quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MORREU O PREGUIÇOSO.



“O meu grito de animal ferido contra o cinismo, a passividade, a imoralidade de tanta gente, e no mesmo grito a dor pelo meu irmão plebeu que morreu nas minas da Panasqueira. Uma perda total e irreversível para ele e para a sua família. Um abraço. Até sempre".



O Jovem dono de pastéis,


Negramente, diz:


trabalhador é sinónimo de preguiçoso.


Dezenas de monos,


Silenciosamente, assinam o vitupério.


A TV olhava-os, não fossem perder o decoro.


Cínicos, vis cínicos.


Eis o Portugal dos coiotes.


Eles matam e dizem como:


Metade dos pobres, dará conta da outra metade.





O Preguiçoso morreu,


Não se sabe como,


Nem donde é,


Se tem, ou não nome.


Sabe-se, isso, sim, que recebia dinheiro


De uma mina, da Panasqueira, chamada,


mas se tinha um trabalho, ou um emprego,


quem o saberá?


De certeza só o rapazinho dono de padarias,


Mas antes ir à boca da sanita interrogar ou vomitar,


Do que falar com esse ventre, desventrado, putrefacto.






Todavia o preguiçoso


Morreu, com uma pedra que o esmagou,


Quando na mina preguiçava.


O preguiçoso só queria direitos:


O maior, morrer na mina preguiçando.


Foi o seu fado,


Foi o seu destino.






Os preguiçosos morrem por acidentes nas empresas,


Feitas instâncias balneares.


Os diligentes patrões por cirrose alcoólica ou Sida,


Com os dinheiros tirados aos preguiçosos.


Mas, preguiçosos porque morreis?





andrade da silva

PS: não é um poema, é um grito de animal ferido, tão-somente.
     código da cor: sangue e dor.


Sem comentários: