quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Quem Doem as Verdades? Marília





O PRIMEIRO QUARTEL DO 25 ABRIL 74, É ESQUECIDO, PORQUÊ?


Sim, de facto a Escola Prática de Artilharia, sedeada em Vendas Novas, foi a 1ª a entrar em acção, às 22h 55', EXACTAMENTE, de 24 de Abril 74.
  À 1ª senha:" E depois do Adeus, canta Paulo de Carvalho, são 22h e 55'...”, como impulsionados por um poderosa mola da vontade e da motivação transcendente, a equipa de que era o chefe - depois de ter feito uma mudança dramática, para substituir um camarada faltoso na hora da chamada - avançou pela noite dentro e assaltou o gabinete do Comandante, para o deter. Preparava-se a cerimónia de recepção, para o dia seguinte, 25 de Abril 74, ao então ministro do Exército, general Andrade e Silva, que ia visitar a Escola Prática de Artilharia, para nos prometer melhores vencimentos, o que, prova que não era por questões corporativas que lutávamos. Era, já, por Portugal, os portugueses e a liberdade que íamos fazer o 25 de Abril.

Sim,  foram  os tenentes Henrique Pedro, Sales Grade e eu, os  1º a tomarem uma unidade por e para Abril, mas os príncipes, os cardeais gordos e  os vaidosos de sempre, nunca disseram nada sobre isto, nunca honraram estes jovens, e, pelo contrário, sempre os calaram. Porquê?
 Só que, se a Escola Prática de Artilharia tivesse falhado, porque foi a 1º a agir, seria muito difícil à senha da Grândola Vila Morena ter tido o sucesso que teve. Coisas… que as várias desonestidades, gostam de calar, percebe-se…

Ou lá diz a Bíblia, os primeiros, serão os últimos, e contra maldições bíblicas as almas humildes podem nada. MALDIÇÃO!
Quantas verdades, foram e são  escondidas, escamoteadas por todos os cardeais e príncipes, para que eles pudessem e possam  brilhar aos olhos do povo, plebeu, tantas vezes enganado pela  propaganda e a publicidade politicas, que de facto  mistificam e transformam desde ratos mikey, adversários e carrascos em  heróis genuínos?
 Mas como a história revela nada disto é diferente do que já acontecia nas masmorras da inquisição, ou da PIDE, como muitos sabem e também calam.
Em todas as situações é preciso compreender as fragilidades humanas, compreendo-as, mas todos devem ser humildes.
 Estive preso com um meu camarada que na prisão teve um comportamento INDECOROSO, IMORAL de TOTAL FALTA DE CAMARADAGEM, mas logo que saiu da prisão, foi para o meio do povo falar de REVOLUÇÃO, e parece que tem feito carreira, quando devia cobrir a cara da lama da vergonha e no mínimo pedir desculpa pelo mal que fez na prisão aos seus companheiros.  Deveria reduzir-se à sua condição de homem fraco e com comportamentos imorais. Mas não, criou um blogue e há gente que sabendo isto ainda o lê.
 Compreendo e desculpo a fragilidade humana, que é a substância de quase todos, em cujo grupo me incluo. Todavia há quem das fraquezas, faça forças, são seres morais, e têm algo a dizer aos outros, enquanto, os demais devem calar-se para todo o sempre, afim de que o reino da podridão não seja mais tenebroso e Universal do que já é.

andrade da silva

PS:
É tão dramática a verdade deste tenebroso esquecimento que não encontrei no Google nenhuma imagem sobre a intervenção da Escola  Prática de Artilharia no 25 de Abril 74.


4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Apelo eu, aos Militares de Brio, que conhecedores da verdade a tragam a público!
D0-ME ESSE DIREITO A MINHA INFÂNCIA SACRIFICADA POR UM 25 DE ABRIL QUE NEM DATA TINHA, MAS NO QUAL SEMPRE OS QUE SOFRERAM ACREDITARAM!
pela menina que tão cedo tive que deixar de ser, peço que os que sabem, falem!
Ganharão com isso a auto-estima e a Honra de poder dizer-se ao serviço da verdade e de Portugal
Por esse Direito morreram e sofreram os meus, e por isso me transmitiram este credo intravável
de que o sol pode brotar nas trevas!
Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Marilia

Já propus que se fizesse um historial colectivo, mas nisso ninguém quer pegar.

É mais sumptuoso e faz melhor ao Ego fazer-se a história de Mikeys, e auto-denominados reis,principes e cardeias,por eles próprios.

Por sinal essas gentes são dos estados da nobreza e do clero, e nunca do republicano e plebeu povo.

abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

CANÇÃO DE ALANDROAR

(Poema dito em4 de Outubro de1986 na escadaria do castelo de Alandroal perante uma audiência de centenas de pessoas)


Aquela branca flor de alandroeiro
era a única luz do alandroal.
Nem a lua rompia o nevoeiro
nem o sol punha um riso matinal.

Ali reinava a treva o dia inteiro.
Ser de noite era um estado natural.
Não duravam as flores no canteiro
e apodrecia a água no canal.

O vento ameaçava, em tal berreiro
que tremia de medo o canavial.
Trovejava o relâmpago certeiro
zunindo como um látego infernal.

Tal o rancor, o ódio verdadeiro
a abater-se em torrente no local,
que até mesmo o impávido coveiro
pedia ajuda aos mortos do coval.

Mas o povo sorria, prazenteiro,
numa beatitude divinal.
Bailava e patinhava no lameiro
indiferente aos dentes do chacal.

Os homens riam com olhar rafeiro
e as crianças, em saltos de pardal,
vinham brincar com ossos no palheiro
e mascarar a dor de carnaval.

Foi quando rebentou a flor. Primeiro
era um botão, um tópico, um sinal.
Depois desabrochou e, logo, um cheiro
a espaço aberto dominou o vale.

Vieram as crianças a terreiro
entoando cantigas de natal.
Veio o pastor, o cavador, o oleiro,
o almocreve, a ceifeira, o maioral.

Uma flor branca abriu ao povo inteiro
o clarão de uma esperança universal.
Amainou a água turva do ribeiro,
deixou de ser agreste o matagal.

Estoiraram foguetes no outeiro,
repartiu-se irmãmente o pão e o sal.
Já se apertava o braço ao companheiro,
abriam-se olhos negros no olival.

Eis que, lá longe, surge um cavaleiro
galopando veloz, branco de cal,
num corcel negro a deslizar ligeiro
como núvem em pleno temporal.

Aproxima-se mais o viageiro
(esqueleto emergido do coval).
Traz na boca um sorriso traiçoeiro
e, a tiracolo, o ódio no bornal.

Desembaínha um arrepio. Ligeiro
esconde-se nas sombras de um portal.
Desfere um golpe. E a flor do alandroeiro
cai, desfeita de dor, no lodaçal.

Um grito de alma ecoa no terreiro.
Um pesadelo instala-se, brutal,
quando a flor branca rola no ribeiro
e parte, envolta num palor mortal.

No mesmo instante, a meio de um junqueiro,
brota uma flor de sangue, sem igual.
Desde esse dia de ódio derradeiro
nunca mais ninguém riu no alandroal.

Carlos Domingos

Marília Gonçalves disse...

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen