RIMANCE DO LUA NOVA
Rio Guadiana - O pulo do lobo
Lua Nova
era o meu nome
de
registo de campanha
quando
resistia à fome
lá para a
raia de Espanha.
*
Clandestino
até no lar,
nem à
mulher concedia
saber
qual o meu andar
ou ao
certo o que fazia.
*
Aos
trabalhos da lavoura
me
entregara de menino.
Outra
sorte melhor fora,
mas tive
esta por destino.
*
Neste
saber várias artes,
saltava
de galho em galho.
Em
qualquer de tantas partes,
tinha
agasalho e trabalho.
*
De
empreitada, ali ceifava;
mais
além, era a cortiça;
nos
tempos mortos, parava
e dava o
corpo à preguiça.
*
Sempre
com desembaraço,
a minha
jorna suava.
Nunca
neguei o meu braço
à tarefa
que acertava.
*
Ah, mas
num dia azarado,
e quem os
não tem na vida?,
fiquei
incapacitado
para a
minha dura lida.
*
Experto
entre tantas liças,
eu já
conhecera mundo…
Sabia até
que a cortiça
boia e
nunca vai ao fundo!...
*
Sob a
manta de maltês,
andava de
monte em monte;
rasgava,
de quando em vez,
as trevas
deste horizonte.
*
Passava a
salto o Guadiana,
entrava
em terras de Espanha…
A Guarda
Fiscal se dana
e grita:
ninguém o apanha?
*
Ia e
vinha, sempre a pé,
a noite
me protegia…
Cada
carga de café
boa
féria me rendia…
*
Lua Nova,
a minha alcunha,
deu
rimance popular.
Até eu
fui testemunha
de tanto
o ouvir cantar…
*
Lua Nova
é uma lenda,
o
Alentejo é um destino;
não há
aqui quem se renda,
às claras
ou clandestino.
*
Apanhá-lo
quem se atreve?
Quem
consegue tal façanha?
Em
Portugal é pé leve
e pé leve
é em Espanha!
*
Aquém ou
além Guadiana,
desmonta
qualquer ardil:
a Guarda
Fiscal engana,
engana a
Guardia Civil…
*
Entre
limpas e montados,
astuto
também engana
o ardis
sempre aprontados
p'la
Guarda Republicana.
*
Lua Nova,
morto ou vivo,
hoje é já
a lenda viva
que serve
de lenitivo
à
vida sempre cativa.
*
José-Augusto
de Carvalho
Lisboa,
26 de Novembro de 2012
2 comentários:
Caro José Augusto
O poema de muitas vidas,numa vida. Vida e vidas heróicas.Belo
abraço
asilva
Grande abraço de gratidão, meu prezado Andrade da Silva.
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