dos verdadeiros genocidas da história, como Hitler e o actual presidente do Irão, por exemplo, entre outros, que podiam ser muitos, mesmo muitos mais.

Quando se quer explicar a emergência do racismo de Hitler contra os judeus por ter sido vitima de uma injustiça praticada, por um professor judeu, aquando do seu ingresso numa Escola de Belas Artes, toma-se uma atitude muito reducionista e sem qualquer âncora cientifica ou inteligível.


Mas interessa dizer que sobre esta matéria da violência de estado não há nenhuma resposta universal, e, provavelmente, nenhum facto isolado pode espoletar tanto ódio por uma raça, como foi a injustiça praticada contra este eventual ou incidental artista, no caso, Hitler. Calculo quão enorme possa ter sido a sua frustração, que me parece legitima, mas o mais normal nestes casos, de uma revolta incontida, seria a vitima atirar-se ao júri, e não contra um povo, uma raça, mas pode ter acrescentado a gota que faltava ao seu carácter paranóico ou esquizofrénico de ódio contra os outros, os diferentes: os judeus, os homossexuais, os comunistas etc.


Todavia o mais importante e o que interessa reter é que Hitler também incarnou a revolta pela humilhação a que a Alemanha foi sujeita pelos aliados, aquando da derrota na 1ª guerra, mas também a saída para a crise económica e social, que entretanto consumia aquele país. Hitler é o homem providencial, determinado, com o discurso mobilizador, arrebatador capaz de tirar a desforra daquelas humilhações. Ele incarnou o ódio de um país à arrogância dos vencedores. Hitler é alma da Alemanha humilhada contra a Europa soberba, burguesa, arrogante. A humilhação colectiva é o grande motor de ódios nacionais e civilizacionais ( Islão – Cristandade) dantescos, ao que se juntam outros factores da personalidade e do poder, mas Hitler e Salazar e outros só sobrevivem, porque representam muito do espírito colectivo e individual de cada um de nós, numa dada época, ou sempre.

Julgo que não se deve esconder a verdade, que parece evidente, a de que entre os tiranos e as populações que os suportam não há só relações de medo, ignorância, mas há também uma grande concordância. Salazar não é um homem só, ele também é os muitos milhares ( e estes são também ele) que o veneraram ,e, ainda hoje o fazem com todo o descaramento, chamando de cobardes e rufias a quem derrubou o fascismo, e de grande português a Salazar, e fazem-no em plena democracia mesmo depois de uma certa, embora envergonhada, denúncia dos crimes do fascismo, o que é ainda mais estranho, é que esta gentalha goza em plena democracia de todo o prestigio. É de perguntar, como e porquê?

Julgo que a única explicação psicológica é que ou são psicóticos e, consequentemente, não se apercebem do sofrimento alheio, por causa do embutimento dos sentimentos, ou são sujeitos associais que deveriam merecer uma profunda vigilância das autoridades, mas ao invés estas são coniventes. Numa palavra por determinismos internos ao ser humano e por traições mil – Abril traído - não foi possível extirpar Salazar da nossa convivência colectiva, tal qual como se passou com Moisés a quem foi mais fácil tirar o seu povo do Egipto, do que o Egipto de dentro do seu povo.


Não é possível deixar de referir que mesmo as ditas boas pessoas quando humilhadas e revoltadas podem fazer atrocidades gravíssimas. Hoje, muitos dos que são bons pais assassinaram na guerra impiedosamente mulheres grávidas, extirparam os fetos e vivem actualmente, como se nada tivessem feito, ou quando muito sentem um grande sofrimento pelo camarada que perdeu um braço, portanto, não é difícil quando alguém é alvo do ódio ou do preconceito de outros que estes pratiquem sobre as suas vitimas actos bárbaros, e esta é questão sempre aberta, actual, basta pensar nos comportamentos do Exército inglês na Irlanda do Norte, ou dos americanos no Iraque etc.. Há bem poucos anos na estação do Rossio gente exaltada vociferava que era de meter ferros em brasa pelo dito cujo acima dos homossexuais, diziam e eram capazes de o fazer, portanto, entre o bondoso povo há muito espírito e preconceito racista, homofóbico e outros do velhaco Hitler.


Hitler é um autor, mas é também uma consequência do ódio ao diferente que no caso dele numa situação particular tomou dimensões dantescas, mas Hitler não é a excepção. Onde, não funcionarem mecanismos de controlo do poder e da bestialidade humana os crimes repetem-se sob vários aspectos, políticos, ou religiosos. Temos aí o Irão, a Etiópia, a China, a Arábia Saudita, a Coreia etc, que confirmam que o crime colectivo pode ser muito geral.


O crime individual pode ter outras explicações quer psicopatológicas, quer biológicas, como níveis elevados de testerona, mas sobretudo défices elevados na formação pessoal, pelo que a desregulação dos mecanismos de controlo social e a injustiça social podem levar ao comportamento associal.

