segunda-feira, 12 de julho de 2010

PORTUGAL PRECONCEITUOSO?

Deparamo


Deparamo-nos com tristes realidades nacionais…


Houve alguém na História (julgo que todos conhecerão este facto) que disse que “aquele povo lá para os lados da Lusitânia” (ou seja, Portugal) “é um povo que não se governa nem se deixa ser governado!”. Este relembrar da História foi só para recordar um facto vivido há mais de 30 anos, bem como outros factos (como o de 1640, o de 1910, entre tantos outros): Portugal, desde que despertado (e é contra isso que vemos o combate das forças políticas maioritárias – e deixemo-nos de rodeios, dá para compreender que me refiro ao PS, ao PSD/PPD e ao CDS-PP – que são partidos, pelo menos actualmente, populistas… enganam o povo com a abstenção em matérias de enorme relevo nacional, fazendo crer que não apoiam as matérias que prejudicam o povo; e são os únicos partidos que já formaram governo por sufrágio universal desde há mais de 30 anos), sabe distinguir quem o apoia e quem poderá fazer algo de bom para o país – e isso ficou ainda mais claro na Revolução de Abril. Concordo plenamente, esses partidos a que aludi são, actualmente, os merecedores do comentário “os políticos são todos iguais”. E que fazer contra isso?


Infelizmente o resultado está à vista… cite-se, pela sua importância a nível nacional, o caso das eleições legislativas de 2009: 40,32% de abstenção (ou seja: 3.838.663 abstenções). Pergunto: sabem o que significa a abstenção?


A abstenção é o acto de não ir votar (isto é óbvio). Nalguns países, isso daria o direito a uma coima… por cá ainda não é assim (mas o direito pessoal e dever cívico de votar ainda existe, tal como consagram o número 1 do artigo 10º e o artigo 49º da Constituição da República Portuguesa). A abstenção traduz-se no conformismo: o acto de um cidadão eleitor se abster traduz-se na aceitação de quem for eleito pelos outros, perdendo assim a legitimidade (não o direito!) de protestar contra quem foi eleito. E eu pergunto o seguinte, face ao que expus: será que é esta a intenção dos abstencionistas? Repare-se bem que eu nunca disse que era um sinónimo de protesto (porque não o é!), mas sim um sinónimo de concordância com a escolha dos outros, e da perda da legitimidade em protestar contra aquilo que os eleitos pelos outros fizerem.


Na realidade, o único protesto, mas que não é totalmente são na minha modesta opinião, seria o voto em branco. Eu digo que não é totalmente são por um único motivo: poderia dar mau resultado. Todos devem recordar a posição de José Saramago sobre o voto em branco (basta ler-se os ensaios – “Ensaio Sobre a Lucidez” e “Ensaio Sobre a Cegueira”), e cheguei a apoiar durante alguns anos porque não haveria ninguém que eu, caso pudesse então ser eleitor (ainda era menor – entre os 12 e os 14 anos), apoiasse para que nos governasse. E se hoje verificasse que continuaria a não existir ninguém, iria continuar a apoiar o voto em branco – mas já verifiquei há uns anos que há quem seja, ou possa ser digno de ser eleito, e que nunca o foi até hoje.


Aqueles que se encontram ao serviço do Estado, estando este, presentemente, ao serviço dos grandes mercados internacionais e da banca, não querem que as vozes da razão sejam ouvidas – e daí depararmo-nos com um enorme silêncio nos meios de comunicação social no que se refere aos partidos que não apoiem o capital (além de pouco ouvirmos falar dos partidos mais pequenos que nem se encontram com assento na Assembleia da República). Há que reflectir um pouco antes de votar: se durante mais de 30 anos ficámos descontentes com os governos, e se esses governos foram todos, sem excepção, do PS e do PSD/PPD – este último com ou sem CDS-PP – então devemos dar uma oportunidade para que os restantes mostrem o seu valor. Infelizmente, como disse na minha primeira publicação neste blogue (“Portugal está a afundar-se!” de 7 de Julho), existe um vasto mundo de preconceitos por parte de muitos eleitores… e citando Albert Einstein, “é mais fácil destruir um átomo que um preconceito”.


Mas acho piada a este preconceito… muito sinceramente devo dizer que acho piada, pois nas lutas prosseguidas pelos trabalhadores e reformados (citem-se as mais recentes da CGTP-IN – dos dias 29 de Maio e 8 de Julho) já afastam os preconceitos para protestarem – o que é o comportamento adequado para a construção de uma alternativa. Para mais que, teoricamente, os sindicatos são apartidários (na prática não é bem assim). Só no acto eleitoral é que têm medo… não têm medo de, nem preconceitos em, apoiar o seu sindicato ou intersindical (mostrando a cara) e, indirectamente, um dos lados políticos (esquerda vs direita), mas têm medo de, e preconceitos em, colocar (sem mostrarem a cara, como se sabe) uma cruz em determinados quadrados da folha de papel… não questiono, contudo, a liberdade de escolha dos eleitores – respeito as decisões tomadas (como escreveu Ary dos Santos, “o povo de Portugal deu o poder a quem quis. Mesmo que tenha passado às vezes por mãos estranhas, o poder que ali foi dado saiu das nossas entranhas”); questiono apenas a lógica deste preconceito, pois é um pouco confuso.


