BILHETE
João meu filho.
Como sempre soubestes, desde o teu primeiro bilhete que escrevestes em francês (eras muito jovem ainda, fizeste-o no pré-escolar) o mais importante para uma mãe e um pai é serem reconhecidos pelo(s) seu(s) filho(s), e, ainda, amarem e verem que o seu filho nasceu, cresceu e fez-se, em liberdade e responsabilidade, um jovem adulto, bom, e, tudo isto, acontece contigo, portanto, que mais quer a tua mãe, pai e avós, para serem intrinsecamente felizes, e dizerem valeu a pena ter nascido, e um dia morrer?
Nada. Tu és o tudo e todo que uma mãe e um pai sempre sonharam, e quiseram dar ao Mundo, como cidadão e homem.
Julgo que a tua avó também viveu neste ambiente, e, por isso, foi feliz, de acordo com as suas circunstâncias, que foram muito complexas e difíceis. Nada para ela foi fácil, como para nós.
Sê Feliz filho, tu, que conhecestes e conheces a liberdade e o amor a ti próprio, aos outros e às causas superiores.
Beijo
Teu pai
joão
4 comentários:
No momento doloroso que vive com suas irmãs, aqui fica poema meu sobre o amor fraterno e seu valor face à Vida e às adversidades
com o abraço sempre de Abril
Marília
Há flores de lótus
nos longínquos olhos
profundos lagos
abertos para a luz
onde a vida reflecte
por instantes
pensar que nos traduz.
Irmãos além da seiva
alem do sémen
mais longe que a distancia
é a fusão
da memória dos dias da infância
meu irmão.
Dias passados escrevem-nos a história
que há-de contar-nos para além do fim
imagens que pertencem à memória
não só de ti nem de mim!
Mas a todos aqueles que moldaram
uma estrela polar na nossa mão
em nossos peitos pra sempre
semearam
continuação!...
Aqueles que partindo, em nós ficaram
meu irmão.
Marília Gonçalves
Amor de Mãe
uma filha, um filho, iguais no amor materno,apesar de suas magnificas diferenças que tornam cada filho um ser único
Marília
Veio bater à minha porta
o perfume da baunilha
ou de flor que nunca vi
mas oh espanto oh maravilha
lembra a voz de minha filha
quando me diz, estou aqui.
Todo o ar se reveste
de aroma doce silvestre
meu sabor a juventude
a relembrar quatro berços
quatro céus quatro universos
minha lira ou alaúde.
O perfume de baunilha
envolve como mantilha
o ar brando o céu azul
sol intenso que em mim brilha
o que espero que não mude
os passos de minha filha
doirando-me a estrada rude.
A acácia o malmequer
o lírio ou a açucena
minha vida de mulher
numa mãozinha pequena
em minhas mãos a crescer.
Marília Gonçalves
–à memória de meu pai-
Último Abismo
Que voz é esta que o silêncio habita
que nos sufoca, nos prende a vontade
que vozes soam na nossa alma aflita
entre o segundo e a eternidade?
À beira do abismo impenetrável
quando se cala o brilho dum olhar
cambaleantes sobre o insondável
nós olhamos, olhamos, sem conseguir pensar.
Em nosso semblante a transparência finda
a cor da parca imunda penetra-nos a face
ou é o silêncio que nos habita ainda...
E nenhum grito há que nos liberte
nem palavras nem prantos nem sorrisos
ante a verdade gélida e inerte.
Marília Gonçalves (in à Procura do Traço)
Marilia
Lindo
grande antologia disponibiliza a mim seu amigo e leitor e a todos os leitores.
Abraço
asilva
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