sábado, 7 de agosto de 2010

nem a sombra me segura




Afastei-me da muralha

onde a pedra cicatriza

a minha memória ausente

sei de árvores que partilham

o meu esquecimento verde

a afundar o azul, do oceano que as perde.



Mas sei o hoje preciso!

como laço, como elo

atravessa tempo, espaço

na solidão do apelo

ainda por desvendar.

A clareira aberta a custo

na intempérie dos dias

entre plátanos aéreos

e a sombra da maresia,

vem tornar a trepadeira

inútil na aparência

quando o horizonte alinha

o nosso olhar em paciência.



Fui andando no caminho

na ardência dos meus passos

sem saber até que dia

de encontros, futuros laços

teria que prosseguir.



Caiu-me o dia nos braços

com o sol a querer surgir.



Nenhuma pedra me prende

nem a sombra me segura

enquanto houver tanto verde

no fundo da água escura.



Marília Gonçalves

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