Haverá muitos factores comuns a toda a violência e uns mais específicos a cada caso, mas a humilhação, os tabus, os estereótipos, a falta de controlo social, a cumplicidade colectiva, a maldade, os medos podem levar a extremos de violência inarráveis, e se a isto se juntar a psicopatologia, então, estamos no inferno de Dante. Seja como for não se pode ou deve ignorar que no caso de Hitler, Salazar houve, e ainda há, uma grande concordância quanto à necessidade, imperatividade e justeza dos seus crimes, e, isto, é muito grave, porque esta gente actualmente usa os mesmos argumentos que aqueles vis seres, para justificarem os actos, o que nos questiona sobre a essência da natureza humana que de um modo chão leva a uma constatação terrível, os crimes de estado só são cometidos com a cumplicidade de milhões, e são praticados por milhares: políticos, professores doutores, cientistas, militares, policias e povo pé descalço – os bufos - o que, não é favorável à espécie humana.


A violência individual embora se cruze com a questão da natureza humana admite explicações com maior enfoque no indivíduo e nas suas relações com a sociedade, que pode a levá-lo a atitudes reactivas violentas É certo que não há nenhuma explicação global e definitiva para a violência individual e sobretudo a colectiva, politica, social, ou religiosa, todavia seria bom que educadores e lideres tomassem como boa referência que a besta humana existe em cada um de nós, a maioria das vezes e do tempo adormecida, mas se a ocasião se proporcionar pode acontecer o pior.

Contudo também há muitos factores individuais e subjectivos que ajudam a compreender melhor, porque é que dois indivíduos vivendo na mesma sociedade e até com problemas idênticos não recorrem ambos à violência, e sabe-se que assim é, porque para a emergência do comportamento assertivo, justo tem um papel muito importante a educação na infância e na adolescência, isto é, o papel dos pais, da escola, dos dirigentes políticos, das TV, e de nós todos etc..


Todavia no que concerne à emergência de Hitler’s todos os governos, todos os povos deveriam ter o máximo cuidado em não praticar actos administrativos, sociais, ou de outra natureza injustos que cortem as asas a um projecto de vida colectivo, porque no limite podem fazer parir hitler´s, ou seja, num momento de encruzilhada histórica grave, a Governança pode ser presa fácil de psicopatas, psicóticos e personalidades histriónicas radicais, ouvidas e seguidas em nome de um qualquer deus da matança por Nações inteiras, se os povos se sentirem violentados por um demónio facilmente definido e identificável.


Quem somos nós homens é uma matéria apaixonante e, talvez a nossa foto de família possa não ser muito colorida. Mas contra o determinismo da História as mulheres e os Homens verdadeiros seres da Criação Humana e da Civilização da Paz e da Luminosidade se baterão neste combate desigual pela Liberdade, a Fraternidade e a Justiça Social até ao fim do seus dias, sendo o que todo o homem deve sempre ser – JUSTO E AMANTE DO BELO.

19 Jan. 10

andrade a silva


6 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Meu Caro Companheiro

Depreendo pela sua resposta que estamos num ciclo vicioso
Enquanto houver, violências; humilhações e sofrimento, de tais traumas resultarão, mas seres capazes das maiores e piores barbaridades.
Então a nível pessoal, quer pais, quer educadores , professores e outros, sem falar de avôs que inculcam ou podem inculcar valores, ternura e exemplo, não há nada a fazer pelas novas gerações?
Vamos seguir convencidos e vencidos?
Não poderão os pais revezar-se durante os três primeiros anos de vida da criança de modo a que um dos dois esteja presente para a educação da criança? para lhe dar o indispensável amor que fará do ser pequenino um futuro adulto válido, enquanto em simultâneo lhe vao naturalmente inculcando valores sociais indispensáveis ao funcionamento harmonioso das pessoas e do pais?
A violência nos estabelecimentos de ensino, nas ruas em suma na Sociedade serão uma fatalidade à qual não podemos fugir?
eu gostaria de ver propostas concretas sobre meios a utilizar, para que as crianças não cresçam na rua e não seja esta a sua escola. Que a Mulher não volta para casa é ponto sabido!
Mas nesse tempo as crianças eram educadas, respeitavam os mais velhos e a vida decorria pacifica com os pequenos. Por isso tem que haver uma alternativa. Alguém tem que se ocupar das crianças, pai, mãe, avôs,enquanto pequenos e nas fases mais críticas. Países já adoptaram o trabalho em casa através dos computadores. Há profissões liberais que podem ser exercidas no meio familiar de modo a ter um olho sobre a criança, um conjunto de medidas ou uma combinação das várias possibilidades poderá eventualmente ser a resposta para que as crianças não cresçam sem amor e sem valores
Para a tranquilidade do conjunto da Sociedade e para que possamos viver em cidades e ruas tranquilas.
Enquanto isso não fôr por todos os países encarado, arriscamos-nos a ter crianças mal-educadas, violentas que degenerarão em adolescentes perigosos e em adultos
capazes das maiores atrocidades.

mas poderemos voltar a este assunto que me parece da maior importância
e seria interessante que pais e professores dessem o seu ponto de vista.
com o meu abraço
Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Bem vamos por partes não disse que perante o determinismo da maldade deixassemos cair os braços, pelo contrário, é preciso aumentar a luta, que é levaa a cabo POR MUITO POUCOS COM GENUINIDADE. Farsantes há muitos.

