domingo, 19 de dezembro de 2010




Nauta

Navega o meu corpo em tuas mãos
é fome, sede, desejo, claro dia
searas ou pomares ou rios de prata
na luz que por seres tu de ti nascia.
Meu corpo foi veleiro d’entre espuma
a correr para a seiva a alagar
a ausência de ser coisa nenhuma.
Em tuas mãos morria devagar.

Navega o estranho mar em cujo brilho
eu semeei o sonho de inventar
o bojo que é o ventre onde teu filho
é fruto de além tempo e aquém-mar.
Chamo por ti na voz do meu silêncio
paraste rente ao cais no mar de bruma
mas os teus olhos vão brilhando mais
estrelas na noite acesas uma a uma.

Navego e o tempo não é meu
se ando à tua procura é minha fome
onde a arder meus sentidos acendem
as letras que escrevem o teu nome.


Marília Gonçalves

1 comentário:

andrade da silva disse...

Marília
Soberbo. Lindo. Para mim uma peça com a substância da coisa prima.
asilva