segunda-feira, 4 de junho de 2012

A VISÃO DE UM CIDADÃO COMUM XVIX ( Silly Season?! )




Quando era menino e moço dizia-se que a Silly-Season (conceito anglo-saxónico que se refere ao período de férias dos políticos, tribunais, jornalistas, etc) começava na segunda quinzena de Julho e terminava no final de Agosto. Sempre associei este período às coisas boas da vida: sol, calor, praia, sardinhadas, mais tempo em família, frutos sumarentos e doces, férias...enfim tudo aquilo que não vamos poder disfrutar neste período estival que se avizinha.

Bem vistas as coisas, o próprio conceito de silly-season alterou-se, já não se trata de um espaço temporal em que nada de relevante acontece, nem mesmo um período moratório anual que servirá que carregar baterias para o ano seguinte. Actualmente classificaria como silly-season os dias que estamos a viver: escândalos financeiros e políticos que se arrastam pelos tribunais e pela Assembleia da República, amplamente esmiuçados nos meios de comunicação, mas sem consequências para os seus protagonistas; uma crise financeira e social, sem precedentes, à escala continental que todos fazemos por ignorar como se fosse possível resolver-se por si própria; a nível da União Europeia vive-se um período de tensão entre Estados comparável àquele que antecedeu a guerra mundial; uma taxa de desemprego (“coiso” para o Álvaro entenda ou “oportunidade” para ser assertivo à PPC) avassaladora que atinge os 20%.

Todos estes indícios que apontam uma crise sem precedentes, uma tempestade perfeita, continua a não afastar os portugueses da festa, do Rock in Rio com bilhetes a 60 euros, das festas populares ou das comezainas fora – «podemos entrar na miséria amanhã mas hoje é “vivemos” barriga cheia e com musica no ouvido!».

E assim vamos cantando e rindo, sem preocupação visível, porque uma grande parte dos Nossos concidadãos prefere manter as aparências invés de reclamar contra as carestias que (quase) todos sentem, porque a nossa sociedade á muito que trocou o ser pelo ter, mesmo que o ter seja à custa do endividamento.

Esconde-se a pobreza e as dificuldades porque se tem vergonha...vergonha de ter um automóvel mais económico e antigo que o vizinho, de não passar férias no estrangeiro ou num aldeamento turístico no litoral algarvio. Vergonha de admitir que as actividades extracurriculares e colégios dos filhos começam a pesar muito num orçamento familiar cada vez mais magro; vergonha de assumirem as crescentes dificuldades financeiras consequência das medidas de austeridade impostas pela Troika.... Decerto que muitos dos leitores pensarão que foi desta que perdi o juízo, outros porventura se lembrarão de amigos ou familiares que se enquadram neste quadro.

Ás duas únicas certezas que existem na vida, morte e impostos, pode-se agora acrescentar uma terceira: o pior ainda estará por chegar. A pouco mais de duas semanas das eleições legislativas gregas, a Europa e Portugal brincam ao faz de conta e embora algumas instituições já tenham começado a elaborar planos de contingência para a saída da Grécia da zona Euro, nada nos poderá preparar para o que aí vem...

Desengane-se quem pensa que a nossa permanência no euro está nas nossas mãos. Não será a fazer o papel de bom e dedicado aluno que nos salvará dos mercados antropofágicos na sua sofreguidão pelo lucro imediato. Somos demasiados pequenos para sermos salvos e certamente que o cenário da zona Euro ficará mais apelativo aos olhos dos investidores com Portugal e a Grécia retirados de uma equação com demasiadas variáveis e que se mostra de resolução impossível.

Os mercados traçarão as suas linhas de defesa do Euro em Espanha, cuja situação é tão ou mais complicada que a nossa mas, cuja saída do Euro levaria não só ao fim da moeda única como também à implosão da própria União Europeia e consequentemente dos seus lucros.

Todo este descalabro social e financeiro poderá, caso saibamos a aproveitar, constituir uma hipótese para refundar a nação económica e socialmente. Criando um plano estratégico para um desenvolvimento sustentado e ecologicamente responsável que vise maximizar as sinergias possíveis, assente numa agricultura e indústria modernas, com tecnologia de ponta e meios humanos tecnicamente bem formados, promovendo uma sociedade assente não no compadrio, tráfico de influência ou corrupção mas sim no mérito individual, dever-se-á promover uma cidadania activa, civismo e o humanismo.

Já não vamos a tempo de evitar o pior, mas ainda temos um pequeno período moratório para irmos preparando o dia + 1. Mas para que isso seja possível primeiro será necessário saímos deste lodaçal moral e politico em que vivemos e para o qual tenho alertado nestes últimos seis meses. O tempo urge e já peca por ser tarde...

Um abraço,
Nuno Melo

Publicado  na página do facebook da AOFA..

2 comentários:

Marília Gonçalves disse...

ah meu caro
como alterar este podre estado de coisas, com quem? com um milhar de pessoas activamente honestas? quando nas Sociedades a dor é exacerbada, são os povos que se levantam. Em Portugal não podemos sempre,esperar por Militares de um hipotético Abril! num contexto hoje inexistente.
A solução era o Despertar do Povo. Vamos ter, que inventar um Despertador gigante ou oferecer um galo a cada português, para ver se acordam, mas se acordam e se levantam contra a fome e o desespero. Está nas mãos do Povo! se o Povo decidir viver
abraço de um Abril que foi de todos, e era para todos se o não tivessem traído!
Agora é opor a memoria imaginativa, à realidade da História e olhar com olhos de ver!

que para isso servem os olhos, ou se é apenas para chorar, não vale a pena! não resolve nada!

Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

emocionou-e a referência que faz a lembranças de infância, esses tempos perfumados da ternura, que a vida nos vai tirando. Mas isso é inevitável, agora o importante é que essa alegria e esse direito fossem colectivos e que as crianças de hoje, pudessem, guardar nesse cofre de raro tesouro, o das recordações, memória da coisas quem embora simples, como o sumo e o perfume dos frutos estivais, e parece-me que por desgraça de quem sente, as crianças vão mais depressa guardar memoria das carências, que das coisas que nos ajudam, adultos a atravessar as dificuldades da vida.
E isto porque os adultos, preferem embalar-se em ilusões, nas mentiras que lhes impingem, do que erguer-se Heroicos, a Lutar pela vida e pelo direito à infância dos próprios filhos! O segredo está na Luta Coletiva e Organizada, por uma sociedade Honesta!
abraço
Marília