quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sentir e Ser


BILHETE

João meu filho.

Como sempre soubestes, desde o teu primeiro bilhete que escrevestes em francês (eras muito jovem ainda, fizeste-o no pré-escolar) o mais importante para uma mãe e um pai é serem reconhecidos pelo(s) seu(s) filho(s), e, ainda, amarem e verem que o seu filho nasceu, cresceu e fez-se, em liberdade e responsabilidade, um jovem adulto, bom, e, tudo isto, acontece contigo, portanto, que mais quer a tua mãe, pai e avós, para serem intrinsecamente felizes, e dizerem valeu a pena ter nascido, e um dia morrer?

Nada. Tu és o tudo e todo que uma mãe e um pai sempre sonharam, e quiseram dar ao Mundo, como cidadão e homem.

Julgo que a tua avó também viveu neste ambiente, e, por isso, foi feliz, de acordo com as suas circunstâncias, que foram muito complexas e difíceis. Nada para ela foi fácil, como para nós.

Sê Feliz filho, tu, que conhecestes e conheces a liberdade e o amor a ti próprio, aos outros e às causas superiores.

Beijo

Teu pai

joão

4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

No momento doloroso que vive com suas irmãs, aqui fica poema meu sobre o amor fraterno e seu valor face à Vida e às adversidades
com o abraço sempre de Abril
Marília



Há flores de lótus

nos longínquos olhos

profundos lagos

abertos para a luz

onde a vida reflecte

por instantes

pensar que nos traduz.



Irmãos além da seiva

alem do sémen

mais longe que a distancia

é a fusão

da memória dos dias da infância

meu irmão.



Dias passados escrevem-nos a história

que há-de contar-nos para além do fim

imagens que pertencem à memória

não só de ti nem de mim!



Mas a todos aqueles que moldaram

uma estrela polar na nossa mão

em nossos peitos pra sempre

semearam

continuação!...



Aqueles que partindo, em nós ficaram

meu irmão.


Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Amor de Mãe

uma filha, um filho, iguais no amor materno,apesar de suas magnificas diferenças que tornam cada filho um ser único
Marília


Veio bater à minha porta

o perfume da baunilha

ou de flor que nunca vi

mas oh espanto oh maravilha

lembra a voz de minha filha

quando me diz, estou aqui.



Todo o ar se reveste

de aroma doce silvestre

meu sabor a juventude

a relembrar quatro berços

quatro céus quatro universos

minha lira ou alaúde.



O perfume de baunilha

envolve como mantilha

o ar brando o céu azul

sol intenso que em mim brilha

o que espero que não mude

os passos de minha filha

doirando-me a estrada rude.



A acácia o malmequer

o lírio ou a açucena

minha vida de mulher

numa mãozinha pequena

em minhas mãos a crescer.


Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

–à memória de meu pai-

Último Abismo

Que voz é esta que o silêncio habita

que nos sufoca, nos prende a vontade

que vozes soam na nossa alma aflita

entre o segundo e a eternidade?



À beira do abismo impenetrável

quando se cala o brilho dum olhar

cambaleantes sobre o insondável

nós olhamos, olhamos, sem conseguir pensar.



Em nosso semblante a transparência finda

a cor da parca imunda penetra-nos a face

ou é o silêncio que nos habita ainda...



E nenhum grito há que nos liberte

nem palavras nem prantos nem sorrisos

ante a verdade gélida e inerte.

Marília Gonçalves (in à Procura do Traço)

andrade da silva disse...

Marilia
Lindo

grande antologia disponibiliza a mim seu amigo e leitor e a todos os leitores.

Abraço
asilva