Também disse que os pais, os avós, os professores,os lideres, nós todos tinhamos um papel fundamental na alteração do terrível determinismo da maldade, só que constato que uma grande número de eventuais educadores promovem processos de aprendizagem de inveja, ódio, maldade etc. É bom conhecer o mundo para poder agir.

Quanto a um mundo diferente respondendo a algumas questões que levanta tenho um pensamento já escrito que está pronto a ser postado e que já mereceu o apoio de alguns, mais de mulhres do que de homens, alguns destes foram mesmo agressivos e atacaram-me com raiva.

Postarei o texto por estes dias, mas como é uma matéria de fundo tem sido adiado por factos de maior actualidade.

Todavia se tem havido alguém que apesar de ter os pés bem assentes na terra tem feito o que pode contra este determinismo sou eu, constato-o, mas não me rendo, isto é, luto num campo dificil em que a gratificação da vitória na terra ou nos céus é muito incerta, o que do meu ponto de vista ainda torna mais altruista, solitária e grandiosa esta tremenda luta.

Mas Marilia desde Spartacus, até hoje, passando por Ghandi há exemplos de muito altruismo.
abraço
asilva

Jerónimo Sardinha disse...

Caro Andrade da Silva,

Oportuno e extraordinário ensaio.
O teu aprofundamento da psicologia, entrando pela filosofia e sociologia, entrecruzando conhecimentos e circunstâncias é fabuloso.
Presta-se e abre espaço a um debate que infelizmente pelo seu teor e dimensão ultrapassa as capacidades (leitura rápida) de um blog. No entanto, com todos os riscos inerentes, que tal tentar um encontro/debate entre interessados, para se dar continuidade e trocar experiências e teorias?
Abordas aqui dois ou três problemas da juventude actual, cujas culpas recaiem inteirinhas sobre nós. E não vale a pena sacudir a água do capote. Todos concorremos para a situação actual, de que dificilmente se sairá. E se se conseguir, serão necessárias duas a três gerações correctivas, férreas e austeras, sem cedências, mas com amor e compreensão e acima de tudo uma forte competência e honestidade. Difícil. Muito difícil.
Sabes ser um dos meus temas de inquietação social e pessoal. Por isso, contarás comigo para o esforço que sugiro.
A Marília tem razão. A saída da mulher para fora do lar, abriu esta caixa de pandora, que há cinquenta anos o capitalismo selvagem começou a explorar com o nome pomposo de "emancipação da mulher", quando realmente deveria ter o de "busca de mão de obra a preço baixo e quase escravo". A mulher, como em muitas outras coisas, deixou-se aliciar e aí, começou mais um eixo de corrupção e desestruturação da sociedade pela via da família. Mas outras causas, contemporâneas destas, em que nós, homens, não somos alheios nem inocentes, há!
Quanto a tiranos, tiranetes e quejandos, estamos falados na actualidade. Pelas minhas contas, encontro sem dificuldade, cerca de seis mil milhões. Mas isso sou eu, com o meu proverbial cepticismo.
Gostei. Pena como digo não ser matéria de conveniência para debate em blog pela sua exigente dimensão e alargamento no espaço.
Muito bom e muito oportuno. Põe o dedo em muitas chagas da actualidade, apontando possíveis soluções.
Grande e Fraterno Abraço,
Jerónimo Sardinha

andrade da silva disse...

Caro Jeronimo

Quem lançou o repto foi a Marilia.

Agradeço as tuas palavras amigas e sempre generosas.

Concordo que podiamos abrir o debate e falar olhos nos olhos, com várias toanalidades seria importante, talvez um almoço colóquio na casa do alentejo, mas vamos a ver quem nos acompanha.

Vamos pensar todos nisto dão-se alvissaras, a quem der sugestões.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Amigos

Importante debate a ser lançado, porque se trata de nossos filhos, netos, das nossas crianças e da vida social de cada Pais. Já que a violência é contagiosa e passa fronteiras de medo e de países
Marília

Marília Gonçalves disse...

Caro Andrade da Silva
quanto ao seu parágrafo
"Quanto a um mundo diferente respondendo a algumas questões que levanta tenho um pensamento já escrito que está pronto a ser postado e que já mereceu o apoio de alguns, mais de mulheres do que de homens, alguns destes foram mesmo agressivos e atacaram-me com raiva."
é sabido que quando os argumentos faltam surgem os insultos e equiparados.
Mas os cães ladram e a caravana passa! e passará!!
Marília