As sondagens também contribuem para este facto: por exemplo, ainda tão longe das eleições presidenciais, e sem que todos os candidatos eleitorais estejam discriminados, já se fazem juízos. E isto vem afectar, nem que seja apenas no subconsciente, a decisão dos eleitores. Muitos pensarão que “não vale a pena, não é um único voto que fará a diferença”. Mas sem querer, um voto de cada um dos 3.838.663 abstencionistas faria toda a diferença.


E termino com as mesmas palavras que utilizei na conclusão do meu primeiro, e sincero, contributo a este blogue: enquanto é tempo, é urgente fazermos a diferença. E esta só pode ser feita sem quaisquer preconceitos e eleitoralmente.


Fernando Barbosa Ribeiro

6 comentários:

andrade da silva disse...

Caro Fernando

A questão da abstenção é para mim um problema crucial da nossa democracia, mas infelizmente não o é para os partidos do arco do poder e para a maioria dos jornalistas e comentadores políticos que de um modo desavergonhado dizem que quem conta é quem vota, ora sem se mobilizarem estes votos Portugal não sairá do stato-quo ou seja 60% dos votos a distribuem-se pelo PS e PSD e 9%/10% por cada um dos partidos PCP, BE E CDS, e os restantes pelos outros partidos sem representação parlamentar, sendo que os votos do CDS são muito apetecidos pelo PS e PSD, logo a saída eleitoral à esquerda é demonstrar á esquerda socialista que está a votar direita, e aos que se abstêm que nem toda gente da politica é corrupta.

Logo nemmtudo é preconceito, mas é muita falta de exemplo de comportamento ético à esquerda, falta de estudos sociológicos à abstenção, falta de clarificação de muitos assuntos internacionais, na área do PCP, fazer o que António Murteira refere, novas propostas e um discurso voltado para o s que se abstém, e não só para os militantes e simpatizantes. Como as coisas correm estamos num impasse social e politico que dá para resistir, até quando der, mas com toda a dificuldade para mudar – claro que tudo é mudança, obviamente, mas o sentido desta pode ser mudar para a direita, que é o que eleitoralmente se vislumbra.

A falta de uma comunicação social pluralista dificulta tudo, mas também é verdade que essa matéria parece não ser uma preocupação fundamental da esquerda, o que é paradoxal. É preciso um grande esforço para conquistar os abstencionistas ou então vamos viver por muitos e bons anos no impasse do centrão e no já podre rotativismo sem alternativas. Esta é a minha visão global deste assunto de que tenho vindo a falar e voltaremos as assunto.
abraço
joão

Fernando Barbosa Ribeiro disse...

Caro Andrade da Silva,

Concordo plenamente, e já tenho vindo a debater com alguns amigos que o PCP deverá alterar o seu discurso no sentido de não se dirigir somente aos seus militantes e simpatizantes - aliás, esse debate já é um pouco antigo, e enquanto não vir alterações não desistirei. E é urgente, tal como disseste, que se demonstre que muitos de ideologia de esquerda socialista estão a votar à direita erradamente (e sem se aperceberem disso), bem como o facto de nem todos os políticos serem corruptos. É urgente desmistificar esses factos! E daí que coloque a questão do preconceito e não só.

A esquerda preocupa-se com o facto de a comunicação social a discriminar, tanto que está a circular uma petição do PCP a exigir a não discriminação deste nos media. Inclusive foi divulgado entre vários meios, um dos quais o Jornal Avante!, a existência desta petição (veja-se neste link: http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N1768 ). E é uma das principais preocupações do PCP, sendo que não é fácil combatê-la...

Fraterno abraço,
Fernando

andrade da silva disse...

caro Fernando

Concordamos.

Não sabia da petição, vou subscrevê-la é um factor crucial. grande abraço
joão

Marília Gonçalves disse...

Somos água
Somos vento
Cintilante movimento
A colorir cada passo
Lançamos o pensamento
A escalar montanhas de aço
Vamos pela rota da vida
Amigo Fernando

Como esperança conseguida
A subir cada degrau
Se caímos na subida
Perdendo o norte e o vau
Fazemos de cada esforço
O abraço vigoroso
Elo pró dia futuro
E amandamos frementes
Os nossos olhos virentes
Contra a fronteira do escuro

Marília Gonçalves

Fernando Barbosa Ribeiro disse...

Amiga Marília

"Fazemos de cada esforço
O abraço vigoroso
Elo pró dia futuro
E amandamos frementes
Os nossos olhos virentes
Contra a fronteira do escuro"

Vejamos se conseguimos romper a escuridão... com uma luz de vela a tentar alumiar o caminho - uma luz fraquinha, mas que ajuda muito no meio da escuridão.
Belíssimo poema - artista nata, suponho! (neste caso, mais poetisa)

Muitíssimo obrigado. Um enorme e fraterno abraço!
Fernando

Devir disse...

Bom contributo, caro Fernando! E obrigado por me ( nos ) informares da petição. Tinha obrigação de saber, pois compro ( e leio ) 52 "Avante!"s por ano, mas, não devo ter reparado...
Abraço,
Luís Almeida