domingo, 11 de julho de 2010

ESTÓRIAS


O CAPITÃO, O VELHO, O CÃO E O LATIFUNDIÁRIO


Como todos os que me conhecem sabem, e dá para ver, amo muito Portugal, os portugueses e, de um modo muito particular, as Portuguesas (não posso deixar de dizer que dedico - às que , de algum modo, gostam de mim, não para alimentarem o meu narcisismo, mas sim, um sentimento de bem-estar - muito carinho e amizade) todavia, reconheço que Portugal tem muito vilão que tudo anula e espezinha.


Vem isto a propósito de tão belos quadros que aconteceram no PREC. É um acto de malvadez quererem tudo calar, e reescreverem sob uma forma fascizante e indigna, a tanta coisa bela e muito nobre que aconteceu naquele tempo, sobretudo na alegria de viver e sentir-se gente.


Vou contar-vos umas pequenas histórias do PREC, muito embora, à direita e indignamente à esquerda, tenham esquecido. Mas a verdade é que nas localidades, onde, o MFA se erguia com o Sol e regressava a quartéis ou à cama, já a lua ia muito alta, as equipas de dinamização externa eram verdadeiros julgados de Paz.


Iam mulheres queixaram-se de assédio, mas por vezes o assediado era ele e não ela. Queixavam-se de salários em atraso, e como reconhece o António Gervásio do PCP, pagaram-se todos os salários em divida. Depois conto-vos. Agora, somente garanto é que a ninguém se apontou uma arma. Falou-se e negociou-se durante muitas e muitas horas - ECA, em Alvalade do Sado, minas de pirite, Cooperativa Agrícola do Vale do Sorraia, Associação de Regantes, que tinha à frente o filho do antigo Ministro do Interior, Eng. Rapazote, pessoa, naturalmente "amada" em Coruche.


Mas hoje, quero falar-vos de quanto fiquei surpreendido, e sem saber o que fazer, quando num dado dia, em 74/75, um homem de 70 anos, de Coruche, se apresenta no quartel de Vendas Novas, chorando o desaparecimento do seu cão.


Não sabia o que fazer, nem como o confortar, preparei-o para aceitar a quase perda irreversível do seu amigo e companhia. Comunguei com ele aquela dor que fez deslocar um homem de Coruche a Vendas Novas, o que, na altura era muito, muito, longe ( eu que o diga, em que uma ou outra vez, já com os condutores ensonados, os jeep's não fizeram dadas curvas. Salvou-nos a incúria dos que deixavam o silvado crescer à altura de verdadeiras torres e mares de silvado - velaram, sem quererem, pelas nossas vidas-Bem-hajam !).


Não podendo fazer mais nada por aquele homem, compreendi e vivi, no entanto, a dimensão do seu amor pelo cão e a dor do seu luto, e disse-lhe que faria, sem ter grande esperança no sucesso, um pedido à GNR de Coruche, para que visse o que poderia fazer.


Fiz o pedido e desconheço o resultado, mas nunca esqueci esta grande lição de amor de um velho pelo seu cão, e, de quanto, um animal pode quebrar uma solidão, e também de quanto toda a gente pensava que o MFA poderia resolver tudo, mesmo tudo, e, daí, as muito poucas horas de sono que tínhamos, e alguns riscos que corremos, porque trabalhávamos sempre no limite.


Mas também ao MFA recorriam os Latifundiários, assim, aconteceu com o Sr. Veiga Teixeira de Coruche que recorreu ao Grupo de Dinamização Externa da Escola Prática de Artilharia, para resolver um seu diferendo com outro latifundário, o Sr. Infante da Câmara.


Empenhei-me pessoalmente nesta questão, com a mesma disponibilidade que ofereci ao caso do velho e do cão. O assunto correu a contento do sr. Veiga que ofereceu à secção uma linda e grande caixa de pêssegos, que desfrutamos e saboreamos sem nenhum complexo de culpa, ou de esquerda.


Éramos assim, humanos, ao serviço da justiça e nunca contra as pessoas, como o disse, no teatro de Montemor-o-Novo, quando nesse sentido fui interpelado por um dos filhos do sr.Vacas de Carvalho que ia às sessões do MFA, e fazia perguntas obtusas, a que sempre respondi sem nenhuma ameaça ou hipocrisia.


Éramos assim, porque, então, calam estas histórias? ...


Coisas!....


andrade da silva
PS: Amando Portugal considero deplorável, uma sem vergonha total, o que o Sr. Passos Coelho fez em Espanha. Por muito menos num Congresso Internacional de Psicologia em Espanha, na presença do meu colega António Rodrigues e do Prof. Danilo Silva insurgi-me, de um modo muito, muito duro, contra uma colega psicóloga que apresentou um trabalho vergonhoso, sem nível, desculpando-se com a falta de apoio da Instituição portuguesa, onde, fez a investigação.
Em termos metodológicos o trabalho foi arrasado e, bem, pelo prof. Danilo, em termos de decoro, por mim, do que não me arrependo. Esta gente fora de casa deve ter algum juizinho. Bolas!...

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