sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ENSAIO DA CEGUEIRA SOBRE O QUOTIDIANO.





" Em nome dos que sofrem, estão sem saída, e morrem, ou são feridos, ou presos, numa luta desesperada, sem liderança"






Sem nenhum traço orgânico vivemos cada vez mais sob um manto de cegueira sobre a realidade cruel que nos rodeia, próxima e longinquamente. Muito do que se passa em nosso redor quanto à exclusão social, que oficialmente em Portugal abrange 18% da população ( cerca de 2 milhões de pessoas, numa comunidade de 10 milhões), não vemos.

São cerca de 25 estádios do benfica, cheios, pelas costuras, dispersos por um território relativamente exíguo, e, ninguém os vê. Não existem. Tanto pior será, quando estes miseráveis estão longe, como é o caso de Moçambique, em que podem atingir uma cifra de 30%, em cerca de 20 milhões de pessoas, ou seja, 6 milhões de seres humanos, um equivalente a cerca de 60% da população portuguesa.

Quer em Portugal, quer em Moçambique ou Angola, a grande desgraça social não está politicamente enquadrada, por razões muito estranhas e não inteligíveis, mas onde o preconceito ideológico deve ocupar um lugar cimeiro.

Em boa verdade, estes perdidos nunca são achados, ninguém os reivindica. Não têm nenhuma áurea mítica, aparecem aos olhos de todos como derrotados, individualmente derrotados ( é difícil de ouvir, mas no fundo, no fundo, é o que acontece mesmo com as almas mais cristãs que se dedicam à caridade, nas demais pessoas, a coisa ainda é pior, mas é urgente descer à análise mais profunda da consciência, para se salvar a humanidade - é cruel, mas alguém deve ter a coragem de dizer dadas verdades, sem querer provocar ninguém, mas sim: LIBERTAR- ) e também, porque estes desgraçados, eles próprios, se puseram, ou foram empurrados para fora da vivência da cidadania, ficando, assim à mercê de aventureiros que os conduzem para actos limites, onde, inutilmente são sacrificados: mortos, feridos e presos, pelas autoridades ditatoriais ou semi-.democráticas, responsáveis por terem, através de processos de incompetentes a indignos da gestão, governação, dos países, criado as condições de contexto, para a emergência destas revoltas.

Depois de conhecer a injustiça do colonialismo fui um defensor sem reservas da Independência daquelas terras, para que houvesse paz e desenvolvimento. Infelizmente nada disto aconteceu, e, assim, sou hoje um critico sem reservas contra a injustiça social, a corrupção e a falta de liberdade que são marca-de-água da governação daqueles países, onde, a miséria é grave.

No caso de moçambique o ordenado mínimo é de 34€ mensais, com a agravante de que a moeda local sofre uma desvalorização deslizante que agrava cada vez mais a vida de um número significativo de moçambicanos. Neste quadro o aumento dos produtos essenciais tem consequências graves no agravamento da miséria e dos modos de vida dos pobres.

Tudo isto é de uma gravidade extrema. O preço dos produtos essenciais em relação aos vencimentos é elevado, e mais grave ainda, quando um saco de arroz que custava 500 meticais ( 10€) passou para 650 (13€),em dois meses, sendo o salário mínimo de 34€. Só uma cegueira sobre o real não permite ver a injustiça e a ignomínia destes quotidianos.

Mas serão estas realidades os consequentes sintomas da pobreza destes países, isto é, a miséria do país é a regra e abrange equitativamente todos? Obviamente que não.

Sob o rótulo da competência e do desenvolvimento em Angola e também em Moçambique pagam-se generalizadamente salários de luxo aos emigrantes, ( sempre superiores a 1000 euros, mas com um média por volta dos 3 mil €).

Emigrantes, hoje, maioritariamente assalariados , o que cria um foco de tensão entre os naturais e estes emigrantes. Como sintoma agravante, estes novos emigrantes, de um modo geral, têm sentimentos racistas, criticam a governação daqueles países não pela sua injustiça social, mas por não terem policias com a devida dignidade. Confessam muitos deles que nas barragens policiais, nas alfandegas etc têm de deixar uns euros, para não serem incomodados, e, deste modo, tão ignóbil, eventualmente, esta gente armada lá vai mantendo estes governos, em troca da plena impunidade que gozam para fazerem todo o tipo de ilegalidades.

Vemos muitos cegos a falarem de prosperidade em Angola e Moçambique , o que, é verdade para as elites do poder, empresariais, militares e outros que dominam os negócios do petróleo, o do imobiliário etc, mas, paralelamente, uma imensa população está fora deste processo, e está condenada a manter-se na sua periferia, circunstância anunciadora de tragédia.

Infelizmente perante a cegueira universal estes milhões de pessoas, para já, não têm qualquer saída. Só sabem revoltar-se embora com toda a justiça, mas sem qualquer liderança, e deixando-se arrastar para actos de desespero. Estão IRREMEDIAVELMENTE CONDENADOS, até à emergência de partidos e lideres que enquadrem este justo desespero, e os guiem para saídas politicas nacionais, humanas, justas e honestas. Até lá ocorrerá o sacrifício lento desta gente, com as acções de desespero a serem esmagadas pela metralha e por forças policiais IMORAIS.

O melhor, e talvez o máximo, que possamos fazer é recusarmos ser voluntariamente cegos.

Que os POVOS do Mundo encontrem os melhores, mais justos e sábios líderes.

andrade da silva



NOTA
JULGAMENTO DA CASA PIA
Acaba de terminar o julgamento da Casa PIA, sei que muitos crianças da casa Pia foram vitimas, se são estes os criminosos, ou se são só estes, fico com todas as dúvidas.
" MAS COMO FOI ISTO POSSÍVEL NA CASA PIA ?" Mas muito pior, como é ainda possível que tanta coisa aconteça contra as nossas crianças nas instituições e em casa dos seus pais. O que tem de fazer toda a sociedade e o Estado, para protegerem as suas crianças: as abusadas sexualmente, as vitimadas pela violência dos pais e dos colegas.
Portugal não pode esquecer as crianças mortas pelos pais e outros, e os que se suicidam por causa de experiências de vitimização?
É importante que por causa do nojo associado a dados crimes, não se esqueçam outros, também excepcionalmente graves.

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